Mauricio Huertas: O Brasil do futuro e o presidente-vírgula

A crise dos combustíveis - com o ridículo pedido literal de "trégua" por três dias aos caminhoneiros grevistas (não acatado, obviamente) - é apenas o capítulo mais recente da desprezível obra escrita por Michel Temer, o "presidente-vírgula".

Nada mais emblemático, preciso e objetivo para definir esse governo pífio do que aquele desastrado slogan "O Brasil voltou, 20 anos em dois". Não errou na vírgula, mas no tamanho do atraso. Retrocedemos muito mais.

Registre-se que o fato de considerarmos o período Temer uma triste página a ser virada da nossa história não nos iguala aos repetidores da narrativa do "golpe". Ao contrário dos que vinculavam o #ForaTemer a um #VoltaLula, sempre tachamos o processo de impeachment, os resultados da Operação Lava Jato e a prisão dos corruptos de todos os partidos como legítimos e necessários para a estabilidade democrática e a vitalidade republicana.

Apoiamos a transição que se impôs constitucionalmente para o pós-PT, então a "ponte para o futuro" (perdão pelo trocadilho involuntário com o documento lançado em 2015 com as propostas do "novo" presidente) passava consequentemente por Michel Temer, pelo PMDB e partidos aliados. O problema - e não havia outra solução legalista - é que esse consórcio temerário reúne o que existe de mais retrógrado e nocivo da política brasileira desde Cabral (não o ex-governador do PMDB preso, mas o descobridor).

A posse de Temer, sabíamos todos, não significaria uma ruptura com o passado, até porque ele e sua turma foram cúmplices da bandalheira petista. Porém, uma atenuante era a esperança de vermos executadas as reformas prometidas. Até porque, como não buscaria a reeleição - garantiu o presidente - poderia adotar medidas impopulares mas emergenciais para remediar o colapso do Estado e de suas unidades federativas. Não só descumpriu a promessa como ainda ensaiou uma natimorta candidatura. Triste ilusão do presidente-vírgula, deixar de ser o candidato-traço.

Não é à toa a crescente rejeição do eleitorado à política tradicional. O estrago que a quadrilha petista já tinha causado à esquerda é repetido agora ao centro, dentro do chamado "campo democrático", com o fracasso deste presidente (até no seu papel de mero cumpridor de tabela na transição) e a proliferação de pré-candidatos inexpressivos para ocupar um vazio de lideranças, fruto de governos medíocres e opositores incompetentes.

Resta pouco tempo até a eleição, para a consolidação de uma candidatura representativa do Brasil que desejamos para o futuro. Será impossível o entendimento em torno de um presidenciável que aponte minimamente para um governo íntegro, austero, reformista, democrático, criativo, responsável, justo, respeitador das leis e promotor das condições de igualdade? Se valer a máxima de que Deus é brasileiro, que nos acuda nessa hora. Por favor! Agradecemos antecipadamente. Amém! E ponto final.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Maurício Huertas: Vai, Luciano Huck! Representa esta nossa geração!

Tenho 46 anos, assim como Luciano Huck. Sou pai de uma filha de 21, terminando a faculdade. Ele é pai de três filhos, crianças ainda. Somos jornalistas. Estagiamos em publicidade. Não nos conhecemos. Ou melhor, ele não me conhece. Temos a mesma idade e aparentemente os mesmos anseios, a mesma curiosidade pelo mundo, a mesma vontade de aprender e o mesmo objetivo sincero de impactar positivamente na vida das outras pessoas.

A notícia do dia é que Luciano Huck desistiu de se candidatar à Presidência da República. Outra vez. Aliás, é a "não notícia", até porque ele nunca se colocou abertamente como candidato. Era uma possibilidade aventada pela imprensa e conversada entre amigos próximos e algumas lideranças significativas de partidos políticos e movimentos cívicos - estes que eu e Luciano frequentamos e botamos fé para ajudar a mudar o Brasil.

