Day: dezembro 30, 2022

Pelé | Foto: Paulo Whitake/Reuters

Revista online | A marca Pelé

Álvaro José Silva, escritor e jornalista*, especial para a revista Política Democrática online (50ª edição: dezembro/2022)

Não me lembro bem das circunstâncias, mas um dia estava num ônibus que passaria pelo Pacaembu. Havia uma aglomeração em torno da mulher negra, vestida com o uniforme do Corinthians e que estava indo para o estádio onde jogariam seu time e o Santos. O Santos de Pelé.

Conversa daqui, conversa dali, e veio à tona o “tabu”. O Corinthians ficou 11 anos sem vencer o Santos, quase tudo por obra e graça “dele”, como falavam todos, inclusive Eliza, a torcedora símbolo. Perguntaram a ela se o “tabu” cairia naquele dia. “Acho que sim”, respondeu. E se Pelé um dia jogaria pelo Corinthians. “Quando estiver veterano”, apostou. Errou em ambas as previsões e desembarcou logo em seguida no ponto da Praça Charles Muller. O Rei do Futebol jamais jogou no Corinthians e o “tabu” caiu um ou dois anos depois, quando o Santos perdeu por 2 a 0 no mesmo Pacaembu. No dia seguinte a manchete em letras garrafais do jornal Gazeta Esportiva era: “Alegria, acabou o tabu”.

Acho que Eliza viu esse jogo. Não posso afirmar, mas ela ia a todos. Eu não pude ir porque o advogado amigo de papai que me levava chegou muito tarde e não havia mais lugar no estádio. Voltamos correndo para casa e vimos o clássico na TV pois a Federação Paulista de Futebol liberou a transmissão da TV Record ao vivo para evitar qualquer tipo de confusão. Eu, corintiano sempre apaixonado, vi o segundo tempo dos gols de Paulo Borges e Flávio com lágrimas nos olhos. Acabou o tabu!

Confira a versão anterior da revista Política Democrática online

Era assim que o futebol vivia ainda nas décadas de 1960/70. Gravitando em torno do Santos e de Pelé. E os jogos entre os chamados grandes lotavam os estádios quando aconteciam. Quase invariavelmente os santistas eram favoritos. Na rua onde eu morava, no bairro da Aclimação, São Paulo, éramos vizinhos de uma família de italianos. Luiz, o filho mais velho do fabricante de estátuas de alabastro era, claro, palmeirense. O irmão mais novo, Ricardinho, não. Contra a vontade da família toda torcia pelo Santos de Pelé. E isso acontecia com milhares de outros garotos em São Paulo e inúmeros outros lugares do Brasil e até mesmo do exterior já naquela época.

Antes do surgimento do maior jogador da história, o Santos era um clube médio, de um balneário muito procurado. Com Pelé, ele ganhou uma projeção nunca antes imaginada por ninguém. Afinal, era o endereço de Pelé e seus súditos: virou grande entre os grandes e começou a conquistar títulos em profusão. Também se tornou dono de uma das maiores torcidas de São Paulo, com adeptos apaixonados espalhados pelo Brasil todo e pelo exterior também. Eram os torcedores de Pelé, os admiradores do Rei que, quando vestia a camisa da Seleção Brasileira acabava reverenciado em todos os lugares. A marca Santos se tornou mais perene que a do Botafogo de Garrincha. E os dois viveram mais ou menos na mesma época.

O que Pelé tinha e os outros, não? Ele simplesmente era completo. Passava a bola, armava jogadas, chutava, dava assistência, cabeceava, cobrava faltas, escanteios, batia pênaltis, orientava os mais novos e até os mais velhos, discutia tática de jogo até com os técnicos. Sempre com genialidade. Em consequência disso tudo, tornou-se um grande conquistador de mulheres. Ia encerrar a carreira no Santos, mas não conseguiu resistir a uma proposta financeiramente imensa do New York Cosmos. Foi embora para tornar o futebol popular nas terras do basquete, do rugby, do beisebol e de outras modalidades meio estranhas a nós, os brasileiros.

