Day: março 17, 2022

Revista online | Lilia Lustosa: Geraldo e Jabor brilham em outros firmamentos 

Lilia Lustosa / Revista Política Democrática online

No final de 1962, o jovem Arnaldo Jabor participava como intérprete do curso ministrado no Rio de Janeiro pelo já consagrado documentarista sueco Arne Sucksdorff, em uma ação conjunta da Unesco e do Itamaraty. Naquele mesmo ano, o recém-formado em Direito Geraldo Sarno chegava a Cuba, indicado pela UNE, para ver de perto o trabalho do famoso ICAIC - Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos. Ganha uma bolsa e decide ficar por lá mais um ano, desvendando os poderes da sétima arte para mudar assim o rumo de sua história. E também da nossa.  

No mês passado, em um espaço de uma semana, os dois jovens que naquele fim de 1962 se iniciavam no mundo do cinema resolveram partir para brilhar em outros firmamentos. Primeiro foi Jabor, no dia 15, notícia que deixou o país em choque, órfão de um cineasta-analista político-cultural de tamanha grandeza. Em seguida, dia 22, foi a vez de Geraldo Sarno, vítima da maior praga dos últimos anos, a Covid-19.  

Geraldo percorreu a trilha do documentário e participou, junto com Maurice Capovilla, Sérgio Muniz, Paulo Gil Soares e mais um bando de argentinos vindos de Santa Fe, do que mais tarde ficaria conhecido como Caravana Farkas. Os primeiros quatro filmes desse “movimento”, que de certo modo estava inserido no Cinema Novo, inauguravam no Brasil o então badalado cinema-direto, fazendo uso do primeiro gravador portátil Nagra a pisar no Brasil, trazido justamente por Sucksdorff.

Geraldo assinou Viramundo (1965), curta-metragem sobre a diáspora nordestina, que mostrava de maneira nua e crua a chegada dos sertanejos a São Paulo, com suas barrigas vazias e suas trouxas cheias de esperança. Um tema hoje bastante batido, mas que naquele então era novidade. Principalmente, porque não se esquivava de mostrar pobreza e a discriminação sofrida pelos nordestinos que chegavam ao sudeste do país. Com música de Gilberto Gil, o filme foi um sucesso entre os críticos, mas, como todo documentário crítico à realidade brasileira, nunca encontrou seu lugar no circuito das salas de cinema. Nem mesmo quando em 1968, foi reunido aos outros três curtas, compondo assim o longa Brasil Verdade.  

Jabor, por sua vez, rumou para a ficção, embora sua opera prima tenha sido também um documentário realizado dentro dos mesmos moldes do cinema-direto. A Opinião Pública (1967) era uma espécie de enquete feita com brasileiros comuns, membros da classe média do país, que discutiam sem pudor política, misticismo, burguesia etc. Era uma tentativa de traçar um retrato do nosso povo feito por ele mesmo, sem filtros, revelando suas incongruências, idiossincrasias e sonhos manipulados. Uma classe maleável, sem domínio sobre si própria. Na ficção, um dos seus maiores sucessos foi Toda Nudez Será Castigada (1973), longa adaptado da peça homônima de Nelson Rodrigues. Como era costume em sua obra, o filme criticava a hipocrisia da burguesia com seus “rígidos” códigos de moral e costumes.

O longa rendeu para a atriz Darlene Glória o Urso de Prata no Festival de Berlim, da mesma maneira que Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), outro de seus grandes hits, consagrou Fernanda Torres como Melhor Atriz em Cannes. Na década de 90, porém, com o fim do fomento estatal para a produção cinematográfica no governo Collor, Jabor enveredou pelo jornalismo. Primeiro como colunista de O Globo, depois de vários telejornais da mesma emissora: Jornal Nacional, Bom Dia Brasil, Jornal da Globo, Fantástico, Jornal Hoje e ainda da Rádio CBN, onde era voz frequente. Tornou-se figura conhecida e respeitada em todo o país. Em 2010, fez mais uma (e última) incursão no cinema com A Suprema Felicidade, estrelado por Marco Nanini, filme bonito e terno, mas que não agradou tanto à crítica especializada.  