Pausa para os comerciais. Acompanho Luciano Huck à distância, por essas coincidências que a vida nos impõe. Aos 20 anos de idade, Luciano Huck fez um estágio na agência W/Brasil, do publicitário Washington Olivetto. Depois, estagiou na DM9 de Nizan Guanaes. Eu, com 17, concluí meu curso técnico com um trabalho sobre ambos, gênios da publicidade há décadas. Bebemos da mesma fonte.

Ele abriu o bar Cabral, eu frequentei. Trabalhou na 89 FM, a Rádio Rock, eu ouvia. Escreveu na Playboy, eu assinava. Teve coluna no Jornal da Tarde, eu lia e amava o JT. Apresentou o Circulando na TV Gazeta, eu assistia. Isso tudo com vinte e poucos anos. Século e milênio passados, da geração anterior a esta que já nasceu postando nas redes sociais.
Em 1996, estreou o Programa H, na Band. Eu casei. Fui pai. Em 1999, ele assinou com a Globo para apresentar o Caldeirão do Huck. Eu me filiei ao PPS no mesmo dia, uma coisa até então impensável na minha cabeça de jornalista que se pretendia 100% isento e imparcial. Bobagem. Demora mas a gente descobre que nada nem ninguém é 100% isento e imparcial. Precisamos defender posições.
Como apresentador, empresário, cidadão, pai de família, Luciano Huck não é isento nem imparcial. Tem lado. E que bom que tenha! Faz bem para o seu público e dá esperança renovada ao país. Não por acaso, desponta com potencial de ampliar o seu papel de influenciador midiático para se tornar de fato uma nova liderança política, social, ética, comportamental, geracional.
Em quatro artigos publicados na Folha - 'Estou aqui' (14/05/2017), 'Tá ligado?' (28/08/2017), 'Tempos e movimentos' (18/10/2017) e finalmente 'No rumo' (27/11/2017) - expõe de modo didático e sintético o que pensa do Brasil e do protagonismo que a nossa geração deve assumir. Suas ideias repercutiram. Passaram a aglutinar gente que pensa e deseja o mesmo para o Brasil. (Leia: Acredito. Renova Brasil, Agora!)
Faz nove meses que o nome de Luciano Huck começou a ser gestado como possível candidato a presidente da República. A semente foi plantada por Fernando Henrique Cardoso em uma entrevista à Folha de S. Paulo no dia 8 de maio do ano passado.

O título era: "Ainda é cedo para 2018, mas Doria e Luciano Huck são 'o novo', diz FHC". O texto, reproduzido ipsis litteris da Folha, começava exatamente assim: "Principal referência do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz ser ´muito cedo´para falar em candidaturas ao Planalto em 2018, mas considera que hoje ´o novo´ no cenário político é representado por figuras como o prefeito paulistano, João Doria, e o apresentador de TV Luciano Huck."

Assim nascia a possível candidatura de Luciano Huck para a sucessão de 2018. E a matéria, assinada pelo repórter Igor Gielow, prosseguia:

Doria surge naturalmente na conversa, já que é estrela emergente no PSDB por ter alta popularidade e não estar associado à Operação Lava Jato como seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin (SP), ou o senador Aécio Neves (MG). 

Citados em delações, os até então presidenciáveis do tucanato viram suas intenções de voto derreterem. O PSDB também perde pela associação ao impopular Temer. Já o nome de Huck, amigo de FHC, foi semeado pelo ex-presidente de forma quase fortuita. Se ele o fez para germinar ou para dividir atenção com o prefeito paulistano, o tempo dirá. 

O apresentador da Globo já disse que está na hora de "sua geração" chegar ao poder, mas não confirma pretensões eleitorais e até aqui não está filiado a nenhuma agremiação.

