Bernardo Mello Franco: Soldados de Bolsonaro

Jair Bolsonaro jurou que não se envolveria nas eleições municipais. Bastaram três dias de campanha para ver que essa promessa também ficará pelo caminho.
Foto: Carolina Antunes/PR
Foto: Carolina Antunes/PR

Jair Bolsonaro jurou que não se envolveria nas eleições municipais. Bastaram três dias de campanha para ver que essa promessa também ficará pelo caminho.

Embora não tenha conseguido criar seu próprio partido, o presidente já mergulhou nas duas disputas mais importantes do país. No Rio e em São Paulo, vai apoiar candidatos do Republicanos (ex-PRB), sigla do centrão ligada à Igreja Universal.

Na capital paulista, Celso Russomanno iniciou a campanha com uma visita a Bolsonaro no hospital. Ontem usou a primeira agenda de rua para prestar continência ao capitão. Disse que ele foi o único político a “estender a mão” aos pobres na pandemia.

Ao oficializar a chapa, o deputado já havia exaltado o trinômio “Deus, Pátria e Família”. O lema pertenceu ao integralismo e foi ressuscitado pelo bolsonarismo, neto bastardo do movimento de ultradireita dos anos 1930.

No Rio, Crivella já deixou claro que fará de tudo para colar na imagem de Bolsonaro. No fim de semana, ele divulgou uma fotomontagem ao lado do presidente. Ontem sua campanha lançou o slogan “Bolsocriva”.

O truque é uma imitação canhestra do “Bolsodoria”, usado por João Doria na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Em 2018, a fusão de sobrenomes funcionou. Agora ninguém atreve a convidar governador e presidente para o mesmo palanque.

Derrotar o PSDB de Doria é a obsessão de Bolsonaro em São Paulo. Por isso o presidente montou na sela de Russomanno, que ganhou fama de cavalo paraguaio em eleições paulistanas. Em 2012 e 2016, ele largou na frente e acabou fora do segundo turno. Agora conta com a ajuda do Planalto para se manter no páreo até o fim.

No comitê de Crivella, a aliança é vista como tábua de salvação. Mal avaliado pelos cariocas, o prefeito tentará nacionalizar a disputa e deslocar o debate para temas de comportamento.

Russomanno e Crivella estão longe de serem bolsonaristas de raiz. Os dois apoiaram Dilma Rousseff, e o bispo chegou a ser ministro da ex-presidente petista. O capitão sabe disso, mas precisa de soldados dispostos a defendê-lo.

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