Bernardo Mello Franco: Novo documentário sobre 2016 ajuda a entender 2018

Estreia nesta semana o 3º documentário sobre o impeachment. A queda de Dilma já parece pré-história, mas o filme ajuda a entender como Bolsonaro se elegeu.

Estreia nesta semana o 3º documentário sobre o impeachment. A queda de Dilma já parece pré-história, mas o filme ajuda a entender como Bolsonaro se elegeu

Estreia na quinta-feira “Excelentíssimos”, o terceiro documentário sobre o impeachment de Dilma Rousseff. A derrubada da ex-presidente já parece pré-história, mas o filme mantém interesse pelo que viria a seguir. As cenas captadas em 2016 ajudam a entender o processo que desembocou na vitória de um candidato da direita radical em 2018.

O diretor Douglas Duarte chegou a Brasília com o objetivo de mostrar os bastidores do Congresso. A crise o convenceu a abandonar o roteiro original. O foco passou a ser a articulação para varrer o PT e a esquerda do poder.

Com a promessa de que o filme só seria exibido depois da votação, os deputados adotam uma sinceridade incomum em conversas gravadas. “Eu vou ser franco com você”, diz o emedebista Carlos Marun. “Fosse o que dissessem lá, eu votaria a favor do impeachment. Se dissessem lá que ela roubou um picolé, eu votaria”, admite.

No discurso oficial, a razão do processo de impeachment eram as pedaladas fiscais. Mais tarde, Marun seria recompensado com o cargo de ministro do governo Michel Temer.

Em outra sequência, o documentário acompanha uma reunião fechada em que líderes partidários contam votos para derrubar a presidente. Mendonça Filho, do DEM, interrompe a conversa para saber se os microfones estão abertos.

Diante da resposta afirmativa, a equipe é convidada a deixar a sala. Entre os novos deputados presentes, dois virariam ministros de Temer. Um terceiro, Onyx Lorenzoni, chefiará a Casa Civil de Jair Bolsonaro.

O presidente eleito foi um coadjuvante no impeachment, mas tem papel de destaque no filme. Numa comissão dominada por ruralistas, ele se refere a líderes sem-terra como “vermes” e “carrapatos”. Seu filho Eduardo chama o presidente da Contag de “vagabundo”.

As cenas gravadas no gramado em frente ao Congresso mostram como os Bolsonaro estavam afinados com o humor das ruas. Numa passagem que ilustra a fúria contra o sistema político, deputados pró-impeachment tentam confraternizar com os manifestantes, mas são convencidos a voltar sob uma chuva de pedradas.

Durante a votação decisiva, manifestantes de verde e amarelo urram palavrões contra o PT e seus aliados. “Sua bicha!”, reage um homem ao ouvir o voto de Jean Wyllys, do PSOL. “Fora, Dilma, sua p…”, grita uma mulher ao festejar o resultado final. No lado derrotado, o descontrole aflora quando uma militante chama o deputado José Carlos Aleluia, do DEM, de “fascista” e “bandido assassino”.

“Excelentíssimos” fica devendo bastidores do grupo afastado do poder. Dilma só aparece em solenidades no palácio e numa rápida saída, cercada de seguranças. O deputado Sílvio Costa desponta como voz solitária do governismo. Numa fala tragicômica, ele desdenha da oposição. “Sabe qual é a probabilidade de ter impeachment? É a mesma de eu casar com a filha do Obama. Zero!”, garante.

Um discurso de Temer mostra que os vencedores também fizeram previsões furadas. “O povo precisa colaborar e aplaudir as medidas que venhamos a tomar”, diz o vice ao virar presidente. Não foi exatamente o que aconteceu.

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