O primeiro artigo de Huck na Folha, em maio de 2017, começava com a seguinte frase, emblemática: "Não, não sou candidato a presidente da República". Nove meses depois, tentando botar um ponto final na onda de sondagens e especulações, ele repete como decisão irrecorrível: "Não, não sou candidato a presidente da República."
Afinal, Luciano Huck, por que não? É a hora da nossa geração!
A intenção desse texto - tão pouco jornalístico e intencionalmente personalista - é justamente provocar uma resposta, uma reação, um repensar. Movimentos coletivos são necessários para discutir ideias, conectar pessoas, apoiar causas. Mas os grandes momentos da nossa história muitas vezes nascem das decisões individuais, das reflexões solitárias, da coragem pessoal e da ação inspiradora de grandes líderes.
Como você mesmo pontuou, Luciano, pode ser o momento exato, único, certo, de usar a visibilidade e o crédito que você conquistou com muito trabalho para apontar a direção que entendemos ser a melhor para o conjunto. Para liderar. Enfim, como descobrir o compromisso de cada um de nós com o nosso destino sem arriscar, empreender, criar, acreditar, agir e transformar?

 


Mauricio Huertas: A democracia é uma equilibrista na corda bamba

Tem guerra de facções no morro, tem guerra de facções no Planalto. Uns traficam drogas, assaltam carros-fortes e em tese roubam dos ricos. Outros, traficam influência, assaltam cofres públicos e na prática roubam dos pobres. Uns se impõem pela força, outros pelo voto. De resto, é igualmente o crime organizado que domina a sociedade e a política.

Nesse contexto, a democracia é uma equilibrista que caminha na corda bamba com uma rede de proteção esgarçada pelo mau uso. A vítima (e, às vezes, o cúmplice) é o eleitor, que elege canalhas para representá-lo no Parlamento e no Executivo, propiciando foro privilegiado e o acesso mais fácil aos esquemas de ilicitudes que corroem e dilapidam a República há décadas.

Não são bandidos todos os políticos – como a média da população parece acreditar, com cada vez mais indícios e total convicção. Mas há quantidade excessiva de ladrões, corruptos, criminosos e mafiosos nos partidos e na política – e estes precisam ser combatidos, punidos exemplarmante e defenestrados da vida pública.

Tolerância zero com o mau-caratismo, a improbidade, o corporativismo e a venalidade. É por isso que não dá, sinceramente, para tolerar o “moralismo seletivo” de determinados figurões da imprensa e de partidos políticos indignados com apenas um dos lados da mesma moeda que tilinta nos dutos da corrupção brasileira. Eu não tenho bandido de estimação. Você tem?

Ora, que moral tem o sujeito que se enraivece com corrupto petista e passa a mão na cabeça de vigarista tucano (ou peemedebista, democrata, liberal, socialista etc.)? Que defende o impeachment de presidente tratante mas poupa vice-presidente comparsa? Que ataca a esquerda como antro de delinquentes políticos e ideológicos mas fia-se em quadrilheiros de uma direita tão ou mais totalitária, obtusa, inepta e facínora?

Tem se falado e buscado construir o que se convencionou chamar de “candidatura do centro democrático” para 2018. Alguma liderança que não se perca pelo extremismo, pela intolerância e pela radicalização do discurso ou das práticas da velha política, empurrando para fora da corda bamba a nossa jovem democracia equilibrista.

Afinal, quem, em sã consciência, poderia se opor ao diálogo civilizado entre os vários partidos e movimentos do campo democrático no sentido de construir consensos e evitar a polarização entre o que a direita e a esquerda oferecem hoje de pior, triste cenário que as últimas pesquisas sugerem para as eleições de 2018?

Esse espírito de unidade entre cidadãos íntegros, republicanos e fichas limpas é bastante simbólico. Mas não basta o discurso demagógico se não nos diferenciarmos verdadeiramente nas ações concretas e objetivas para enfrentarmos a descrença da população na política e nos políticos. Ou seja, qualquer conchavo que não leve em conta a opinião pública já nascerá fracassado.

Necessitamos de novas lideranças, com brio, decência e honradez para construirmos um contraponto efetivo e viável a este governo federal tíbio, cambaleante, indecente e de caráter frouxo, que segue nas mãos de políticos velhacos que pouco se distinguem daqueles que já estão atrás das grades por motivos que levaram multidões às ruas para protestar.

