Mulheres negras debatem preservação da Amazônia em live da FAP

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) realizará nesta terça-feira (1/8), das 18h às 19h, uma live para debater as “sabenças de mulheres negras, com autonomia e afetos na Amazônia". Durante o encontro virtual, elas discutirão ações importantes para a preservação do bioma, que é um dos mais ricos em biodiversidade do mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=_fBIS7JKHHU

A live terá transmissão em tempo real no site da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal da instituição no Youtube. O público poderá enviar perguntas por meio das próprias plataformas digitais.

De acordo com a diretora executiva da FAP e mediadora do debate, Jane Monteiro Neves, chama atenção para o “desmatamento indiscriminado das florestas”. Ela também é mestre em Enfermagem de Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual do Pará (UEPA).

Participantes

Josanira Rosa da Luz: Bacharel em Administração, conselheira do Centro de Cultura Negra, secretária geral do Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional e Conselheira do Consea.

Bianca Pereira da Silva: Bacharel em Serviço Social, integrante dos coletivos ALAGBARA e Oorun Ombirin de mulheres negras e quilombolas e da comissão de heteroidentificação racial da UFT E Cesgranrio.

Angélica Albuquerque da Silva: Mulher negra e gorda, museóloga, educadora popular e patrimonial e consultora de imagem e estilo.


Cineclube terá debates sobre filmes com temas relevantes da atualidade

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e a Biblioteca Salomão Malina, mantida pela entidade, lançarão no dia 31 de julho um novo projeto cultural para discutir temas relevantes e de interesse público a partir de temas abordados em filmes. De acordo com a direção executiva da instituição, a ideia é realizar debates on-line toda última segunda-feira do mês, às 19h30, com participantes do Cineclube Vladimir Carvalho.

O lançamento do projeto ocorrerá com a discussão sobre o tema da escravidão contemporânea, a propósito do Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas, celebrado no dia 30 de julho. O público em geral pode participar dos debates do cineclube.

A primeira sugestão é o filme Os Sete Prisioneiros, de Alexandre Morato, com Rodrigo Santoro, produção de Fernando Meirelles (Ensaio sobre a Cegueira) e Ramon Bahrani (Tigre Branco). A abertura da discussão será feita pela crítica de cinema Lilia Lustosa.

Em busca de uma vida melhor, Mateus, um rapaz humilde de uma cidade pequena, e outros jovens aceitam trabalhar em um ferro velho em São Paulo. No entanto, todos logo percebem que foram enganados e caíram em uma rede de trabalho escravo. Olhando para esse cenário, Mateus decide se unir ao seu captor e se tornar seu braço direito, mesmo sofrendo com grandes conflitos morais.

Veja, abaixo, o trailer do filme:

https://www.youtube.com/watch?v=Mr2vNNe-qk8

As propostas de filmes do projeto são apresentadas, previamente, em um coletivo do Cineclube Vladimir Carvalho. As pessoas interessadas em participar do projeto devem entrar em contato com a Biblioteca Salomão Malina, por meio do WhatsApp oficial (61 984015561) e solicitar acesso ao grupo de discussão.

Biblioteca Salomão Malina

Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008, a Biblioteca Salomão Malina se tornou um importante espaço de incentivo à produção do conhecimento em Brasília. Localizada no Conic, tradicional ponto de cultura urbana próximo à Rodoviária do Plano Piloto, a biblioteca foi reinaugurada em 8 de dezembro de 2017, após ser revitalizada. Isso garantiu ainda mais conforto aos frequentadores do local e reforçou o compromisso da biblioteca em servir como instrumento para análise e discussão das complexas questões da atualidade, aberta a todo cidadão.

Adolescente pesquisando um livro para leitura/ Arte: FAP
Visitante da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Os colaboradores Thalyta e Alexandre/ Arte: FAP
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Livro disponível para empréstimo/ Arte: FAP
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Auditório da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Adolescente pesquisando um livro para leitura
Visitante da Biblioteca Salomão Malina
Os colaboradores Thalyta e Alexandre
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina
Livro disponível para empréstimo
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina
Auditório da Biblioteca Salomão Malina
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Adolescente pesquisando um livro para leitura
Visitante da Biblioteca Salomão Malina
Os colaboradores Thalyta e Alexandre
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina
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Livro disponível para empréstimo
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina
Auditório da Biblioteca Salomão Malina
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O espaço integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), mantida pelo Cidadania, e conta com quase 5 mil títulos para empréstimos, que são constantemente atualizados por meio de doações e pela aquisição de obras de pensadores contemporâneos. O acervo é especializado em Ciências Sociais e Humanas, contando também com livros da literatura que fazem menção à crítica social e dos costumes, na transição do Brasil rural para o urbano.


Krav Magá: abertas inscrições para novo curso de defesa pessoal em Brasília

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) abriu as inscrições para o curso de defesa pessoal com técnicas de Krav Magá, a ser realizado, a partir de 12 de junho, no Espaço Arildo Dória, na parte superior da Biblioteca Salomão Malina, no Conic, região central de Brasília. As instrutoras Verônica Gomes e Hevellyn Larissa Santos ministrarão as aulas presenciais, às segundas e quartas, das 12h30 às 13h30. A mensalidade custa 60 reais.

Para saber mais informações, envie mensagem para o WhatsApp oficial da Biblioteca Salomão Malina (61 984015561)

O objetivo do curso é capacitar públicos vulneráveis para ter habilidade em defesa pessoal e gerar rede de apoio a vítimas de violência urbana e doméstica. As aulas também vão trabalhar autoconfiança, autoestima, empoderamento e senso de comunidade, por meio de técnicas Krav Magá e sua filosofia.

Krav Maga é uma arte marcial para defesa pessoal criada por Imi Lichtenfeld, em Israel, nas décadas de 1960 e 1970. Após sua aposentadoria do Exército, diante da história de seu povo, Imi decidiu desenvolver uma arte marcial que fosse possível de ser utilizada por qualquer cidadão para se defender. Todos os golpes e movimentos do Krav Magá foram pensados para que qualquer pessoa, sem importar gênero, idade ou compleição física, fosse capaz de se defender eficazmente em situações de risco.