Geraldo Sarno lançou em 2020 lançou Sertânia, ganhador de vários prêmios. Foto: Divulgação

Já seu companheiro Geraldo Sarno não arredou jamais o pé do cinema e ainda em 2020 lançou Sertânia, ganhador de vários prêmios, provando que, do alto de seus mais de 80 anos, continuava com todo o gás para apresentar novos olhares da realidade. Com uma fotografia impecável, nele o cineasta retorna ao sertão, desta vez, ambientando sua história em um só dia do período pós-cangaço, quando o protagonista Antão (Vertim Moura) delira em seu leito de morte. Entre sonho e realidade, o homem viaja por sua memória, enquanto nos leva a repensar fantasmas do passado e do presente, como a fome, a miséria e a violência. Uma bela maneira de encerrar sua obra aqui na terra.  

Tenho pra mim que agora Geraldo e Jabor estão sentados com Capovilla, Eduardo Coutinho, Nelson Pereira dos Santos e tantos outros grandes cineastas que nos deixaram nos últimos anos, discutindo argumentos, revendo roteiros e sonhando com novas histórias que pintem com cores verdadeiras nosso Brasil tão despedaçado 

Saiba mais sobre a autora
*Lilia Lustosa é crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL)Suíca.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de março/2022 (41ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

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Silva e Luna deve cair porque é improvável que a Petrobras recue do aumento

Adriana Fernandes / O Estado de S. Paulo

Jair Bolsonaro foi aconselhado pelos seus principais ministros a manter o general Joaquim Silva e Luna à frente da Petrobras, mas segue o mesmo roteiro que levou à demissão de Roberto Castelo Branco em fevereiro de 2021, após o quarto aumento no preço dos combustíveis anunciado pela estatal, o que na época irritou imensamente o presidente.

Bolsonaro frita Silva e Luna num caldo quente feito à base de gasolina. É questão de tempo a queda do general, que o presidente colocou há um ano no comando da Petrobras acreditando que iria resolver o problema da alta dos combustíveis na marra. Já naquele momento, o presidente era alvo das críticas de apoiadores pela alta dos preços. 

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A bola da vez é para que a estatal reverta os reajustes da gasolina, do diesel e do GLP anunciados na semana passada com o argumento de que os preços do petróleo estão caindo no mercado internacional.

Os presidentes da CâmaraArthur Lira, e do SenadoRodrigo Pacheco, subiram o tom. Pacheco chegou a conclamar que a empresa contribua na “luta comum do Brasil” contra o aumento dos combustíveis.

Patético. 

Tudo isso porque está ficando cada vez mais claro que a redução dos tributos não vai resolver o problema e as mudanças no ICMS, muito menos. Como mostrou o Estadão, em nove Estados e no DF a unificação da alíquota pode até mesmo provocar um aumento da carga tributária.

Silva e Luna deve cair em breve porque é muito improvável que a Petrobras recue do aumento e reduza os preços em tão pouco tempo. A Petrobras ficou muitos dias sem fazer os reajustes, e não é na primeira queda do preço do petróleo lá fora que a empresa poderá reverter o movimento.

Terreno perfeito para o enredo do roteiro da fritura continuar se desenvolvendo. Indicado para comandar o conselho de administração da Petrobras, Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, recebeu a encomenda e deve assumir o comando da empresa. Ele nunca escondeu que esse sempre foi o seu sonho, agora cada vez dia mais próximo.

O enredo presidencial também conta com a adoção de subsídio direto financiado pelo Tesouro (que deve sair a contragosto de Paulo Guedes) e com uma mudança na lei das estatais para que Bolsonaro consiga implementar o seu desejo público de alterar a política de preços da Petrobras. 

*REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,adriana-fernandes-petrobras-joaquim-silva-e-luna-jair-bolsonaro-combustiveis-aumento,70004010856


Maria Hermínia Tavares: Palavras de mulher

Maria Hermínia Tavares / Folha de S. Paulo

Na semana passada, pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher, o Brasil teve de se haver de novo com manifestações patéticas, típicas do clamoroso reacionarismo do presidente, dessa vez secundado pelo procurador-geral da República. Um e outro incapazes de entender o valor da igualdade de direitos entre mulheres e homens numa sociedade civilizada, muito menos os avanços na matéria nas últimas décadas.