Precisamos resgatar a esperança do povo, defender a boa política e a interlocução dos partidos renovados com a sociedade viva. Precisamos transformar o nosso modo de pensar, agir e articular. Precisamos reafirmar o nosso repúdio intransigente ao fisiologismo e à corrupção, o nosso compromisso com as reformas estruturais do Estado e com a estabilidade democrática e constitucional do País.

A corda bambeia, balança. O esquilibrista titubeia, vacila. O Brasil pende de um lado para outro, esbarra à esquerda, colide à direita, mas não cai. Não pode cair! Assim como na emblemática canção de João Bosco e Aldir Blanc:

“A esperança / Dança na corda bamba / De sombrinha / E em cada passo / Dessa linha / Pode se machucar…/ Azar! / A esperança equilibrista / Sabe que o show / De todo artista / Tem que continuar…”

A democracia se equilibra na corda bamba… Na corda… Acorda, Brasil!

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS-SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

 


Mauricio Huertas: De onde virá o novo que o eleitor busca em 2018?

Um vovô que coloca brinco, bermudas coloridas, meias três quartos e sapato social na praia não é moderno. É ridículo. Mal comparando, partidos que mudam às pressas sua sigla, ou o nome fantasia, não passam a simbolizar a renovação da política simplesmente por um golpe de marketing, sem alterar a fundo o conteúdo obsoleto e as práticas execráveis. Tanto quando os corruptos, o que as novas gerações mais desprezam e repudiam é político hipócrita, demagogo e mentiroso.

A moda agora é tirar o "partido" dos partidos. Só não tiram os bandidos. Incrível! Até o PMDB, metido em tanta lambança nas últimas décadas, vai voltar a ser MDB - relembrando os velhos tempos da luta contra a ditadura e valorizando o M de Movimento nas suas iniciais. E assim surgem Podemos, Avante, Livres, Patriotas e equivalentes. A velha sopa de letrinhas requentada. Será que ficaram modernos por isso? Vamos conferir nas urnas a quantidade de eleitores ingênuos que vão cair nessa pegadinha da nova língua do P ao contrário.

Porém, o que os cidadãos conscientes desejam - e esses novos movimentos cívicos que surgem espontaneamente e não dão liga com os velhos partidos representam - é algo que venha impactar verdadeiramente a agenda eleitoral e a ação política no Brasil. Mudanças efetivas na vida das pessoas, a melhoria da qualidade de vida, da situação econômica, da inserção social, da segurança, do emprego, da saúde, da educação, da igualdade de oportunidades.

Governos mais eficientes e responsáveis. Gestores públicos mais preparados. Um Estado mais ágil, conectado com as novas tecnologias e indutor do desenvolvimento. Uma sociedade mais justa e sustentável. Para tanto, é necessário que uma nova geração de políticos se apresente e se eleja - e as regras estão postas. Mas não será das velhas estruturas cartoriais maquiadas que surgirá o novo. Mudanças profundas são uma necessidade emergente, para o bem da democracia.

Isso leva a outro assunto: afinal, quem discorda da urgência de uma série de reformas estuturais, da previdenciária à tributária; da trabalhista à eleitoral - e todas muito mais robustas do que os puxadinhos improvisados que se vêem por aí? Mas, cá entre nós (e aqui voltamos aos políticos corruptos, hipócritas, demagogos e mentirosos), alguém acredita de fato nas reformas propostas por este presidente desacreditado, que mudam ao sabor dos humores do mercado, da volatilidade deste governo desprezível e de um Congresso medíocre que, embora eleito para representar a média do povo brasileiro, não passa de um antro de interesses privados e muitas vezes ilícitos?

O que nós queremos - e a nossa ida às urnas em outubro de 2018 pode ser um ponto de partida - é a ampliação dos instrumentos democráticos e dos preceitos republicanos à disposição do eleitor, na relação diária com o poder público e não apenas na proximidade das eleições, desmistificando a política e reaproximando-a do cidadão comum, sem o monopólio dos partidos nem a dependência de um salvador da pátria.

