Ascânio Seleme: Doze atributos

Bolsonaro tiraria 3,5. Um nível que não o distinguiria como pessoa acima da média.
Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Corrêa/PR

Bolsonaro tiraria 3,5. Um nível que não o distinguiria como pessoa acima da média

O escritor e paramédico Spencer Sekulin publicou no site Mind Cafe um artigo muito bom sobre o que chamou de “12 atributos das pessoas acima da média, segundo a filosofia”. Ele parte do princípio de que não existem truques para viver uma vida feliz e de sucesso. Nem mágica. As boas lições que podemos aplicar em nossas vidas já foram descobertas e debatidas pela filosofia muitas e muitas vezes e por anos e anos. E então ele lista uma dúzia destas lições. Cada um pode usar a lista para analisar sua própria vida, ver se está bem posicionado diante do inexorável. Vale também para checar pessoas públicas. Vamos ver Bolsonaro.

Ponto a ponto.

1 — “Respeitam e controlam suas reações.” Bolsonaro não atende a este ponto. Estridente e reacionário, sempre se excede e perde seguidamente o controle.

2 — “Veem a felicidade como uma decisão, não como um objetivo.” O presidente é um homem enfezado e pouco feliz, que parece se divertir mais com a desgraça alheia do que com o próprio prazer.

3 — “Ouvem mais do que falam.” Este não é o caso de Bolsonaro. Inseguro por razões óbvias, o presidente do Brasil fala muito mais do que ouve. Quer provar a si próprio que é o mandachuva. Tem gente que diz que não ouve ninguém porque nada entende.

4 — “Têm claros objetivo e direção para a vida.” Neste ponto, o capitão passa com nota máxima. Não há como negar que ele sabe para onde quer ir e como pretende chegar lá.

5 — “São verdadeiramente gentis.” Absolutamente este não é um atributo que se possa conferir a Bolsonaro.

6 — “Não se apoiam na sorte.” O capitão acerta muito mais por acaso do que por estratégia política, embora seja um homem determinado. Sua eleição foi alavancada pela facada que levou, um evento trágico, mas fortuito. Daria a ele metade deste ponto.

7 — “São intelectualmente humildes.” Mais uma vez não há como encaixar o presidente neste quesito. Por duas razões muito simples, ele não é intelectualmente equipado e obviamente não tem o menor traço de humildade em seu comportamento. Ao contrário, é de uma arrogância ignorante incomum.

8 — “Se satisfazem com pouco.” Bolsonaro nunca foi assim, sempre buscou mais. Mais dinheiro no bolso por meio de rachadinhas e pela apropriação ilegal de auxílio-moradia da Câmara. Mais um mandato. Teve sete de deputado e quer ter mais um de presidente. Mas aí, tudo bem. A tentação é excruciante.

9 — “Não têm vergonha de pedir ajuda.” Embora seja o dono da bola, que manda enquanto os outros são obrigados a obedecer, como descrito no item 3, não nega que desconhece economia, por exemplo. Por isso deu a Paulo Guedes o apelido de Posto Ipiranga, implicando que apenas ele tinha as respostas econômicas. Mas, ultimamente, tem dado muito pitaco até nessa área. Meio ponto.

10 — “Têm total responsabilidade por suas vidas.” Pode-se dizer que Jair é um homem decidido e aparentemente dono do seu próprio destino. Mas a ligação carnal com seus filhos o torna parcialmente dependente de decisões externas para dirigir sua vida. Mesmo sendo o líder do grupo, deposita tanta confiança nos seus três zeros que acaba comprometendo sua independência em tudo o que faz. Outro meio ponto.

11 — “Radicalmente protegem seus focos de atenção.” Nota dez para o capitão neste ponto. Não se conhece ninguém mais radical do que ele na defesa e na consolidação das suas crenças, sobretudo as mais bizarras e canhestras.

12 — “São recheados por amor.” O presidente brasileiro é muito mais reconhecido pelo seu ódio e pelo seu rancor do que por amor. Aliás, se existe amor em Bolsonaro, ele não é percebido a olho nu.

Muito bem. Somados os pontos conquistados nos quesitos de Sekulin, Bolsonaro tiraria 3,5 em 12. Um nível que não o distinguiria como pessoa acima da média, segundo a filosofia. Quem esperava resultado diferente pode até fazer uma releitura de cada item para tentar aprovar o presidente. Mas seria apenas um exercício de boa vontade. Aliás, se boa vontade tivesse entrado na lista do escritor, o capitão ganharia outro zero.

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