Eis por que merece leitura atenta o "Observatório Febraban 2022 – mulheres, preconceito e violência", que apresenta os resultados de uma sondagem com 3.000 brasileiras, esmiuçando seus pontos de vista sobre diferentes dimensões das iniquidades de gênero no país.

Embora considerem que as coisas melhoraram um pouco, oito em cada dez entrevistadas no estudo se disseram insatisfeitas com o tratamento que recebem da população —as negras mais do que as brancas, as solteiras mais do que as casadas.

Oportunidades semelhantes no mercado de trabalho e na educação; combate à violência de gênero e punição dos agressores; acesso a cargos de liderança; e o compartilhamento efetivo do trabalho doméstico são considerados indicadores de igualdade mais importantes do que a superação de normas conservadoras de conduta, maior liberdade sexual ou o direito ao aborto.

Em consequência, as manifestações mais sentidas de iniquidade são os desníveis de salário e as oportunidades profissionais desiguais; o fardo da faina doméstica; e os papéis sociais de coadjuvantes a que são relegadas as mulheres. Somando-se às manifestações rotineiras de preconceito e discriminação; ao assédio sexual e moral e à violência —vivida sobretudo em casa—, constituem, para as brasileiras, o núcleo das desigualdades de gênero. Dele já não faz parte o acesso à educação, percebido como um caminho aberto às mulheres. Já a sub-representação política, embora reconhecida, parece menos relevante.

As brasileiras reconhecem o papel das feministas para o avanço da igualdade. Uma em cada duas entrevistadas cita a Lei Maria da Penha —que visa punir a violência de gênero—, como o principal marco dessa jornada. Bem à frente do direito ao voto, lembrado por 19% das entrevistadas. Talvez por desconfiança do jogo político, a maioria (55%) se opõe às cotas partidárias, entendendo que a representação feminina deve ser espontânea e fruto do mérito individual.

Nem a agenda dos direitos reprodutivos, nem a da representação política fluem das prioridades captadas pela pesquisa da Febraban. Condições necessárias para uma sociedade mais justa, só podem ser obra de paciente persuasão.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/maria-herminia-tavares/2022/03/palavras-de-mulher.shtml


Merval Pereira: Ciclo de negócios

Merval Pereira / O Globo

A batalha do presidente Bolsonaro com a Petrobras pelo preço da gasolina, do diesel e do gás resume o que historicamente acontece no Brasil em anos eleitorais. Também a distribuição de verba pública para a população, como o repasse do dinheiro do FGTS e o novo Bolsa Família turbinado, está incluída em estudos que mostram quão poderoso é o efeito de políticas de rendas nos períodos eleitorais.

As maiores quedas de pobreza acontecidas no Brasil nos últimos anos se deram em anos eleitorais. São planos, porém, que geram custos sociais traduzidos em desemprego mais alto e renda mais baixa. Historicamente, nos últimos 40 anos pelo menos, a utilização de políticas monetárias, fiscais e cambiais com claros objetivos político-eleitorais gera “Ciclos Políticos de Negócios” (CPNs), cuja principal característica é a redução do desemprego em períodos pré-eleitorais, resultante de políticas cujo objetivo seria proporcionar um ambiente positivo capaz de influenciar o resultado eleitoral.

Após esse período de crescimento, no entanto, o pós-eleitoral é caracterizado por inflação em alta, cuja consequência é a adoção de políticas macroeconômicas contracionistas. A maxidesvalorização de 1983 ou a desvalorização do real em 1999, depois da eleição, são exemplos típicos desse fenômeno. Essa instabilidade, além de problemática do ponto de vista ético, é danosa à taxa de crescimento de longo prazo da economia.

O economista da FGV-Rio Marcelo Neri, que estuda essa característica brasileira, tem alguns exemplos históricos a ressaltar. Em 1986, o Plano Cruzado, lançado pelo governo Sarney em fevereiro, teve a duração de nove meses e foi substituído pelo Plano Cruzado II, seis dias depois de o governo ter obtido a maior vitória eleitoral da História da República: elegeu 22 de 23 governadores e quase dois terços da Câmara e do Senado e das Assembleias Legislativas.