Clique aqui e veja eventos realizados pela Biblioteca Salomão Malina

O Krav Magá tem ganhado cada vez mais popularidade no mundo todo, o que pode ser atribuído à crescente preocupação com a violência urbana, em especial a doméstica e a gerada por discursos de ódio e intolerância. Com o treinamento, os participantes vão adquirir habilidades para se protegerem de situações de violência e se tornarem mais confiantes para enfrentar potenciais ameaças.

Para além, a própria filosofia do Krav Magá gera mudanças na perspectiva de seus praticantes diante dos desafios da vida. O equilíbrio emocional gerado pela prática no tatame, os exercícios para enfrentar os medos pessoais, os movimentos que ajudam no controle da mente que culminam no controle do estresse e da tensão física e mental cotidianos, a capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes em situações de risco, o aumento da autoestima e da confiança pessoal são características trabalhadas pelo Krav Magá que ajudam no desenvolvimento pessoal.

Instrutoras

Verônica Gomes é faixa azul, graduada e licenciada pelo Grão Mestre Yaron, ainda diplomada em técnicas da água, uso e defesa contra faca, bastão, arma de fogo, defesa contra múltiplos agressores, entre outras técnicas exigidas pela escola aos seus professores.

A instrutora tem capacitações na área de Defesa Pessoal ministradas por órgãos policiais e instituições privadas, sendo habilitada a conduzir os alunos a atingirem o melhor de suas capacidades em autodefesa. Leciona pela Bukan, desde 2020, e é responsável pelo Tatame Bukan do Serviço Social do Comércio (SESC) no Gama.

Hevellyn Larissa Santos é faixa azul, praticante de Krav Maga desde 2016 e licenciada pela Bukan desde 2019. Participou de diversos cursos, incluindo treinos especiais para mulheres, defesa contra múltiplos agressores, defesa contra faca, bastão e outros.

Ela tem experiência com o público infanto-juvenil. Leciona desde 2021 na Academia de Lutas 1RM Fit, em Águas Claras, e já participou de diversos projetos externos relacionados à divulgação do Krav Magá e à conscientização do público feminino sobre as muitas possibilidades de utilização de técnicas voltadas à autodefesa e proteção da mulher.


Economia 2023 | Imagem: xalien/Shutterstock

Economia informal e saúde fiscal: a contradição em busca da superação(1)

Eduardo Rocha*, economista pela Universidade Mackenzie

“O verdadeiro não se encontra na superfície visível.

Singularmente naquilo que deve ser científico,

a razão não pode dormir e é preciso usar a reflexão.”

Hegel[1]

“(...) toda a ciência seria supérflua se houvesse coincidência

imediata entre a aparência e a essência das coisas”.

Marx[2]

O inferno está vazio, pois todos os demônios estão presentes na “guerra” em curso nos bastidores da República brasileira sobre os fundamentos da futura reforma tributária e do novo marco fiscal ou arcabouço fiscal ou âncora fiscal.

Essas expressões (distantíssimas do pobre que paga altos impostos frente ao rico que paga pouco imposto) dizem respeito à engenharia política que definirá as diretrizes de como recompor as receitas disciplinando as despesas públicas.

Trata-se, num primeiro momento, de mudar o teto fiscal, mas isso não basta. Isso é espuma frente às necessidades do país. A estrutura do rio está mais embaixo: está na reforma tributária, expressão de lutas de grandes interesses.

Neste debate, não faltam malabarismos tecnocrático-herméticos e desfiles linguístico-exibicionistas – alguns absurdos - que defendem o arrocho social e levantam-se contra o arrocho aos privilégios, como via para melhorar as finanças públicas e a vida do povo.

E os privilégios a grupos econômicos são vastos. Vamos a eles.

Num interessante artigo (O dreno financeiro que paralisa o país: a farsa do déficit[3]), Ladislau Dowbor, professor de Economia nas pós-graduações da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), aponta o que ele chama de “drenos financeiros” que desnutrem o Estado.

Dentre os quais se destacam:

  1. dreno dos juros da dívida pública, em 2022 terão sido entre 600 e 700 bilhões drenados;
  2. dreno dos juros praticados no Brasil, que, em 2016, tiravam um trilhão de reais da economia real (16% do PIB);
  3. dreno da evasão fiscal: “em 2020, o Brasil perdeu R$ 562 bilhões devido a práticas ilícitas para evitar o pagamento de impostos”;
  4. dreno das renúncias fiscais, que segundo informe da Câmara dos Deputados, “as renúncias de impostos concedidos pela União a parcelas da sociedade devem chegar a R$ 456 bilhões em 2023, ou 4,29% do Produto Interno Bruto (PIB)”;
  5. dreno dos lucros e dividendos distribuídos que, no Brasil, não pagam impostos. Ou seja, diz Dowbor, “os 290 bilionários que aparecem na Forbes de 2022 são isentos de impostos, com a justificativa de que as empresas que possuem já os pagaram”;
  6. dreno dos impostos de exportação que permite, por exemplo, que  a produção exportada pela Vale do Rio Doce, gere dividendos aos acionistas, mas não receitas para o Estado - trata-se da Lei Kandir, de 1996, que isenta de tributos a produção de bens primários e semielaborados destinados à exportação e
  7. dreno do Imposto Territorial Rural (ITR), onde reina a sonegação irrestrita e declarações fraudulentas, que reduzem ao mínimo do mínimo a arrecadação fiscal.

Há, contudo, nesta pluritemática fiscal, um tema ausente, que é incontornável e desafia a inteligência político-intelectual-fiscal. É o tema da economia informal e os prejuízos fiscal-públicos que ela traz a municípios, Estados e União.

Em 2022, a economia informal brasileira atingiu 17,8% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos formalmente pelo país, que chegou a R$ 9,9 trilhões) - algo próximo a R$ 1,7 trilhões de reais.

