Bernardo Mello Franco: Sinais de afrouxamento

Enquanto Mandetta balançava, o Ministério da Saúde afrouxou regras de isolamento. “Isso fará com que a curva de contágio se acelere”, alerta o professor Roberto Medronho.
Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

Enquanto Mandetta balançava, o Ministério da Saúde afrouxou regras de isolamento. “Isso fará com que a curva de contágio se acelere”, alerta o professor Roberto Medronho

Três semanas depois de registrar a primeira morte pelo coronavírus, o Brasil ultrapassou a marca das cem em um único dia. O recorde desta terça marca uma nova fase na epidemia. Daqui para a frente, o país deverá enfrentar uma forte escalada no número de vítimas da Covid-19.

“Ainda estamos no início da ascensão da curva epidêmica. Nos próximos dias, ela vai se acelerar de forma contundente”, prevê o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ. “Agora entramos numa subida contínua até o pico da epidemia. E depois a descida ainda será lenta”, adverte.

Para o professor, o pico dos casos ocorrerá entre a última semana de abril e a primeira semana de maio. “Na velocidade atual, essa escalada levará ao colapso do sistema de saúde”, avisa.

Ontem Medronho estava mais pessimista. O motivo era o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, que indicou um afrouxamento nas medidas de isolamento social. O documento saiu na segunda-feira, quando o ministro Luiz Henrique Mandetta chegou a arrumar as gavetas para deixar o cargo.

A linguagem usada no texto sugere um recuo negociado com o Planalto. Depois de resistir às pressões de Jair Bolsonaro pelo fim das restrições, a pasta passou a acenar com uma “transição para distanciamento social seletivo”.

“Vejo isso com muita apreensão. Na prática, parece um eufemismo para o tal isolamento vertical defendido pelo presidente”, critica o professor Medronho. “O afrouxamento das medidas fará com que a curva de contágio se acelere. Quem propunha isso mudou de ideia e hoje está na UTI”, afirma, referindo-se ao primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

O epidemiologista traça um cenário sombrio caso o Brasil baixe a guarda contra o vírus. “Tudo o que não queremos é ver caminhões do Exército levando corpos para outras cidades por falta de vaga nos cemitérios. Isso ocorreu na Lombardia, a região mais rica de um país de primeiro mundo”, lembra.

Para Medronho, é preciso escapar da falsa escolha entre a economia e a saúde. “Se não mantivermos o isolamento rígido, a crise vai se aprofundar mais adiante. A prioridade agora é salvar vidas”, afirma.

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