Morre o filósofo Ruy Fausto, aos 85 anos, um dos principais teóricos do marxismo

Professor emérito da USP e Doutor em Filosofia pela Sorbonne, ele teve um enfarto em Paris, na França.
Foto: Divulgação/USP
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Professor emérito da USP e Doutor em Filosofia pela Sorbonne, ele teve um enfarto em Paris, na França

RIO — Morreu nesta sexta-feira, 1, em Paris, o filósofo Ruy Fausto, aos 84 anos, vítima de um enfarto. A informação foi confirmada pela Companhia das Letras, editora de seu último livro, “Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução” (2017). Um dos principais teóricos do marxismo no Brasil, ele é irmão do historiador Boris Fausto.

Nascido em São Paulo, em 1935, Ruy Fausto formou-se em Filosofia em 1956, na USP. Após o golpe militar de 1964, ele fugiu para o Chile e depois para a Europa. Seguindo carreira universitária na França, fez doutorado em filosofia na Universidade Paris. Frequentou por alguns anos a Paris VIII, onde trabalhavam filósofos importantes como Gilles Deleuze, François Lyotard e François Chatêlet.

Em uma entrevista para a Revista da USP, em 2017, o pensador resumiu as suas preferências na vida acadêmica. “Meus interesses foram sempre dois: lógica e política”, definiu.

Apoiando-se nesses dois pilares, tornou-se um dos principais teóricos do marxismo no país. Sua obra mais conhecida é “Marx: Lógica e política”, que teve três volumes e é um clássico do pensamento político. Na série de ensaios, que começou a ser publicada em 1983, o filósofo investiga os fundamentos lógicos da crítica da economia política, e a prática derivada do marxismo.

– Ruy Fausto representa toda uma geração de intérpretes do Brasil – diz a historiadora Lilia Moritz Schwarcz. – Ele ficou muito conhecido como um pensador marxista, mas não creio que esse termo faz juz ao seu pensamento. Ruy usou seu conhecimento fundamental do marxismo e o usava com muita crítica para analisar os nossos impasses. Com isso, provocava a interlocução de pessoas dos mais diversos espectros políticos. Era um pensador de esquerda que não cabia numa caixinha, que não se acomodava na lógica de um partido ou de uma ideologia.

Entre a política e a filosofia, Fausto publicou livros que discutem os rumos da esquerda no país, como “A esquerda difícil: Em torno do paradigma e do destino das revoluções do século XX e alguns outros temas” (Perspectiva, 2007) e “Outro dia: Intervenções, entrevistas, outros tempos” (Perspectiva, 2009), entre outros.

Em 2017, ele lançou “Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução”, uma seleta de artigos em que analisa os erros e propõe um novo trajeto da esquerda no país. Na época, o filósofo disse que a esquerda no país “ia de mal a pior”. Em sua última entrevista para a revista ÉPOCA, em 2019, Ruy clamou pela criação de uma “frente ampla” que incluísse também o centro – e sem Lula como candidato.

– Precisaríamos pensar, desde já, numa frente de esquerda e para além da esquerda, se for possível – disse o filósofo. – Precisamos urgentemente de uma “geringonça” brasileira. Uma aliança de forças. Só ela poderia nos salvar.

Segundo Sergio Fausto, seu sobrinho, Ruy teve um infarto enquanto tocava piano. Apreciador de jazz, o filósofo costumava dizer que a música o havia salvado algumas vezes. “Sou meio músico amador, medíocre na chamada música “erudita” (que, entretanto aprecio), mas que se vira mais ou menos, na popular”, revelou ele em uma entrevista de 2017.

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