É o que mostra o Índice da Economia Subterrânea (IES), cálculo feito pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, o ETCO, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

ETCO e IBRE-FGV conceituam a economia subterrânea como “a produção de bens e serviços não reportada ao governo deliberadamente, com o objetivo de sonegar impostos, evadir contribuições para a seguridade social, driblar o cumprimento de leis e regulamentações trabalhistas e evitar custos decorrentes da observância às normas aplicáveis a cada atividade”[4].

Qual o impacto negativo da informalidade na arrecadação dos entes federados em proporção ao PIB? Quanto ela prejudica a economia e a sociabilidade brasileira como um todo? O que fazer diante deste “buraco negro fiscal”?

Em 2018, União, Estados e municípios deixaram de arrecadar R$ 382 bilhões em tributos devido à economia subterrânea, o equivalente a 5,6% do PIB. Os dados constam de levantamento feito pela economista Vilma da Conceição Pinto, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV)[5].

Não há inocentes neste debate sobre a reforma tributária e o marco/arcabouço/âncora fiscal; seja ele um debate acadêmico, parlamentar, partidário ou, principalmente, quando travado no chamado mercado - pois o dinheiro, sob certas circunstâncias, transforma o não em sim e o sim em não.

O debate não é técnico (ainda que contenha inevitavelmente esses elementos, claro!), ele é um debate político, que determinará quem se apropria da renda nacional e quem concentra e exerce de fato o poder político – expressão concentrada da economia.

A saúde fiscal do Estado brasileiro, em suas três dimensões (União, Estados e municípios), tem, assim, vários inimigos por todos os lados e de diversas cepas que lhe atacam e lhe desnutrem financeiramente e, simultaneamente, aumentam a concentração da riqueza e o bem estar social nas mãos de poucos – mantendo a triste e injusta distribuição de renda no Brasil e a infelicidade de milhões de cidadãos e cidadãs.

É necessário o debate que busque soluções para possibilitar a que os entes da Federação (União, Estados e municípios) tenham condições financeiras sustentáveis para promover as políticas públicas previstas constitucionalmente.

Proponho que a questão de como anular e superar os prejuízos fiscais originados pela informalidade econômica seja considerado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo Congresso Nacional. Que criem uma comissão com especialistas e com todos que trabalham na informalidade para debater isso.

A economia informal deve entrar de fato no debate nacional-fiscal, pois há, sim, mecanismos para trazê-la, pelo menos em parte, ao mundo fiscal formal. E será isso que abordaremos nos próximos textos.


[1] Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. Lecciones sobre la filosofia de la historia universal. 6º ed. Madrid, España. Alianza Universidad: 1997. p. 45

[2] Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Tomo 3. p. 1080.

[3]    Dowbor, Ladislau. O dreno financeiro que paralisa o país: a farsa do déficit.  2023. Disponível em:    https://sul21.com.br/opiniao/2023/02/o-dreno-financeiro-que-paralisa-o-pais-a-farsa-do-deficit-por-ladislau-dowbor/ . Acesso em: 14 de abril de 2023.

[4] Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial – ETCO . Economia Subterranea. https://www.etco.org.br/economia-subterranea/ . Acesso em 14 de abril de 2023.

[5] Este cálculo, diga-se, teve por base o crescimento Produto Interno Bruto (PIB) de 1,3% em 2018. No entanto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou o cálculo anterior e anunciou que PIB brasileiro de 2018 passou de 1,3% para 1,8%. Portanto, num cálculo grosso, e obedecendo ao percentual de 5,6% do PIB da economista Vilma da Conceição Pinto, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV, e o matematizarmos aos 1,8%, dá, conservadoramente, uma perda fiscal de R$ 392,2 bilhões. Valor este que prejudica o Brasil nas esferas da educação, saúde, infraestrutura e ciência e tecnologia.

Sobre o autor

Eduardo Rocha é pós-Graduado com Especialização em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

** Artigo produzido para a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da revista nem da FAP.


O que esperar do novo filme ¡Qué Viva México!

Com o mesmo título do famoso filme inacabado de Sergei Eisenstein, de 1932, o cineasta mexicano Luis Estrada lançou, no mês de março, seu próprio ¡Qué Viva México!, longa-metragem de mais de três horas de duração e que é uma sátira bem ácida da política mexicana atual.

Sátira, aliás, que não é novidade na filmografia do diretor, já que, a cada sexênio, ele lança um filme que detona o governo da atualidade, fazendo ainda uma análise (quase sempre cruel) da "mexicanidade”, ou seja, das idiossincrasias e incoerências do povo mexicano. Isso acontece desde A Lei de Herodes (1999), quando analisava e anarquizava os governos do Partido Revolucionário Institucional (PRI ). Em seguida, com seu Um Mundo Maravilhoso (2006), satirizando o governo de Vicente Fox. Em 2010, com O Inferno, cuja vítima principal era o presidente Felipe Calderón, e, mais recentemente, em 2014, com A Ditadura Perfeita, em que atirava pedras na administração do presidente Enrique Peña Neto. Enfim, há toda uma tradição guerrilheira que faz com que a espera pelo lançamento de seus filmes seja algo prazeroso para alguns e bem incômodo para outros.

¡Que Viva México! não foge à tradição e ataca de frente o governo do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, vulgo AMLO, do partido MORENA (Movimento Regeneração Nacional). Um político que se diz de esquerda, à favor do povo e contra a corrupção de qualquer natureza, mas que se rende (como todos) às armadilhas do poder, tendo uma ótima relação com os presidentes dos Estados Unidos, incluindo com o ex Donald Trump. Não podemos esquecer que os vecinos norteamericanos são os maiores parceiros comerciais do México, com as remessas de dólares vindas de lá para cá (dos imigrantes) representando 4% do PIB nacional.

A trama do filme gira em torno de Pancho Reyes (Alfonso Herrera), um homem de classe média (em ascensão), que trabalha dia e noite para atender os caprichos da esposa e dos filhos. De origem humilde, ele prefere esquecer e deixar bem escondido esse passado, até o dia em que recebe, porém, o telefonema de seu pai Rosendo (Damián Alcázar, que atua na pentalogia completa de Estrada), informando que o avô falecera e que era aguardado em seu pueblo para o enterro e para a leitura do testamento.