Há uma diferença abissal entre Pelé e os jogadores de sua época e os atuais. E não apenas em termos de qualidade técnica, mas também em conscientização sobre o valor que cada um deve ter e dedicar ao exercício da atividade. Pelé jogou na época de Coutinho, Mengálvio, Pepe, Dorval, Zito e mais craques. E não apenas os do Santos, mas também Leivinha, Dudu, Ademir da Guia, Dino, Rivelino, Flávio e muitos outros. Tantos que a gente se esquece e nem tem espaço para falar de todos eles. Cito uma diferença fundamental: eram pessoas que vendiam sua arte despida de tudo o mais, menos os uniformes de jogo. Não eram árvores de falso Natal cobertas de tatuagens de cima abaixo. E nem aproveitavam os jogos de Copas do Mundo para saborear filés com ouro nos intervalos de uma para outra partida.

A exemplo de Neymar, Pelé tomava muitos trancos. Mas devolvia. Ao longo da carreira eu o vi nos estádios – sim, eu o vi ao vivo! – fazendo sinal de “aguarde o troco” para o adversário que o havia agredido. E não era de ficar caído no chão, rolando como uma bola. Levantava-se imediatamente como mola. Na Copa do Mundo de 1970, no México, atrasou um pique para esperar o adversário uruguaio que o estava caçando em campo. Deu-lhe uma cotovelada tão forte na cara que quase arrancou a cabeça do sujeito. Procópio, jogador do Cruzeiro, teve a perna fraturada num revide de Pelé. Giesemann, jogador da Alemanha, da mesma forma. Então os adversários sabiam que era perigoso caçar Pelé em campo. Por consequência, tentavam parar aquela máquina de jogar com futebol limpo. E ele retribuía da mesma maneira.

A gente pode argumentar: então o nosso Rei era violento? Sim, quando necessário. O gênio da bola estava longe de atuar como um monge budista. Num passado mais recente, quem chegou mais próximo da excelência dele foram jogadores como Zico e Sócrates, para ficarmos em apenas dois exemplos. Ambos eram virtuoses em sua profissão. Sócrates, tanto na bola quanto no copo, mas ninguém ligava para isso porque o retorno em campo estava garantido. Ironia do destino: nenhum dos dois foi campeão do mundo.

Mas não por ironia, Neymar também não será. O futebol que ele joga, e muitos dos nossos craques atuais vivem, muito mais de autopromoção do que de responsabilidade profissional. Querem ser astros sem história. Eu disse no início que Pelé gostava muito de mulher. Mas ele não se envolvia em escândalos, ao que consta jamais cometeu violências e, por consequência, nunca enfrentou um problema nessa área. Muito parecido com Sócrates, que mantinha a vida privada como coisa somente sua. Diferente de Zico, a vida toda casado com sua Sandra e somente com ela.

Vini Júnior, muito novo, talvez viva no futebol tempo suficiente para desembarcar no Brasil com o troféu da Copa do Mundo. Mas terá que rever seus princípios, sua maneira de viver e de encarar a profissão. Não basta apenas saber jogar para chegar ao Olimpo. O Palmeiras tem hoje Endrich, menino menor de idade e com um futebol fabuloso, tanto que já foi negociado para a Europa. Seria vital se as pessoas conseguissem enfiar na cabeça dele que a receita do sucesso passa por Pelé e não por Neymar. Também seria de bom tom explicar isso a Raphinha e a Richarlison, embora esse último seja apenas um rompedor. Problema nenhum porque Vavá também era e foi campeão do mundo pelo Brasil.

Nós ainda temos muito potencial, mas ele está sendo perdido por causa do descompromisso dos jogadores com a responsabilidade que o futebol cobra de seus profissionais. E isso hoje tem muito a ver também com os treinadores, já que eles aceitam situações que no passado seriam impensáveis. Dizem: fora de campo a vida dos jogadores é problema deles. Não é.

Pelé, muito jovem, teve a oportunidade de jogar uma vez pelo Vasco, seu time do coração na infância, antes de ser tomado de amores pelo Santos. Interessante, mas o clube do bairro carioca de São Januário também tinha uma mulher, Dulce Rosalina, como sua torcedora símbolo. E, ironia do destino, foi no Vasco do goleiro Andrada que o Rei marcou seu milésimo gol, numa cobrança de pênalti, em pleno Maracanã que o reverenciava.