Com os salários congelados havia nove meses, a população sofreu aumentos num só dia de 60% no preço da gasolina e 120% nos telefones e energia, entre outros. Segundo os estudos de Neri, a comparação pré e pós-eleitoral em 1986 revela que a proporção de indivíduos que obtiveram redução de renda é superior, no período pós-eleitoral, para todas as faixas de educação, o que identificaria os planos como oportunistas. Em 1989, à semelhança de 1986, houve um componente oportunista: a queda de renda no período pós-eleitoral, quando comparado ao período pré-eleitoral, foi generalizada.

Em 1994, o Plano Real não tinha características oportunistas e promoveu melhor o desempenho de renda no período pós-eleitoral. Os grandes beneficiários do surpreendente boom pós-eleitoral foram os analfabetos, o que certamente levou à vitória de Fernando Henrique à Presidência. O ano de 1998 apresenta proporções de redução de renda em níveis bastante superiores aos observados nos três episódios pré-eleitorais anteriormente analisados. Segundo Neri, devido às crises externas, o governo não teve a oportunidade de gerar um ambiente eleitoral propício, mas apenas postergou a adoção de medidas impopulares como a desvalorização cambial, que afetaram decisivamente a avaliação do governo tucano.

A eleição de Dilma Rousseff em 2010 custou ao país uma grave crise econômica, gerada pela gastança do governo petista, que produziu um crescimento do PIB de 7,5% no ano eleitoral. A partir daí, o governo Dilma não teve condições de reorganizar as finanças públicas e, com sua “nova matriz econômica”, levou o país à bancarrota.

Michel Temer, que assumiu a Presidência com o impeachment de Dilma, não teve condições políticas de fazer malabarismos econômicos na sucessão e acabou alijado da disputa presidencial, que chegou a acalentar. A polarização ficou entre o PT, com Haddad, e Bolsonaro, que agora retoma a prática de distribuir bondades para tentar se reeleger.

Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/ciclo-de-negocios.html


Malu Gaspar: Bolsonaro e Lula oferecem soluções populistas para crise dos combustíveis

Malu Gaspar / O Globo

Todo mundo sabia que a economia seria o tema central da eleição de 2022. Mas quiseram a subida do dólar, a guerra na Ucrânia e a consequente alta na inflação que os dois principais candidatos à Presidência da República fossem confrontados já sobre temas centrais como a política de preços para os combustíveis ou a importância das reformas em seus futuros governos.

Estamos atravessando uma quadra capaz de delimitar os rumos da campanha. Se a cotação do petróleo escalar demais, será impossível conter o preço dos combustíveis e o efeito cascata sobre a inflação, o que favoreceria Lula e sepultaria as chances de Bolsonaro.

Do contrário, se o valor do barril de petróleo parar de subir, e o governo conseguir estabilizar os preços dos combustíveis sem quebrar as contas públicas, o presidente ganha um respiro. Todos os movimentos têm sido feitos de olho nesse cenário, e o que se tem visto até agora é puro populismo.

Sob a justificativa de impedir que a economia vá para o buraco, Bolsonaro vem acelerando o uso da máquina e as benesses indiscriminadas. Façamos as contas: serão R$ 30 bilhões em saques antecipados do FGTS, R$ 56 bilhões com o adiantamento do décimo terceiro para pensionistas e aposentados do INSS, R$ 90 bilhões para o Auxílio Brasil e até R$ 120 bilhões num fundo de estabilização dos preços dos combustíveis. Sem contar os cortes de impostos e subsídios fiscais, que poderão chegar a R$ 230 bilhões. Só aí vão, por baixo, uns R$ 500 bilhões.

Pode acontecer, porém, de todo esse dinheiro ser gasto e, ainda assim, Bolsonaro não conseguir nem reativar a economia, nem ganhar a eleição. A experiência já demonstrou que distribuir recursos de forma indiscriminada não é necessariamente a solução mais eficaz.

Além do mais, não está ao alcance do presidente da República fazer a cotação do petróleo e a do dólar caírem. E intervir na política de preços da Petrobras já foi, no passado, um tiro no pé. O presidente sabe disso, então esperneia contra a Petrobras e tenta empurrar a culpa para o general Silva e Luna, mas não resolve o problema.