O que vemos, então, é o retorno à pobreza natal de Pancho, uma viagem ao México profundo, cheio de poeira, pobreza, mas também de alegria, camaradagem, comilanças, bebedeiras, mariachis e, claro, corrupção e espertezas. Tudo é paroxismo, é crítica, é desacato. Um verdadeiro show do politicamente incorreto, que tem irritado muitos espectadores mexicanos, sobretudo, os "Whitexicans" (elite branca do país), que não gostam nada de se ver assim representados na telona.

Mas, verdade seja dita, Estrada não poupa ninguém e aponta sua metralhadora para todos os atores do México contemporâneo, desviando-se assim do modelo maniqueísta que representa pobres como bons e ricos como maus, ou ainda políticos como os únicos seres corruptos e corruptíveis. Em seu filme, ele desenha um microcosmos capaz de representar as várias camadas da sociedade desse país, com seus defeitos e qualidades, mas, principalmente, com suas incoerências. Não à toa, ¡Qué Viva México! vem desagradando priistas, morenistas, panistas, etc, gente de esquerda, de direita e até de centro. Quase uma unanimidade!

Pelos olhos de uma estrangeira, residente no México há pouco menos de três anos, o que vejo é um retrato ácido da sociedade local, obviamente, levado ao extremo. Importante ter em mente que estamos aqui, porém, diante de uma sátira e que, por isso mesmo, os personagens, bem como as situações, são sim exagerados, artificiais e caricatos. Não se pode levar tudo a sério, nem querer interpretar cada diálogo ao pé da letra. O próprio cenário, a trilha e os filtros amarelados usados para representar o México quente e perigoso – como os gringos costumam fazer –, corroboram os excessos da história ali contada. Ao mesmo tempo que vão de encontro à campanha #UnfilterMexico, que a marca de cerveja Corona lançou há pouco, junto com o diretor de fotografia mexicano Emmanuel “Chivo" Lubezki, com o objetivo de acabar justamente com esse estereotipo no cinema.

Por outro lado, entendo a indignação de alguns mexicanos, pois olhar-se no espelho nem sempre é fácil, mesmo que, tantas vezes, necessário. Nosso Brasil bem que precisava de um louco Estrada para espelhar na telona, a cada quadriênio, uma sátira de nossos presidentes e da evolução (ou involução) de nossa sociedade.

Saiba mais sobre a autora

*Lilia Lustosa é crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL)Suíca.


Capa do livro De Oscar a Niemeyer, de Ivan Alves Filho

Ivan Alves Filho publica livro De Oscar a Niemeyer

Comunicação FAP

O historiador, jornalista e documentarista Ivan Alves Filho publicou, nesta quinta-feira (27/4), o seu mais novo livro, De Oscar a Niemeyer, editado pela Aquarius Produções Culturais. Na obra, ele relata o “convívio com o maior arquiteto contemporâneo”. A publicação tem apoio cultural da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e do Instituto Cultural Biblioteca do Ó.

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Para adquirir o novo livro do historiador, entre em contato com a editoria, por meio de seu perfil no Facebook ou Instagram.

“Convivi com Oscar Niemeyer boa parte da minha vida. Eu o conheci ainda guri; meu pai se tornara seu amigo durante o tempo da construção de Brasília”, afirma o autor. “Oscar foi, para mim, um exemplo de criador e humanista, acima de tudo”, acrescenta. A capital federal completou 63 anos na última sexta-feira (21/4).

O autor conta que manteve contato com o arquiteto praticamente o tempo todo, desde que o conheceu, inclusive no exterior. “Lá em casa, nós o considerávamos um membro da nossa família, tamanha a nossa aproximação com ele”, diz, para acrescentar: “Sempre comentei com os amigos que Oscar explica o Niemeyer – e não o contrário. No centro de tudo, o homem”.

De acordo com o historiador, de fato, poucos trabalharam tanto na vida quanto Niemeyer, morto praticamente em cima de uma prancheta, poucos dias antes de completar 105 anos de idade. O aniversário seria em 15 de dezembro de 2012.

Niemeyer morreu no Rio às 21h55 do dia 5 de dezembro de 2012. Ele estava internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul.


Governo Lula: FAP realiza webinar sobre rumos da economia

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) realizará, nesta quarta-feira (26/4), a partir das 19 horas, webinar sobre os rumos do governo Lula na economia. O evento online será transmitido em tempo real, no site e nas redes sociais (Youtube e Facebook) da entidade, para todas as pessoas interessadas.

https://www.youtube.com/watch?v=AWXZ2ACU8ko

Clique aqui e veja série de eventos da FAP

Nova obra destaca propostas para desenvolvimento com inclusão social

Participam do debate o economista Benito Salomão, conselheiro da FAP e doutor em economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e a ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) Vanessa Petrelli, que também foi secretária municipal de Agricultura e Abastecimento de Uberlândia. Os dois são professores de economia e relações internacionais na UFU.

Otaviano Canuto, professor na Elliott School of International Affairs da George Washington University, também está confirmado para o debate. Ele ainda é professor afiliado na Universidade Politécnica Mohamed VI e do Center for Macroeconomics and Development em Washington.

A mediação é de Cezar Rogelio Vasquez, engenheiro de Produção pela UFRJ, mestre em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ e membro do Conselho Curador da FAP.

Estadão | Pesquisadores lançam propostas para retomada do desenvolvimento com inclusão social

Correio Braziliense | Livro debate desenvolvimento em várias frentes técnicas e ideológicas


Workshop poesia haicai | Arte: Washington Reis/FAP

Biblioteca Salomão Malina realizará workshop sobre poesia haicai

Comunicação FAP

A Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), realizará na segunda-feira (17/4), a partir das 19 horas, um worshop on-line sobre poesia hacai, a ser ministrado pelo professor argentino Javier Valado. O evento será realizado na mesma data em que o gênero literário é celebrado no Japão. Interessados poderão realizar as inscrições, gratuitamente. Haverá emissão de certificado para os participantes.

Clique aqui e faça a sua inscrição!