Exigimos dos políticos - os tradicionais e os novos convertidos - o respeito à diversidade do Brasil e dos brasileiros; o compromisso democrático com os interesses da maioria sem o descaso pelas minorias; um comportamento ético, responsável, transparente e tolerante com as diferentes correntes de opinião, mas que não se empobreça no debate estéril da polarização enraivecida nem descambe para as soluções mais extremadas, que nos parecem indesejáveis para a estabilidade do futuro governo - e que, bom ou ruim, mais à esquerda ou à direita, será legitimamente eleito por nós. E que vença o melhor.

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

 


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Mauricio Huertas: Acredito. Renova Brasil, Agora!

O título acima é um trocadilho óbvio com os nomes dos três principais movimentos eleitorais surgidos para as eleições de 2018: Acredito, RenovaBR e Agora! - todos eles citados por Luciano Huck como alternativas para a renovação da política, base de lançamento para candidaturas independentes espalhadas pelo país e talvez dele próprio à Presidência da República.

A imprensa tem especulado. Partidos se assanham. As redes sociais repercutem para o bem e para o mal. Afinal, Luciano Huck vai mesmo ser candidato à Presidência da República em 2018? O que você acha? Pelo #ProgramaDiferente tenho conversado sobre esta possibilidade com gente que em tese - além do próprio Huck, que terá uma decisão pessoal pela frente - pode nos informar sobre o assunto: os representantes dos "movimentos cívicos" ligados ao apresentador.

Nada parece definido, até porque não deve mesmo haver uma resposta simples: largar um dos maiores salários da televisão brasileira, num programa que vem dando certo, com patrocínios e merchans milionários, para entrar de cabeça no caldeirão da política, cheia de ingredientes nocivos e sabores indigestos? Ter a sua vida privada e empresarial esmiuçada, expor a família (uma mulher igualmente famosa e três crianças) a constrangimentos e trocar a vida de celebridade pelas obrigações e responsabilidades de um homem público?

Como qualquer assunto hoje em dia, a eventual entrada de Luciano Huck na política também desperta ódios e paixões. É preciso avaliar esse indisfarçável interesse com equilíbrio e sensatez, tanto do ponto de vista do empresário-apresentador quanto das legendas que já se oferecem (com "tapete vermelho", como publicam os jornais) para essa espécie de "bar-mitzvá" político, cerimônia que pode inserir o jovem bon vivant como um membro maduro na comunidade partidária.

Não me alinho automaticamente nem entre aqueles que já o incensam como salvador da pátria, nem entre os que o mandam vender sabão, malcriação típica dos haters virtuais e criadores de memes, com farta matéria-prima para criticar as eventuais pretensões eleitorais de Luciano Huck, garoto-propaganda de sabão em pó a carro japonês e associado a quadros televisivos com nomes sugestivos para a zoeira, como Lata Velha, Lar Doce Lar, Herói Por Um Dia, Árvore dos Desejos, Encontrar Alguém, Quando Você Menos Espera, Quem Quer Ser Um Milionário ou Visitando o Passado.

Se Luciano Huck quer verdadeiramente ressignificar a política, seja como protagonista nas urnas ou influente mecenas eleitoral através do apadrinhamento de candidatos e movimentos, terá como primeiro desafio exatamente o de se diferenciar dos velhos políticos, partidos e marqueteiros que apresentam seus "produtos" como quem vende sabão em pó. Basta dos mesmos vícios. Se é para errar, vamos ao menos cometer erros novos, tentando acertar.

Neste caldeirão de partidos e movimentos cívicos, a receita é simples. Inovar não é inventar. Basta seguir o trivial da boa política, sem fórmulas mágicas: ética e transparência, com essência republicana e aroma democrático. Só não pode misturar o sabão em pó da velha política, que faz uma espuma danada mas é ineficaz na limpeza pesada que o Brasil precisa.

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: O pós-PT e o fim da esquerda jurássica

Começou a disputa pelo espólio petista, que deverá se intensificar na medida em que as condenações judiciais, somadas à idade avançada de Luiz Inácio Lula da Silva, vão tirá-lo definitivamente do cenário eleitoral brasileiro. E, ainda que a militância esteja empenhada em seguir seu guru e instintivamente preservar a espécie, não haverá narrativa de golpe que pare em pé diante do julgamento inapelável da maioria da população, muito mais austera e intransigente que qualquer promotor ou juiz da Operação Lava Jato.