O PT assiste de camarote, contando com o cenário pessimista. Em suas projeções, os conselheiros econômicos de Lula estimam que os estragos provocados pela alta do petróleo e pela guerra da Ucrânia serão tão grandes que tornarão a reeleição impossível para Bolsonaro. Por esse cálculo, basta a Lula jogar parado, como se diz no futebol, esperar o adversário se afundar e partir para o abraço.

É uma aposta com razoável probabilidade de sucesso. Mas embute riscos, porque, no caso do PT, existe um componente nada desprezível a combater: o antipetismo, professado por mais ou menos 45% dos eleitores, a depender da pesquisa. É menos que os quase 60% que não votam de jeito nenhum em Bolsonaro, mas ainda assim uma parcela relevante. Nessa batalha de rejeições, o presidente aproveitará todas as oportunidades possíveis para reativar esse antipetismo. E a missão de Lula, pelo menos em tese, é aliviar o peso dessa rejeição.

Não dá, por isso, para entender muito bem por que Lula tem feito um discurso excessivamente voltado para suas bases. Só nas últimas semanas, ele prometeu que o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fará parte de um futuro governo seu e defendeu os regimes autoritários de Cuba e da Venezuela.

Também afirmou que, se eleito, revogará a política de preços da Petrobras. A razão por que Lula tem recorrido a essa estratégia é um mistério até para alguns aliados. Ninguém discute que o petista não será vitorioso em 2022 falando para convertidos, mas até agora é exatamente isso o que ele tem feito.

Sempre que questionados, seus auxiliares mais próximos sugerem que o petista deve migrar para o centro quando o prazo para troca de partido terminar, e as alianças estiverem definidas. Foi o que Lula fez em 2002, com a Carta aos Brasileiros — divulgada só em junho, quando a campanha eleitoral já estava mais adiantada.

Por ora, no entanto, tudo o que os dois principais candidatos à Presidência têm oferecido para as questões complexas com que fatalmente terão de lidar são soluções simplistas que custam caro e adiantam pouco. Não se vê, nessa disputa tão precocemente polarizada, nenhum incentivo para uma discussão mais aprofundada sobre o que pode ser feito para reduzir nossas vulnerabilidades e evitar repetir erros do passado.

Tudo gira em torno de chavões eleitoreiros, enquanto esperamos a guerra acabar para ver o que sobra para nós. Como se já não houvesse razões suficientes, está aí mais uma boa razão para torcer pela paz. 

Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/malu-gaspar/post/populismo-na-largada.html


Míriam Leitão: Juros em alta e economia fraca

Míriam Leitão / O Globo

Os juros subiram aqui e nos Estados Unidos. E vão continuar subindo. Nos dois países, as taxas foram elevadas não por causa da guerra, mas para combater a inflação que já estava alta, antes de o primeiro tanque russo tomar a estrada para Kiev. Contudo, aqui e lá a pressão inflacionária e o cenário econômico pioram muito com a guerra. O Fed deixou claro que este é o início do ciclo que pode incluir mais outras seis elevações com movimentos mais fortes do que o 0,25 ponto percentual aprovado desta vez. O Copom subiu a taxa em um ponto percentual, avisou de uma próxima alta da mesma magnitude e alertou que tudo piorou na economia internacional.

Há diferenças importantes. O Brasil está estagnado, e os Estados Unidos, crescendo. O Brasil tem alto desemprego e os Estados Unidos estão com o mercado de trabalho aquecido. Tanto que esse foi um dos motivos alegados pelo próprio presidente do Fed, Jerome Powell, para elevar os juros. Lá a taxa estava próxima de zero, e aqui já subiu muito e agora foi para 11,75%. Para um país, como o Brasil, cuja previsão de crescimento não passa de meio por cento é uma enormidade.

O Banco Central justificou a alta dos juros explicando que o ambiente externo “se deteriorou substancialmente”, as condições financeiras pioraram e aumentou a incerteza. A guerra da Ucrânia, segundo o BC, produziu um “choque de oferta” que tem “o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias”.