Para realizar as inscrições, as pessoas devem acessar o link do Google Forms disponibilizado pela biblioteca. O Workshop será realizado por meio da sala virtual do Zoom. O link de acesso ao evento será enviado para o WhatsApp ou e-mail cadastrado de cada inscrito. Mais informações podem ser obtidas diretamente pelo canal de comunicação oficial da biblioteca, pelo número: 61 98401-5561

Clique aqui e veja lista de eventos da FAP

De acordo com a organização do evento, o objetivo do workshop é incentivar a escrita criativa e instigar a leitura por meio do gênero de poesia haicai. Os participantes irão aprender sobre a origem da poesia no século XVII, sua estrutura gramatical tradicional (Aware, Kigo e Kireji) e sua relação com a natureza, a espiritualidade e o cotidiano. Também será discutido o haicai no Brasil e suas diversas estéticas e identidades poéticas.

O que é haicai

O haicai é uma poesia originada no Japão no século XVII (1600) e que está conformada por 17 sílabas, organizadas em seus 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas, respectivamente. A métrica das 17 sílabas não determina o que é um haicai, e, sim, que a musicalidade, a percepção, a admiração e a reflexão sejam suas bases poéticas.

Também é um gênero conhecido por ser uma prática e uma brincadeira poética a partir da qual as pessoas podem expressar e compartilhar sentimentos frutos das vivências cotidianas.

Professor convidado

Javier Valado é argentino, professor de espanhol, residente no Brasil desde 2013. No ano seguinte, começou a escrever haicais. Em 2019, mudou-se para o Distrito Federal.

Desde 2020, Valado ministra aulas, oficinas e cursos de haicai em parceria com escolas, bibliotecas, ONGs e espaços de cultura de Sobradinho e do Distrito Federal. 


Quando se mobilizam retoricamente as paixões, sempre se coloca sob suspeição a civilidade e se constitui uma ameaça à democracia | Foto: Shutterstock

Revista online | Editorial: O problema e suas raízes

Editorial da revista Política Democrática online (53ª edição)

Assistimos todos, neste fim de março, ao retorno ao Brasil do candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2022. Foram quase três meses de ausência, passados na Flórida, estado norte-americano governado pelos Republicanos, que vem se constituindo em refúgio de próceres da extrema direita latino-americana.

O desembarque, projetado para ser um ato político expressivo em seu apoio, reuniu poucos partidários, frustrados pelas medidas de segurança tomadas pelas autoridades, que, ao proteger o viajante, impediram, simultaneamente, qualquer manifestação política dos presentes. Não houve discursos nem carreatas, apenas a dispersão dos presentes.

O evento foi, contudo, revelador da estratégia adotada pelo comando político da direita autoritária, após sua derrota nas urnas. Manifestações, marchas, motociatas e carreatas serão organizadas, o contraponto presencial necessário aos comandos de agitação permanente, lançados nas redes sociais. O propósito desses chamados, nas redes e nas ruas, é manter aceso o ânimo dos correligionários e simpatizantes, o apoio a seu líder e sua hostilidade profunda ao conjunto de inimigos imaginários que alimentam a adesão ao movimento: globalistas, comunistas, ambientalistas, ideologia de gênero, entre outros. Além de, claro, prosseguir nesse rumo até as eleições de 2024, momento em que um bom resultado eleitoral, ao menos similar ao conseguido nas eleições legislativas do ano passado, é esperado.

O chamado às ruas dificilmente terá respostas positivas, dado que as mobilizações presenciais chamadas pela extrema direita deveram, como sabemos agora, muito do seu sucesso relativo ao investimento pesado de recursos públicos. No entanto, trazer periodicamente um punhado de militantes às ruas pode ser o contraponto suficiente para a agitação permanente divulgada nos diversos grupos de partidários organizados nas redes sociais.

A estratégia pode ter sucesso, se considerarmos principalmente o percentual de eleitores convencidos pelas notícias falsas despejadas todos os dias, ao longo de mais de quatro anos, nas redes sociais. Pesquisa recente revelou, por exemplo, que quase metade dos eleitores considera a transformação do Brasil num país comunista uma possibilidade real, ao longo do atual governo.

Compete aos democratas de todos os matizes, socialistas, social-democratas, liberais e conservadores, trabalhar, de forma coordenada e permanente, contra a situação de desinformação que assola hoje parte importante do eleitorado. Repetir os argumentos em favor da ciência e da democracia, contra as teorias da conspiração, os diversos negacionismos, as soluções violentas e autoritárias de problemas políticos.

Dizer, sempre, que não há maquinações globalistas, mas problemas globais; que nas democracias a definição dos culpados de corrupção é monopólio da Justiça; que a mudança climática já é uma ameaça que pesa sobre todos; que não existe um perigo comunista que nos aflige; que ideologia de gênero é o nome de um fantasma criado há pouco tempo para assustar os cidadãos; que pobreza, desigualdade e exclusão social são os verdadeiros problemas deste país, cuja solução é premente e indispensável para todos nós; finalmente que racismo, sexismo e homofobia são também problemas reais, responsáveis por uma extensa gama de violências praticadas contra seus alvos, violências que chegam, em muitos casos, à morte das vítimas.

Esse é o debate de fundo, que deve ser travado por todos os democratas contra os temores que alimentam a adesão à extrema direita no país.

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Imagem do filme Uma odisseia no espaço - Reprodução

Revista online | Clássicos da ficção científica, meio século depois, remetem a dilemas do nosso tempo 

Henrique Brandão*, jornalista, especial para a revista Política Democrática online (53ª edição)

Dois filmes emblemáticos de ficção científica completam este ano 55 anos de suas estreias no cinema e são referências até hoje, não apenas para os admiradores de sci-fi – uma enorme legião de aficionados! – mas para os amantes de cinema, em geral.  Estou me referindo a 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1928-1999), e Planeta dos Macacos, de Franklin J. Schaffner (1920-1989), ambos lançados em 1968. 

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Depois deles, o gênero foi elevado a outros parâmetros. Cada qual à sua maneira, tornaram-se modelos, que hoje em dia rendem fortunas em bilheterias.