Talvez esse afastamento involuntário das urnas leve à extinção de uma esquerda jurássica monopolizada por Lula e pelo PT, possibilitando inclusive que o inventário dessas últimas décadas reposicione as coisas no seu devido lugar, dado que Lula nunca foi de fato um esquerdista, mas somente um populista que se apossou de bandeiras da esquerda, na falta de representação mais apropriada e competente, desde a sua origem sindical e principalmente após se tornar o maior líder de um partido que reunia em sua base trabalhadores, intelectuais, artistas e movimentos comunitários ligados à igreja católica.

Como bem definiu o comunista Luís Carlos Prestes no final da década de 1980: "O PT não tem propriamente ideologia. O PT é um partido burguês como qualquer outro partido, porque no Brasil ninguém nasce comunista. Todos nós nascemos sob a influência da ideologia burguesa. Não se muda de ideologia, e nem o Lula, que é o chefe, mudou... A ideologia dele é a ideologia da burguesia, porque todos nós nascemos filiados a essa ideologia da burguesia. Só se ele estudasse o marxismo é que ele poderia então mudar de ideologia."

E concluiu, categórico: "Toda a minha crítica ao Lula é no sentido de levá-lo a estudar o marxismo, a ciência do proletariado, mas ele vê na minha crítica um ataque a ele, quando não há ataque nenhum. Eu penso que ele é um operário talentoso - de grande talento, mesmo - que organizou massas em torno do nome dele. Isso já é um motivo de admiração. Mas está muito longe ainda de ter uma ideologia do proletariado."

Perdoe desenterrar Prestes, em pleno centenário da Revolução Russa, depois de quase três décadas de sua morte e às vésperas dos 120 anos do seu nascimento, que será celebrado em 2018. Mas falar sobre a esquerda no Brasil sem recorrer à opinião abalizada do maior e mais emblemático nome do comunismo neste país seria praticamente um insulto à história e à realidade dos fatos. Recorra-se então a Prestes para compreender que Lula e o PT acabaram se tornando ícones de uma esquerda de fachada, cosmética, ornamental, pragmática, pouco assentada nos verdadeiros princípios teóricos do socialismo e do comunismo, muito mais próxima das práticas da social-democracia, mas que na transição fraudulenta entre o que pregava em 20 anos na oposição e o que executou em 13 anos no governo acabaria por enxovalhar definitivamente o rótulo de esquerda no Brasil.

Quem, afinal, disputa hoje a herança lulista? Políticos na faixa dos 60, 70 anos, como Jaques Wagner, Chico Alencar, Eduardo Jorge, Marina Silva, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Roberto Freire, Ciro Gomes? Ou, ainda, quem será a nova geração que despontará na esquerda brasileira? No PT, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Fernando Haddad? No PSOL, Marcelo Freixo, Luciana Genro, Jean Wyllys? Coletivos como a Mídia Ninja? Movimentos como o MTST de Guilherme Boulos?

Ora, esse Boulos, por exemplo, o novo queridinho dos artistas globais metidos à esquerdistas, é simplesmente um invasor da propriedade alheia, depredador do patrimônio público e privado, usurpador da ordem constitucional estabelecida. Burguesinho bem nascido, estudioso das teorias fossilizadas de esquerda pré-histórica e marqueteiro de um incompreensível "poder popular", que pode surgir agora do âmbar como candidato salvador das viúvas de Lula pelo PSOL ou pelo próprio PT.

Ainda que devamos repeitá-lo pessoalmente, o que ele representa como figura pública? Quem o conhece minimamente das manifestações e ocupações em São Paulo, principalmente em áreas de mananciais (como o Parque dos Búfalos, invadido na gestão cúmplice e omissa do prefeito moderninho Fernando Haddad), com seu exército de soldados manipulados e alistados na base de pontos ganhos por tarefa cumprida, não pode crer que essa excrescência é o que se apresenta como futuro da esquerda no Brasil.