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a incerteza geopolítica coloca uma pressão a mais na inflação de curto prazo. O Fed elevou sua projeção de inflação para 4,1% a 4,7%. Mas no ano passado foi de 7%. O cenário de juros subindo nos Estados Unidos movimenta todo o fluxo de capitais e isso pode produzir uma alta do dólar aqui. Os próximos dias serão fundamentais para se entender a leitura dos mercados sobre a mudança da política monetária americana, em sua primeira alta desde 2018. O dólar caiu no começo do ano, mas isso está mudando. Mesmo com a alta dos preços das commodities, a valorização do real não deve se sustentar nos próximos meses, porque o ano é de muita instabilidade política e da política econômica.

Os últimos dias foram ilustrativos da confusão que é o processo decisório na área econômica a partir do reajuste da gasolina. O presidente Bolsonaro está claramente criando constrangimentos públicos para que o presidente da Petrobras, general que ele mesmo nomeou, deixe o cargo. É uma encenação eleitoreira. Com isso Bolsonaro quer dar a impressão de que está ao lado do consumidor, seja o dono de carro da classe média, seja o caminhoneiro. E assim tenta se descolar da impopularidade que a alta dos preços dos combustíveis provoca.

O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, na entrevista que concedeu a Manoel Ventura, foi bem claro ao explicar a dinâmica dos preços, confirmando o risco de desabastecimento. “Hoje, 41% (dos derivados) são produção de outros ou são importação. Se o indivíduo comprar por 10 e a Petrobras estiver vendendo por cinco, ele vai trazer para o mercado aqui? Não. Então é um risco.”

Há um bate cabeça também em torno do subsídio à gasolina e ao diesel. Já foram dados R$ 20 bilhões na eliminação do PIS/Cofins do diesel, GLP e querosene de aviação. Bolsonaro quer que seja feito o mesmo com a gasolina, o que seria outro gasto de R$ 27 bilhões. Para o governo é uma perda de receita exorbitante, para o consumidor faria pouca diferença.

A preocupação de Bolsonaro se concentra no posto de gasolina, mas a do consumidor é também com o supermercado e a padaria. As cadeias do trigo, do milho e da carne já estão sentindo o efeito da alta das cotações e a dúvida sobre a oferta dos produtos. O preço dos fertilizantes está contaminando os custos da safra que nem foi plantada ainda. A energia terá reajustes fortes este ano, mesmo com o fim da bandeira de escassez hídrica que derrubará o índice de inflação em maio. O empréstimo que as distribuidoras estão pegando será pago por todos nós, a partir do ano que vem. E como os juros estão subindo, o custo será alto.

A situação econômica ficou ainda mais desfavorável à reeleição do presidente. Bolsonaro fará tudo o que puder para tentar mudar o jogo. Ele tem a máquina, ele tem o cofre, ele tem uma equipe econômica submissa. O Banco Central sabe disso. Tanto que alertou contra o risco fiscal presente e futuro.

Fonte: Míriam Leitão / O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/juros-em-alta-e-economia-fraca.html


Bruno Boghossian: Bolsonaro recupera eleitores e murcha 'direita não bolsonarista'

Bruno Boghossian / Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro sentiu em 2020 um primeiro aperto em sua eterna campanha pela reeleição. A demissão de Sergio Moro e a gestão mortífera da pandemia desorganizaram seu campo político. Em abril, o presidente caiu para 20% das intenções de voto numa pesquisa Ipespe, enquanto o ex-juiz e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta somavam quase 30%.

A ideia de fabricar uma direita não bolsonarista para a sucessão do presidente tomou fôlego naquele momento, mas não chegou inteira ao ano da eleição. Números recentes de diversos institutos sugerem que o próprio Bolsonaro reconquistou parte dos eleitores que flertavam com outros candidatos que correm (ou já correram) em sua raia.

Com sinais de retomada da popularidade, o presidente se aproximou da casa dos 30% em simulações de primeiro turno. Ele ainda enfrenta incertezas em relação ao cenário econômico, mas o quadro atual mostra um Bolsonaro com vantagem sobre concorrentes diretos (Moro tem 7% ou 8%), em busca do posto de candidato dominante nesse campo.

O cenário indica que o presidente pode e star se beneficiando de um retorno de seus eleitores. Parte das pesquisas mais recentes mostra que ele recuperou terreno em segmentos que impulsionaram sua vitória em 2018, mas se distanciaram do governo em algum momento –nas faixas de renda mais altas e nas regiões Sul e Centro-Oeste, por exemplo.