Para além das questões técnicas e inovações que trouxeram, uma característica que faz esses filmes serem lembrados é, acima de tudo, as histórias que contam e as questões, atualíssimas, que levantam quanto ao futuro da humanidade.

À primeira vista, pelo enredo que apresenta, O Planeta dos Macacos aparenta ser uma bobagem: um grupo de astronautas aterrissa em um planeta que é dominado por símios e no qual os humanos são tratados e caçados como animais.

Mas o filme, adaptação do livro do escritor francês Pierre Boulle (1912-1994), marcou época, graças ao roteiro inventivo, à competente direção de Schaffner, à ótima atuação dos atores e à uma maquiagem excepcional, que levou um prêmio especial na premiação do Oscar – a categoria não existia até então. A produção custou U$$ 5,8 milhões, e a bilheteria americana rendeu US$ 32,5 milhões. O sucesso foi tamanho que gerou continuações, séries e rebbot que se desdobram até os dias atuais. 

2001 – Uma Odisseia no Espaço teve sua estreia em dois de abril de 1968. O roteiro, livremente inspirado no conto A Sentinela (The Sentinel), de Artur C. Clarke (1917-2008), foi escrito a quatro mãos por Kubrick, já considerado um dos melhores cineastas de sua geração, e Clarke, considerado um dos maiores escritores de ficção científica de todos os tempos. 

A reunião dessas duas figuras gerou uma das obras mais idolatradas da história do cinema. Reza a lenda que Clarke não gostou do que viu na première. Alegou que o filme tinha poucos diálogos. A versão que chegou às salas de cinema (149 minutos) tem menos 19 minutos do que a vista por Clarke, em razão de cortes feitos pelo próprio Kubrick. 

De fato, 2001 é carregado de “calmarias”. Os primeiros 25 minutos e os últimos 23 não têm diálogos, só trilha sonora. Contando esses momentos de mudez e outros que acontecem ao longo do filme, o total é de 88 minutos sem conversas. Sobram 61 para os diálogos, grande parte deles travada no embate entre o Hall 9000, uma máquina de Inteligência Artificial (IA) de última geração, com sua fala monocórdia, e o comandante da espaçonave Discovery One. Passado mais de meio século da estreia da fita, o uso cada vez maior da IA no cotidiano humano gera indagações importantes, como a feita pelo historiador Yuval Noah Harari em artigo publicado em O Globo (28/03): Precisamos aprender a dominar a inteligência artificial antes que ela nos domine.

2001 está carregado de cenas de grande beleza visual. A sequência inicial, em que o hominídeo descobre que o osso de um animal pode servir de arma para subjugar outros grupos rivais na pré-história e, para comemorar o fato, lança o osso para cima, virou um dos momentos mais sublimes do cinema. O osso sai girando no ar, em câmera lenta, ao som de Assim Falou Zaratrusta, de Richard Strauss (1864-1949). Em seguida, há um corte para o ano de 2001, com satélites a “navegar” o espaço sideral, ao som da valsa Danúbio Azul. Só música, a destacar a ligação do homem pré-histórico com o astronauta do futuro.

Kubrick não viu problema nesses “silêncios”. Suas produções anteriores tinham diálogos e narrações em off. Mas este foi intencionalmente quieto. Para ele, o importante era proporcionar uma experiência intensamente subjetiva.  "Se o filme conseguir atingir pessoas que nunca pararam para pensar no destino do Homem, terá tido sucesso", afirmou à época.

O Planeta dos Macacos vai em outra linha. Ao despertar de uma hibernação induzida, o comandante Taylor – interpretado por Charles Heston – descobre que está no ano de 3971, dois milênios à frente de seu tempo. 

A princípio, estaria em um planeta desconhecido. Aos poucos, constata-se que os animais deste planeta são humanos que não falam e são “domesticados” e caçados por macacos. Aparentemente, a evolução se inverteu: agora os macacos é que são a espécie dominante, inteligentes, enquanto os humanos são “animais” irracionais. 

Ao descobrir que os visitantes vindos do espaço falam, os chimpanzés, cientistas, se interessam em pesquisar sua história, desconfiados de que os macacos evoluíram dos humanos. No entanto, são impedidos pelo chefe político e líder de uma seita religiosa, um orangotango que tem uma versão diferente para o surgimento dos símios. Os militares, gorilas, têm uma aliança com o religioso e mantêm a ordem e os humanos sobre o poder das armas.  Alguma semelhança com o mundo atual?

A cena icônica de O Planeta dos Macacos é o seu fim. Após tanto tempo da estreia, não há problema de spoiler. Fugindo dos gorilas, o personagem de Heston se depara com a Estátua da Liberdade em uma praia deserta e árida, devorada pelo tempo, semicoberta. Mensagem clara: o homem destruiu a Terra. Provavelmente em uma guerra nuclear, já que a Guerra Fria era um dos maiores temores da época em que o filme foi realizado.

No entanto, o recado serve também de sinal para o perigo da devastação dos nossos recursos naturais, que pode condenar a humanidade a um futuro no qual o deserto e as chuvas torrenciais predominem.  Estão aí as mudanças climáticas batendo às portas.

Dois grandes filmes, com mensagens que ainda nos fazem refletir sobre qual modelo de civilização queremos.

Sobre o autor

*Henrique Brandão é jornalista e escritor

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de março de 2023 (53ª edição), editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não refletem, necessariamente, as opiniões da revista nem da FAP.

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Filme Entre Mulheres - Imagem: reprodução

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Lilia Lustosa*, crítica de cinema, especial para a revista Política Democrática online (53ª edição: março de 2023)

Um dos filmes que mais me chamou a atenção nesta temporada de premiações foi o Entre Mulheres (2022), da canadense Sarah Polley, que também assina o roteiro, premiado neste último Oscar na categoria Melhor Roteiro Adaptado. 

