Brasilianistas admitem surpresa com resultado das eleições e avaliam estratégias

Para James Naylor Green, professor da Universidade Brown e historiador político, as pesquisas da Datafolha e do IPEC estavam corretas sobre o peso do petista Luiz Inácio Lula da Silva
ames Green: "Se Lula ganhar, será muito difícil para ele governar" - (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)
ames Green: "Se Lula ganhar, será muito difícil para ele governar" - (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)

Rodrigo Craveiro | Correio Braziliense

O historiador político James Naylor Green, professor da Universidade Brown (em Rhode Island) e discípulo do brasilianista Thomas Skidmore, afirmou ao Correio que as pesquisas da Datafolha e do IPEC estavam corretas sobre o peso do petista Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele chegou à margem de erro de 48%. O surpreendente é que o presidente Jair Bolsonaro ganhou 8 pontos a mais do que se esperava. Existe um setor da população, que apoia Bolsonaro e não se revela; eles mentem para os pesquisadores quando fazem as entrevistas. As projeções talvez estejam equivocadas, pois não temos informações exatas sobre quantas pessoas ganham um ou dois salários mínimos. Isso pode distorcer os resultados”, explicou. 

Green crê que a eleição de ontem indica que o Brasil segue o caminho da polarização e da aliança de forças conservadoras neoliberais com os evangélicos e com a Igreja Católica. “Agora, eles estão muito fortes no Congresso. Se Lula ganhar as eleições, será muito difícil para ele governar”, avaliou. De acordo com o brasilianista, Lula tem capacidade de construir uma aliança com o MDB, de Simone Tebet. “O partido sempre tem a tendência de apoiar o lado vitorioso. Um setor do MDB o apoiava no Nordeste. No último debate da Globo, Tebet parecia ensaiar para ser ministra da Agricultura”, lembou.

Em relação a Ciro Gomes (PDT), Green contou que esperava um declínio de votos do candidato de 9 pontos percentuais para 4 pontos. “Ao finalizar a eleição com pouco mais de 3%, ele teve um rendimento muito fraco. Trata-se de uma derrota, e provavelmente Ciro nunca mais será candidato. Acho que o PDT apoiará Lula e o endossará, mas duvido que Ciro, pessoalmente, o faça”, disse. Para o estudioso, o ex-presidente petista precisará ganhar alianças, mobilizar os simpatizantes e tentar uma vitória no segundo turno, enquanto Bolsonaro intensificará os ataques contra Lula. “Será uma campanha pior do que a de 2018. A questão, depois, é saber se Bolsonaro adotará uma ação militar. Nesse momento, isso não é de interesse dele”, acrescentou Green. 

Turbulência

Presidente emérito do think tank Diálogo Interamericano (em Washington) e ex-professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Columbia, Peter Hakim disse ao Correio acreditar que Lula precisa estar preocupado. “Os apoiadores de Bolsonaro ficarão encantados com o resultado das eleições de hoje (ontem), enquanto os de Lula sentem desânimo. Os bolsonaristas desfilarão vitória. Os números do primeiro turno também levantam a questão sobre se uma vitória apertada de Lula fomentará um grupo de bolsonaristas altamente mobilizado, nervoso, e talvez violento, que poderia causar turbulência em caso de derrota em 30 de outubro”, alertou. 

Hakim admitiu ter ficado muito surpreso com a voz das urnas. “Esperava que Lula ganhasse por pelo menos 10 pontos percentuais. Vale observar que ele não ficou longe das previsões do IPEC e do Datafolha, mas Bolsonaro tirou entre 6% e 7% dos candidatos menores. Não posso explicar isso a não ser pensar que alguns eleitores simplesmente esconderam a preferência por Bolsonaro”, disse. 

Peter Hakim: "Eleitores esconderam a preferência por Bolsonaro"
Peter Hakim: “Eleitores esconderam a preferência por Bolsonaro”(foto: ArquivoPessoal)

Ainda segundo Hakim, Lula terá que mover rumo ao centro, além de indicar um economista respeitado para o Ministério da Fazenda. Ele aposta que Bolsonaro adotará uma abordagem binária para manter os simpatizantes mobilizados, enquanto buscará meios de mostrar aos mercados que ele persegue uma estratégia de crescimento sensível. “Bolsonaro, agora, se focará mais em ganhar a eleição do que em ameaçar frustrar uma vitória de Lula. É difícil prever o que os seus seguidores farão”, observou. “O Brasil será mais difícil de governar do que se pensava. O país está dividido e polarizado ao meio.”

Matéria orginalmente publicada no Correio Braziliense

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