A principal hipótese é que esses eleitores olharam as vitrines da vizinhança, mas não encontraram o que procuravam. Bolsonaro voltou a ser visto por muitos deles como um nome que defende seus interesses e é mais competitivo do que os demais para enfrentar Lula.

As dificuldades da tal terceira via fizeram com que o presidente conseguisse retomar o favoritismo dentro dessa fatia do eleitorado, apesar de sustentar altos níveis de rejeição fora dela. Um possível repique na inflação representa uma ameaça a essa posição. Até aqui, no entanto, boa parte da direita não bolsonarista ainda tem olhos para Bolsonaro.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/bruno-boghossian/2022/03/bolsonaro-recupera-eleitores-e-murcha-direita-nao-bolsonarista.shtml


Câmara aprova PL que aumenta gastos do governo em comunicação digital

Izael Pereira e Iander Porcella / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA — A Câmara aprovou nesta quarta-feira, 16, um projeto de lei que flexibiliza as regras para contratos de serviços de comunicação digital da União, dos Estados, do Distrito Federal (DF) e dos Municípios. Com o aval dos deputados, o PL vai ao Senado. O texto permite que os órgãos públicos gastem com esses serviços, no primeiro semestre do ano eleitoral, a média mensal dos gastos dos três anos anteriores ao pleito. A legislação atual estabelece que esse cálculo seja feito a partir da média dos gastos apenas do primeiro semestre dos três anos anteriores à eleição. 

O projeto abrange contratações de serviços de comunicação digital - mídias sociais e canais digitais - e serviços de comunicação corporativa, ou seja, relação com a imprensa e relações públicas. 

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Segundo a consultoria legislativa da Câmara, a média que pode ser gasta pelo governo federal em 2022 com esses serviços, com base na regra atual, seria de R$ 140,2 milhões. Com a proposta, o valor passaria para R$ 165,7 milhões.

 “Hoje o que prejudica é que todos os estados saem concentrando esses recursos nos primeiros seis meses e ficam sem recursos para fazerem suas campanhas institucionais durante todo o ano. Esta média está sendo dividida, não é a ampliação para seis vezes, é dividida mensalmente, fazendo o cálculo durante 12 meses, e não 6 meses como era na legislação anterior”, explicou a relatora,  deputada Celina Leão (Progressistas-DF), durante a sessão que aprovou o projeto.

O substitutivo da relatora também determina que o cálculo das médias dos gastos anuais previstos serão reajustados pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) ou outro índice que venha a substituí-lo. As licitações, de acordo com o texto, deverão adotar como obrigatórios os tipos “melhor técnica” ou “técnica e preço”. 

A oposição criticou o projeto e disse que a intenção é favorecer o presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve concorrer à reeleição em outubro. “É um absurdo que um projeto desse tramite na Câmara dos Deputados faltando seis meses para a eleição e pretendendo o governo, abertamente, afrouxar os critérios para contratação e ampliar enormemente os recursos que pretende investir na comunicação digital”, criticou o líder da bancada do PCdoB, Renildo Calheiros (PE). 

“Com nítida intenção eleitoral, o projeto do governo permite a contratação de comunicação digital e institucional, além de aumentar o período de média de gastos. É alimentar a máquina de ódio bolsonarista em ano de eleição. Vergonhoso”, disse a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

O autor da proposta inicial, deputado Cacá Leão (Progressistas-BA), argumentou que os contratos de comunicação digital e comunicação corporativa equiparam-se aos contratos de publicidade, e que por isso os critérios previstos na lei 12.232 de 2010 deveriam ser estendidos a esses contratos. 

O projeto  proíbe, contudo, que órgãos públicos federais, estaduais ou municipais empenhem no primeiro semestre do ano de eleição despesas com publicidade que excedam a seis vezes a média mensal dos valores empenhados e não cancelados nos três últimos anos que antecedem as eleições.

Publicidade sobre covid 

O projeto acatou uma emenda do Deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) para estabelecer que, no segundo semestre de 2022, serão permitidas apenas publicidade institucional de atos e campanhas destinados exclusivamente ao enfrentamento da pandemia de covid-19 e à orientação da população quanto a serviços públicos. 