O longa-metragem, quarto da carreira da diretora, foi produzido pela grande Frances McDormand, que também atua no filme (com uma parte pequena), e toca em temas universais e superatuais, embora vividos em um mundo que parece tão distante no espaço e no tempo. Violência contra a mulher, patriarcado, religião, cegueira, culpa, perdão… está tudo ali na tela. Uma história baseada no livro homônimo da também canadense Miriam Toews, publicado em 2018, que foi, por sua vez, inspirado em fatos reais. Acredite se quiser!

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Na trama, vemos um grupo de mulheres que mora em uma colônia (não identificada no filme, mas que é inspirada na Colônia menonita Manitoba, na Bolívia) que segue dogmas religiosos bastante ortodoxos. Uma sociedade patriarcal, em que as mulheres não frequentam a escola, não aprendem a ler e não são autorizadas a sair das áreas “protegidas”. Coisa que quase todas aceitam “pacificamente”, já que é Deus quem está no comando. Prisioneiras do século 21, guiadas pela fé e pela covardia dos homens.

Acontece que todas as mulheres dali, incluindo crianças e idosas, são vítimas frequentes de atos de violência sexual, sendo, para isso, dopadas com químicos usados na agricultura. As consequências macabras de despertarem com hematomas, sêmen ou sangue no corpo são, em um primeiro momento, atribuídas a seres demoníacos, vindos de outra dimensão e, portanto, impossíveis de ser combatidos.  Até o dia em que duas adolescentes revelam ter visto um homem da própria Colônia fugindo na mesma noite em que uma criança fora violentada. Os suspeitos são levados à delegacia.

Diante das evidências e da ausência dos homens, que correm em defesa dos acusados, oito mulheres - brilhantemente interpretadas por Rooney Mara, Claire Foy, Jessie Buckley, Sheila McCarthy, Judith Ivay, entre outras - aproveitam para pensar em alternativas para a situação: 1) perdoar; 2) ficar e brigar; ou 3) fugir. As discussões são devidamente registradas em ata pelo professor dos meninos da Colônia, o sensível August (Ben Wishaw), cuja mãe havia sido excomungada por haver questionado as regras ali estabelecidas. O objetivo de todo esse “falatório" e de seu respectivo registro é ter insumos suficientes para exercer a democracia e fazer valer suas vozes, mesmo que para isso tenham que recorrer a desenhos e/ou símbolos na hora da votação. 

Com essa premissa, o filme se desenvolve em torno de muitos diálogos e reflexões (brilhantes, por sinal), muitas trocas de olhares e muitas expressões faciais e gestuais que não escapam à câmara atenta de Luc Montpellier. Aliás, a fotografia é outro ponto forte do filme, belíssima, com o predomínio de cores dessaturadas, frias, escuras, que refletem com maestria a ausência de alegria que parece ditar as regras da vida daquela gente. O formato widescreen (ou panorâmico) ajuda a expor a solidão e o isolamento daquelas mulheres que nunca viram um mapa em suas vidas. Ao mesmo tempo, os planos super abertos do campo contrastam fortemente com o ambiente claustrofóbico do celeiro que lhes serve de congresso para as discussões e votações. 

A trilha, assinada pela islandesa Hildur Guonadóttir, também merece destaque, já que alterna momentos sombrios com outros bem iluminados, representando com precisão a esperança daquelas mulheres ali enquadradas.

Entre Mulheres é um filme sobre o valor do diálogo e da democracia, sobre a coragem de enfrentar algozes em nome da liberdade, sobre a união como arma para lutar por uma causa maior, sobre educação de meninos e sobre tantos outros temas de plena relevância em tempos atuais. Lições aparentemente banais para nós, que vivemos em uma democracia e que desconhecemos a vida em cativeiro, mas de extremo valor para aqueles que, tão perto de nós, ainda têm de conviver com a ignorância das sociedades ditatoriais.

Entre Mulheres é também uma história sobre aquele sonho de justiça que insiste em morar em cada um de nós. Sonhos que podem parecer utopias descabidas, fantasias femininas ou até histerias, mas que se colocados em prática têm grandes chances de virar realidade. Sabiamente e, com um certo toque de ironia (já que na vida real as coisas não aconteceram bem assim…), Sarah Polley decidiu abrir seu longa com a frase: "Esta história é fruto da fértil imaginação feminina”. Que assim seja!

Sobre a autora

*Lilia Lustosa é crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL), Suíça.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de março de 2023 (53ª edição), editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não refletem, necessariamente, as opiniões da revista nem da FAP.

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Os fundadores do PCB em março de 1922, na cidade de Niterói (RJ) | Reprodução: Cidadania23

Revista online | A longa jornada de um partido em busca da democracia

* Daniel Costa, historiador e pesquisador, especial para a revista Política Democrática online (53ª edição: março de 2023) 

No apagar de 2022, entre o alívio do encerramento de mais uma página triste de nossa história e a esperança trazida pelos ventos do novo ano, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) ofereceu nova contribuição para a compreensão dos nem sempre claros meandros da nossa política. Com o lançamento de Longa Jornada até a Democracia, obra do jornalista Carlos Marchi, o leitor terá a oportunidade de acompanhar o tortuoso caminho do PCB em busca de uma sociedade igualitária e democrática. 

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Biblioteca Salomão Malina oferece empréstimo gratuito de 68 livros sobre PCB

100 anos do PCB: evento resgata memória e aponta desafios em Niterói (RJ)

O volume cobre parte da trajetória do partido, que acabou de completar 100 anos de existência. Partindo do momento anterior à fundação, Marchi traz o caldo político predominante nos círculos operários, onde o discurso e a prática política eram marcados pelo amálgama entre o anarquismo e o marxismo. Sua narrativa é encerrada em 1968, momento em que a ditadura civil militar edita o AI-5. A esquerda mundial é tomada pelos ventos do maio francês, e o PCB luta para consolidar a política definida em seu VI Congresso.