Veja, a seguir, galeria:

Foto: Divulgação/Instagram do Pelé
Foto: Neil Hall/Anadolu Agency/Getty Images
Foto: Ronaldo Kotscho/Revista Placar
Foto: Reprodução/Twitter do Pelé
Foto: Reprodução/Divulgação Santos FC
Foto: Gabriel Lopes/Getty Images
Foto: Francois Guillot/AFP
Foto Divulgação/Instagram do Pelé.png
Foto: Divulgação/CBF
Foto: Alessandro Sabattini/Getty Images
Foto: Divulgação/Instagram do Pelé
Foto: Neil Hall/Anadolu Agency/Getty Images
Foto: Ronaldo Kotscho/Revista Placar
Foto: Reprodução/Twitter do Pelé
Foto: Reprodução/Divulgação Santos FC
Foto: Gabriel Lopes/Getty Images
Foto: Francois Guillot/AFP
Foto Divulgação/Instagram do Pelé.png
Foto: Divulgação/CBF
Foto: Alessandro Sabattini/Getty Images
previous arrow
next arrow
 
Foto: Divulgação/Instagram do Pelé
Foto: Neil Hall/Anadolu Agency/Getty Images
Foto: Ronaldo Kotscho/Revista Placar
Foto: Reprodução/Twitter do Pelé
Foto: Reprodução/Divulgação Santos FC
Foto: Gabriel Lopes/Getty Images
Foto: Francois Guillot/AFP
Foto Divulgação/Instagram do Pelé.png
Foto: Divulgação/CBF
Foto: Alessandro Sabattini/Getty Images
previous arrow
next arrow

Mas quem não fazia isso era o goleiro Mão de Onça, do Juventus. Nascido Durval de Moraes em 1931 e ainda vivo hoje, negro que chegava a brilhar, tinha um medo paranoico de Pelé. Quando jogava contra seu maior algoz, começava a gritar com os companheiros, tão logo o jogo começava: “Segura o Negão! Porrada no Negão! Cerquem o Negão! Marquem o Negão!” e ia por aí. Invariavelmente o Negão vencia e o pobre Mão de Onça ia buscar a bola no fundo das redes. Hoje há uma estátua de Pelé no estadinho do clube no bairro da Mooca, na Rua Javari, em São Paulo.

Mas não por causa de seu goleiro. É que foi lá, em 2 de agosto de 1959, que o Rei marcou aquele que ele próprio considerava seu maior gol. Recebeu a bola na entrada da área, deu um chapéu no primeiro adversário, em seguida deu outro no segundo e, com Mão de Onça no ar, saltando para evitar o gol, ainda teve como dar um terceiro nele e depois tocar de cabeça para o gol diante de incrédulos torcedores que se levantaram para aplaudir de pé.

Quando ele jogava bem não dava para segurar o Negão!       

Sobre o autor

*Álvaro José dos Santos Silva é escritor e jornalista.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de dezembro/2022 (50ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

Leia também

Revista online | Editorial: Sinais de 2023

Revista online | São Ismael Silva

Revista online | Avatar 2: Sublime até debaixo d’água

Acesse a 49ª edição da Revista Política Democrática online

Acesse todas as edições (Flip) da Revista Política Democrática online

Acesse todas as edições (PDF) da Revista Política Democrática online


Manifestantes bolsonaristas atearam fogo em um ônibus no centro de Brasília | Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Revista online | Editorial: Sinais de 2023

Após um ano tenso e conturbado, o país está às vésperas do início de um novo ano e da passagem do governo para as forças vitoriosas no segundo turno das eleições. No entanto, o desenrolar do processo político, no período curto que se encerra entre a votação e a divulgação dos resultados do segundo turno e a posse dos eleitos, pleno de episódios graves e inesperados, deixa sinais que permitem perscrutar tendências possíveis para o primeiro ano do novo governo.

Chama a atenção, em primeiro lugar, o chamado à radicalização, que levou partidários do governo que se encerra à concentração em torno de instalações militares, na capital e em diversas cidades do país. Manifestantes pediram, ao longo de dois meses inteiros, o não reconhecimento do resultado das eleições, por meio da ação das Forças Armadas, contra os Poderes Judiciário e Legislativo. Parte desses manifestantes promoveu tumultos em diversos pontos de Brasília, contra as medidas repressivas tomadas pela Polícia Federal. Finalmente, uma parte menor ainda desse coletivo procedeu ao planejamento e execução de atentados terroristas, com potencial enorme de vítimas, no caso de sua concretização. Tudo sob a sombra da condescendência das autoridades do Distrito Federal, de parte dos efetivos policiais e até, ao que consta, de setores militares.

Esse processo e o apoio que encontra em parte expressiva da população, assim como as vitórias eleitorais em governos de Estados relevantes, no Senado e na Câmara dos Deputados, indicam a persistência do curto prazo de uma oposição expressiva de extrema direita autoritária ao governo que se inicia em janeiro.