Feito o estrago, como nunca antes na história deste país, resta aos ideólogos de uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna e solidária, em tese definidos como esquerdistas (essencialmente os democratas, não extremistas), reunirem seus remanescentes e se juntarem ao chamado centro democrático e até mesmo à direita mais liberal, ou entregarem de vez os pontos para os retrógrados e conservadores da direita radical, intolerante, sectária, preconceituosa, intransigente, totalitária e saudosa da ditadura militar.

Estamos em uma encruzilhada histórica. As conquistas democráticas, a salvaguarda constitucional dos nossos direitos, o aconchego das nossas liberdades, a infalibilidade das instituições republicanas, a vitalidade e o bem-estar do nosso povo estão sob violenta ameaça, à esquerda e à direita, por uma horda de irresponsáveis, inconsequentes, levianos, desajuizados, inescrupulosos e insanos. Precisamos nos unir pelo Brasil!

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: Sobre a polêmica da “arte” do homem nu no MAM

Toda arte é livre! Como eu respondo ou reajo à arte é o “x” da questão. Sou livre mas não para sair por aí me exibindo pelado num ônibus, ou tocando outras pessoas

Sobre toda esta polêmica do artista nu no Museu de Arte Moderna e mais um Fla x Flu estabelecido nas redes sociais, como já virou moda:

Se eu acho que arte deve ser livre, sem censura e libertária, pode ser irreverente, provocativa, contestadora, até incômoda e que nos faça refletir? Sim.

Se eu acho que o nu pode estar contextualizado nesta arte (mesmo se for mera opinião subjetiva do artista), sendo ou não a intenção chocar e gerar reações contrárias? Sim.

Se eu acho que o artista pode questionar sem limites o poder e a ordem, desafiar as autoridades, contestar as regras estabelecidas? Sim.

Pode tratar de religião, sexualidade, família, política, etnia? Pode tudo.

Então obviamente pode colocar uma criança, desde que autorizada pelos pais, a tocar a “obra”, que se trata de um homem nu no meio de um museu? Não! 👎 Não me parece adequado nem sensato.

Nesse caso bastaria a contemplação. Ninguém precisou tocar a Mona Lisa ou o David de Michelangelo para aquilo ser reconhecido como arte e fazer história. Ah, mas e a liberdade do artista e do público??? Calma lá!!! Quer tocar a “obra”? Seja maior de idade e tenha discernimento.

Toda arte é livre! Como eu respondo ou reajo à arte é o “x” da questão. Sou livre mas não para sair por aí me exibindo pelado num ônibus, ou tocando outras pessoas. Quebrar regras não significa cometer um crime. Então o mínimo bom senso vale também para a arte, principalmente envolvendo uma criança.

Ter opinião que não agrade A ou B também não me faz dono da verdade, nem me enquadra como direitista ou esquerdista, liberal ou conservador, retrógrado ou progressista.

Penso simplesmente com a responsabilidade e o equilíbrio de um pai, e como entendo que deve ser a educação de uma criança e a relação civilizada em sociedade, com total liberdade mas respeitando as diferenças. É uma posição pessoal. Só isso.

 


Refundar a Esquerda Democrática

Depois de fundada pelo Partidão na década de 20, aprofundada pelo Partido dos Trabalhadores na década de 80, infundada pela clonagem de legendas com o mesmo DNA petista nas décadas de 90 e 2000, e finalmente afundada pelos chamados governos de coalizão (feat corrupção) de Lula e Dilma, parece ter chegado a hora de refundar a esquerda brasileira com os sobreviventes deste período paleolítico e potenciais agregados, como jovens ativistas, sustentabilistas, sociais-democratas e hackers da nova política.

Não que seja tarefa simples, a começar pela definição do que é ser de esquerda ou de direita hoje. Diante da complexidade do mundo atual, o binarismo idelológico se torna cada vez mais obsoleto, extemporâneo e inconclusivo. Isto se já não bastasse, além do fracasso do socialismo no mundo, o PT ter enxovalhado esse conceito teórico sem nunca ter executado minimamente um programa de esquerda - vide os exemplos petistas em administrações municipais, estaduais e no governo federal.