Livro Longa Jornada até a Democracia, de Carlos Marchi | Foto: Cleomar Almeida/FAP
Livro Longa Jornada até a Democracia, de Carlos Marchi | Foto: Cleomar Almeida/FAP

Realizado de forma clandestina, o encontro iria reafirmar as diretrizes da Declaração de 1958 e sua linha de atuação em torno da construção de uma oposição democrática. No momento em que grupos adotaram a estratégia da luta armada, o PCB optou pela luta dentro da institucionalidade, medida que fora muito criticada, porém, o tempo mostraria quem tomou a melhor decisão. O segundo volume dessa história, escrito pelo jornalista Eumano Silva, abordará a trajetória do partido do pós 1968 até sua transformação no Cidadania 23 e tem previsão de lançamento ainda para 2023.

O historiador Paul Ricoeur, em uma de suas obras, lembra que a memória é uma construção. Já para o também historiador Jacques Le Goff, assim como a memória, o esquecimento surge enquanto momento significativo da narrativa histórica, pois seria baliza de grande relevância no estabelecimento e consolidação de hierarquias entre grupos e indivíduos. Abro esse parêntese para trazer ao leitor que o centenário do partido vem sendo contado por diversos atores, desde intelectuais vinculados ao PCdoB (partido fundado em 1962), ao PCB (fundado em 1994) e ao Cidadania 23 (o legítimo portador do legado do partido fundado em 1922).

A seguir, veja fotos de lançamento do livro:

Escritor Carlos Marchi autografando obra para leitor
A obra Longa Jornada até a Democracia foi editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
Sessão de autógrafos em São Paulo
Evento foi presencial, no São Cristóvão Bar e Restaurante, na Vila Madalena
A obra relata a história do Partido Comunista Brasileiro
Livro foi lançado segunda - feira (12/12)
 Longa Jornada até a Democracia é o primeiro de dois volumes que abordam os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro
Sessão de autógrafos permitiu que muitos leitores conhecessem o grande escritor e jornalista Carlos Marchi
Escritor Carlos Marchi autografando obra para leitor
A obra Longa Jornada até a Democracia foi editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
Sessão de autógrafos em São Paulo
Evento foi presencial, no São Cristóvão Bar e Restaurante, na Vila Madalena
A obra relata a história do Partido Comunista Brasileiro
Livro foi lançado segunda - feira (12/12)
Longa Jornada até a Democracia é o primeiro de dois volumes que abordam os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro
Sessão de autógrafos permitiu que muitos leitores conhecessem o grande escritor e jornalista Carlos Marchi
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Escritor Carlos Marchi autografando obra para leitor
A obra Longa Jornada até a Democracia foi editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
Sessão de autógrafos em São Paulo
Evento foi presencial, no São Cristóvão Bar e Restaurante, na Vila Madalena
A obra relata a história do Partido Comunista Brasileiro
Livro foi lançado segunda - feira (12/12)
 Longa Jornada até a Democracia é o primeiro de dois volumes que abordam os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro
Sessão de autógrafos permitiu que muitos leitores conhecessem o grande escritor e jornalista Carlos Marchi
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O livro de Marchi insere-se nesse terceiro grupo, porém, como lembra o sociólogo Caetano Araújo, a perspectiva do autor é interna ao partido, fato que contribui para a construção de uma narrativa factual que consegue apontar os erros e acertos, fugindo de uma construção hagiográfica. Para o historiador Vinicius Muller, "um dos embates mais interessantes entre os que tentam reconstruir a História é aquele que opõe os que a entendem como ruptura aos que a entendem por ajustes".

Assim, a narrativa de Marchi acerta ao compreender as diversas viradas táticas e programáticas do PCB, enquanto ajustes dentro do processo de busca pela democracia. Ainda para Araújo, que assina a orelha da publicação, "visivelmente, o autor adotou no seu trabalho a diretriz de Salomão Malina, apresentada como epígrafe: afirmar a história do partido em sua inteireza, com seus acertos e equívocos. Só assim é possível resgatar o sentido dessa história, para os militantes do passado e do presente".

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No momento em que as redes sociais são povoadas de teses conspiratórias e fake news acerca da esquerda e mesmo da democracia, o livro de Marchi desmistifica fatos e personagens da história do PCB. Além de mostrar ampla bibliografia, que não fica devendo aos melhores trabalhos produzidos na universidade, o autor recorre a reconhecidos arquivos e a entrevistas com personagens relevantes na história do partido.

Outro mérito da obra é a análise do papel desempenhado por Luiz Carlos Prestes desde sua incorporação ao partido, ainda no começo da década de 1930. A adesão do líder da mítica Coluna foi o fermento para a tentativa de insurreição ocorrida em 1935. Marchi classifica o evento como "o mais trágico de todos os erros e de todas as quedas do Partido". A atuação política de Prestes, com seus erros e acertos, foi fundamental para a consolidação do PCB enquanto ator político de relevância  no país.

Algo comum entre historiadores é o fato de criticar obras de cunho histórico escritas por jornalistas. Algumas merecem tais observações, pois carecem de fontes, embasamento bibliográfico e, às vezes, até distorcem os acontecimentos em nome de uma suposta simplificação e maior "acessibilidade" ao leitor. No entanto, o volume escrito por Marchi encontra-se distante de tais defeitos, já que sua mais recente obra, desde o lançamento, pode figurar com tranquilidade na bibliografia de futuros estudos sobre o tema ou na estante daqueles interessados na política brasileira do século XX. 

O historiador Ivan Alves Filho, em seu livro Os nove de 22: O PCB na vida brasileira, também publicado pela FAP, diz que é “fundamental destacar na trajetória do PCB a sua capacidade  de vislumbrar o novo. E de apostar nele. Esse é um partido que se reinventa historicamente. Eu diria até que não tem medo de se reinventar historicamente". Essa ausência de medo em se reinventar fica nítida  ao longo da leitura dessa longa jornada até a democracia reconstituída com maestria por Carlos Marchi.*Daniel Costa é historiador pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e desenvolve pesquisa acerca da corrupção na América portuguesa, especialmente nas capitanias de Pernambuco e Minas ao longo do século XVIII.

Saiba mais sobre o autor

*Daniel Costa é historiador pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e desenvolve pesquisa acerca da corrupção na América portuguesa, especialmente nas capitanias de Pernambuco e Minas ao longo do século XVIII.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online (53ª edição: março de 2023), editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

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