Veja, a seguir, galeria de fotos de manifestações contra Bolsonaro:

previous arrow
next arrow
previous arrow
next arrow

O novo governo, por seu turno, parece ter cumprido com sucesso sua primeira tarefa política: a montagem de uma equipe com a amplitude suficiente para garantir um mínimo de governabilidade, nas duas Casas do Congresso Nacional. No entanto, esse processo deve prosseguir, até a obtenção de um acordo com todas as forças políticas democráticas, com os objetivos de isolar a oposição autoritária, pactuar uma agenda de objetivos comuns no que toca à reconstrução democrática do país, com destaque para a promoção da inclusão e o combate às desigualdades, assim como uma estratégia de atuação coordenada até as eleições municipais de 2024, momento em que forças democráticas e autoritárias se enfrentarão mais uma vez no campo da disputa pelo voto dos eleitores.

Urge retirar, de forma paciente, por meio da política, a direita autoritária da condição de alternativa real de poder. Apenas dessa forma o debate e a disputa legítima no interior do campo democrático poderão fluir de forma livre e construtiva, resultando em ganhos sustentáveis no que toca ao incremento da equidade, da prosperidade e da sustentabilidade no país.

Leia também

Revista online | São Ismael Silva

Revista online | Avatar 2: Sublime até debaixo d’água

Acesse a 49ª edição da Revista Política Democrática online

Acesse a 48ª edição da Revista Política Democrática online

Acesse todas as edições (Flip) da Revista Política Democrática online

Acesse todas as edições (PDF) da Revista Política Democrática online


Nas entrelinhas: Morte de Pelé ofusca o anúncio dos novos ministros

Luiz Caros Azedo | Correio Brasiliense

A Esplanada, com 37 novos ministros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representa uma coalizão de nove partidos no primeiro escalão. Há 11 ministros sem filiação ou vinculação partidária. Ontem, foram indicados os 16 que faltavam, entre os quais duas estrelas, Simone Tebet (MDB) no Planejamento e Marina Silva (Rede) no Meio Ambiente, ambas ex-candidatas a presidente da República. MDB, União Brasil e PSD levaram nove dos novos indicados, a maioria políticos sem projeção nacional. Agora, Lula administra o descontentamento do Solidariedade, PV e Cidadania, partidos que o apoiaram no segundo turno e ficaram fora do primeiro escalão. Lula pretende ampliar seu governo com indicações dessas legendas para cargos importantes no segundo escalão, mas isso ficará para depois da posse.

Entretanto, o anúncio dos novos ministros foi completamente ofuscado pela morte do Pelé, aos 82 anos, que estava internado em estado grave, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo. Ele era a personalidade brasileira mais admirada e reconhecida internacionalmente; sua morte está tendo enorme repercussão mundial. Foram proféticas as palavras do escritor e jornalista Nelson Rodrigues, ao ver Edson Arantes do Nascimento jogar pela primeira vez e se surpreender com a idade do craque: “É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado”, escreveu na coluna intitulada “Meu personagem do ano”, de janeiro de 1958. Pelé tinha apenas 17 anos.

“Mas, reparem: é um gênio indubitável! Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: ‘Como vai, colega?’.” Pelé foi coroado rei do futebol pelo cronista em março de 1958, quando Nelson Rodrigues escreveu na Manchete Esportiva: “Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável — a de se sentir rei, da cabeça aos pés”. Manteve a coroa de forma eterna. Para os especialistas, será muito difícil surgir um jogador tão completo quanto ele. Tive o privilégio de vê-lo jogar no Estádio Mario Filho, no Maracanã, contra o Flamengo e com a camisa rubro-negra, ao lado de Zico.

Ele foi personagem marcante do meu primeiro trabalho remunerado, ainda na adolescência. Minha missão era retransmitir os jogos da Copa da Inglaterra (1966) na loja de venda de anúncios classificados dos jornais O Dia e A Notícia na Baixada Fluminense, à na Rua Manoel Teles, em Duque de Caxias. A tarefa consistia basicamente em ligar e desligar o rádio e os alto-falantes, abrir e fechar a loja, que mais tarde viria a abrigar a sucursal dos dois diários de Chagas Freitas na Baixada Fluminense e nos quais comecei minha vida de repórter, em fevereiro de 1969. Ainda não havia transmissão direta por tevê.

