Bruno Boghossian: Palavras de Bolsonaro produzem agenda destrutiva, da segurança à vacinação

Sem força para mudar leis, presidente usa medidas alternativas e estímulos retóricos.
Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR

Sem força para mudar leis, presidente usa medidas alternativas e estímulos retóricos

Em campanha, Jair Bolsonaro queria “carta branca para policial matar”. Após chegar ao Planalto, prometeu “retaguarda jurídica” para blindar as forças de segurança em casos desse tipo. Agora, pelo segundo ano seguido, ele assinou um indulto feito sob medida para perdoar crimes não intencionais cometidos em serviço por esses agentes.

O governo não foi capaz de aprovar mudanças na lei para garantir uma proteção definitiva, mas Bolsonaro ainda consegue empurrar sua agenda de incentivo à violência policial. Com medidas alternativas e estímulos retóricos, o presidente avança na corrosão de políticas de segurança, da preservação ambiental, da democracia e da saúde pública.

Dias antes de editar o indulto, Bolsonaro ofereceu guarida a PMs num discurso para recém-formados, no Rio. “Numa fração de segundo, está em risco a sua vida, do cidadão de bem ou de um canalha defendido pela imprensa brasileira”, disse. O presidente sabe que a polícia do estado já mata e morre em níveis recordes.

Bolsonaro também dá respaldo à destruição ambiental, mesmo sem maioria para aprovar mudanças na legislação. O governo afrouxou a fiscalização e encorajou o desmatamento sob a chancela explícita do discurso oficial. A cada vez que o presidente nega a devastação, ele dá sinal verde para que ela continue.

Sem encostar na caneta, Bolsonaro também fabrica desconfianças sobre o sistema de votação brasileiro. Com base em falsas suspeitas, ele ganha seguidores em sua campanha para questionar o resultado das urnas em caso de derrota. “Se a gente não tiver voto impresso em 2022, pode esquecer a eleição”, declarou.

Um dos efeitos mais evidentes de sua retórica é a crescente inclinação dos brasileiros a não se vacinar contra a Covid-19 –percentual que saltou de 9% para 22% nos últimos meses. O aumento representa um contingente extra de 27 milhões de brasileiros não imunizados. Aqueles que nunca quiseram ver ameaças nas palavras de Bolsonaro poderiam ao menos enxergar os prejuízos.

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