As experiências mais próximas vivenciadas pelo Brasil com o que se convencionou chamar de esquerda não passaram de discursos oposicionistas e, no governo, de flertes esporádicos: com o trabalhismo populista de Getúlio Vargas, a brevidade de Jango entre o parlamentarismo oportunista e o golpe de 64, e posteriormente com os acenos à social-democracia de FHC e Lula, sendo o tucano - que surfava na onda do Real - prejudicado pelo casamento arranjado com o PFL e por episódios como a compra de votos para a reeleição; e o petista, apesar do sucesso de políticas compensatórias e ações de combate à miséria, por ter se rendido a tudo aquilo que o PT prometia enfrentar desde a sua criação.

Fato é que chegamos a esta crise sem precedentes - o que leva a população a condenar genericamente, não sem razão, a política e os políticos, mas sobretudo a esquerda, cujas ideias jamais foram implementadas por aqui. Eis o desafio de quem ainda busca vida inteligente na terra arrasada da democracia representativa brasileira, com algum viés esquerdista: a opção pela redução das desigualdades, pela justiça social, pela cidadania plena, pela distribuição de renda, pela promoção da cultura da paz, pelo papel regulador do Estado e até pela manutenção da utopia - características que em geral a direita despreza.

É neste contexto, por exemplo, que o filósofo Ruy Fausto apresenta o livro "Caminhos da Esquerda" - que a grande imprensa tem debatido - e que outros grupos vem se reunindo para tentar ir além do debate político partidarizado, polarizado, raivoso e estéril, dispostos a encontrar alguma luz no fim do túnel para transportar os ideólogos da esquerda democrática da atual arena visceral para um campo vicejante.

Se é desalentador um cenário em que as primeiras sondagens para 2018 apontem a força crescente de um Bolsonaro à direita ou a teimosa e renitente popularidade de Lula quase como um novo Macunaíma, o herói sem caráter da esquerda preguiçosa, também é verdade que chegou o momento de agir com firmeza e efetividade para construir uma alternativa melhor.

A luz que o eleitorado busca não pode ser, à esquerda, o fogo-fátuo da decomposição petista, nem o farol da direita bolsonarista que se apresenta como trem-bala mas não passa de maria fumaça. Para repor a esquerda nos trilhos, também parece pouco adequado depositar esperanças nos maquinistas de trem-fantasma Guilherme Boulos e Ciro Gomes, que se lançam com ações e pensamentos descarrilados.

Exercícios de futurologia à parte, o mais provável é que o próximo eleito seja um nome do atual sistema - até porque a necessária reforma político-partidária não deve avançar muito além dos limites protecionistas e do instinto de sobrevivência dos atuais congressistas. Alguém tarimbado e de perfil mais próximo do centro, evitando as saídas mais extremistas, é o que se busca na maioria dos partidos.

A centro-direita busca uma peça confiável na plataforma mais tradicional (Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia ou Henrique Meirelles, por exemplo) ou reconfigurada (João Doria). A centro-esquerda não descarta um movimento de código aberto (lança balões de ensaio como Joaquim Barbosa e busca outras figuras do meio jurídico para a vaga de vice), mas deve mesmo optar por algum relançamento: Marina Silva, Eduardo Jorge, Fernando Gabeira, Cristovam Buarque e até Fernando Haddad são nomes sempre bem cotados.

Outra opção seriam os outsiders da política, salvadores da pátria que surgem como astros com luz própria e acabam quase sempre com o brilho efêmero de um vaga-lume. Historicamente podem se dar bem com um banho de marketing "collorido", como ocorreu em 1989 com o fictício caçador de marajás que se tornou presidente do Brasil. Mas o fim dos aventureiros costuma ser trágico e a eleição presidencial não pode servir como startup de malucos. Por isso é hora de reinstalar o sistema da esquerda democrática, eliminando os bugs da velha política.