A campanha da Seleção Brasileira de futebol foi a mais atabalhoada já feita, apesar de os jogadores chegarem com a aura de bicampeões do mundo. Na preparação, o técnico Vicente Feola convocou 47 jogadores, que se revezavam em quatro times. A equipe passou por Lambari, Caxambu, Teresópolis, Três Rios e Niterói antes de viajar a Londres. Paulo Amaral, o preparador físico, deu lugar ao professor de judô Rudolf Hermanny, cujos métodos eram inadequados para o futebol. Apesar de ganhar massa muscular, a
equipe não aguentava os 90 minutos de correria em campo.

Duas Copas

Além disso, a equipe titular somente foi escalada e passou a treinar às vésperas da Copa. Reuniu craques de 1958 e 1962, como Pelé, Garrincha, Gilmar e Bellini, e jogadores que ainda iriam se destacar com a camisa do Brasil na Copa do México de 1970, como Gérson, Jairzinho, Lima e Tostão. Na estreia, o Brasil ganhou da Bulgária por 2 x 0, gols de Garrincha e Pelé. A multidão, que acompanhava os jogos pelos alto-falantes, sorria, urrava e chorava de alegria. Quando o jogo acabou, fechei a loja, fiz um lanche no City Caxias, o bar da esquina, e fui para a rodoviária pegar o Meier-Caxias, de volta casa, no Engenho Novo, no Rio. A sensação era de sócio da vitória da Seleção e de dever cumprido. Pelé era o meu herói, o orgulho da nação.

No jogo seguinte, porém, veio a decepção. Antes de a partida começar, concentrada sob os pilotis do prédio onde ficava a loja, a multidão já estava apreensiva, porque Pelé não entrou em campo contra a seleção da Hungria. O rei havia sido perseguido implacavelmente pelos zagueiros da Bulgária; foi vitorioso, mas acabou contundido. Com ajuda dos camaradas búlgaros, eram dois países da chamada Cortina de Ferro, os húngaros venceram por 3 x 1 e acabaram com invencibilidade brasileira de 13 jogos em mundiais. A última derrota havia sido justamente para a Hungria, em 1954, na “Batalha de Berna”, como o jogo ficara conhecido, por causa da briga entre os atletas das duas equipes.

Pelé entrou em campo no jogo seguinte, e a esperança voltou aos torcedores, que uivavam quando o locutor narrava as jogadas do craque. A vaga para as quartas de final estava sendo disputada com a seleção de Portugal. Entretanto, Pelé jogou contundido, na base do sacrifício; de novo, foi duramente caçado pelos adversários, sem condições físicas de escapar das chuteiras dos marcadores. O Brasil foi derrotado por 3 x 1 e eliminado da disputa. Quando a partida terminou, meu trabalho acabou. Desliguei os alto-falantes, o rádio, fechei a loja e fui para casa chorando, como a maioria dos torcedores. É a mesma tristeza que senti ontem, só que agora é irreparável, ao contrário do que aconteceu em 1966. Na Copa do México, que assistimos ao vivo e em cores pela tevê, quatro anos depois, Pelé e seus companheiros conquistariam o tricampeonato mundial de futebol para o Brasil.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-morte-de-pele-ofusca-o-anuncio-dos-novos-ministros/

Arte: João Rodrigues/FAP

Paulo Baia: “A eleição presidencial de 2026 já começou”

João Rodrigues, da equipe da FAP

Neste domingo, 1º de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva toma posse como presidente do Brasil pela terceira vez. Após tentativas de atos terroristas, Brasília terá segurança reforçada para a cerimônia de posse. A capital deve receber cerca de 300 mil pessoas para o evento, na Esplanada dos Ministérios, a partir das 14h.

Para analisar a conjuntura política que marca o início do novo governo, o último podcast de 2022 da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) bate um papo com Paulo Baía. Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o cientista político recebeu em 22 de novembro a Medalha Tiradentes, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A homenagem é fruto de sua vasta trajetória acadêmica e contribuição para formulação de políticas públicas no país.



 O clima de tensão às vésperas da posse do novo governo, a leniência das autoridades com os casos de vandalismo em Brasília e o futuro político da senadora Simone Tebet (MDB/MS) também estão entre os temas do programa. O episódio conta com áudios do Jornal da Band, UOL, TV Cultura, Band Jornalismo, Record News, TV Fórum e Rádio BandNews FM.

O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Youtube, Google PodcastsAnchorRadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues.

RÁDIO FAP