A Lei das Eleições (9.504/97) proíbe, nos três meses antecedentes às eleições (julho a setembro), que os gestores realizem publicidade institucional de atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública reconhecida pela Justiça Eleitoral.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,camara-aprova-pl-que-permite-aumento-de-gastos-do-governo-em-comunicacao-digital,70004010963


PL das Armas: Autores de ameaças são atiradores e colecionadores, diz relator

Camila Zarur / O Globo

BRASÍLIA — O relator do projeto de lei denominado de PL das Armas, senador Marcos do Val (Podemos-ES), informou nesta quarta-feira que os autores das ameaças feitas a senadores críticos da proposta são dois homens que integram a categoria de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs). Eles foram identificados pela Polícia Legislativa, após os parlamentares denunciarem os ataques na semana passada. Levantamento feito pelo GLOBO identificou certificados que permitem a posse de armas a integrantes de milícias e grupos de extermínio, além de armeiros de facções do tráfico.

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No plenário do Senado, Do Val informou que um dos agressores já tinham o registro de três armas. Segundo o senador, ele perderá o direito a posse e porte de arma, além de deixar de ser categorizado como CAC. Do Val afirmou ainda que a polícia do Senado pretende indiciar o agressor, além de relatar o inquérito e enviá-lo à Justiça

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Os alvos das ameaças foram as senadoras Eliziane Gama (Cidadania-MA), Simone Tebet (MDB-MS) e o senador Eduardo Girão (Podemos-CE). As senadoras relataram ter recebido e-mails com ameaças. As duas eram chamadas de "cadelas" nas mensagens.

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O projeto de lei, que tramita na Comissão de Constituição em Justiça (CCJ), pretende flexibilizar dispositivos do Estatuto do Desarmamento, facilitando a distribuição de armas. Por conta das ameaças, Do Val decidiu adiar a análise do projeto na CCJ.

O relator da proposta afirmou que os autores foram identificados pela Polícia Legislativa, conforme já havia dito o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na segunda-feira. Segundo Do Val, um dos autores das ameaças estava em seu intervalo como vigilante quando fez a ameaça.

— De forma brilhante, em apenas um único dia, [a Polícia Legislativa] já conseguiu identificar um dos autores, que foi quem enviou a mensagem para a senadora Eliziane Gama. Ele é de Palmares, Maceió. É um CAC, é um vigilante também, estava no seu quarto de hora e achou que pudesse mandar uma mensagem ofendendo a nossa querida senadora Eliziane Gama.

Do Val, que leu parte do inquérito da Polícia Legislativa em seu discurso na tribuna, disse que as ameaças foram feitas no dia 9 de março, mesma data em que a senadora pediu vista do PL das Armas na CCJ.

O segundo autor das ameaças, de acordo com Do Val, é do estado de São Paulo e foi interrogado pela Polícia Legislativa. Na oitiva, ele confessou o crime, assim como o agressor identificado em Maceió.

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— Após o registro da ocorrência, a polícia do Senado obteve êxito em identificar o autor de fato, o que demandou o envio de uma equipe de policiais legislativos ao Estado de São Paulo para o colhimento do seu interrogatório. Durante a oitiva, o autor confessou as ameaças e disse estar arrependido. Também disse ter iniciado o processo para compra de arma de fogo — disse o senador, lendo o relátorio do inquérito da corporação.

Segundo Do Val, a polícia também vai pedir a suspensão do processo de compra de armas do agressor.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/autores-de-ameacas-contra-senadores-contrarios-pl-das-armas-sao-atiradores-colecionadores-diz-relator-25435674


Ciro Nogueira usa Dilma e Gleisi para atacar Lula e indica tática de Bolsonaro

Cristina Camargo / Folha de S. Paulo

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), afirmou em entrevista ao Conversa com Bial (Globo), na madrugada desta quinta (17), que vê o ex-presidente Lula (PT) como um candidato "aprisionado", com medo de mostrar quem está a seu lado.

Um dos principais líderes do centrão, Ciro Nogueira citou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, como pessoas que atrapalham o petista. "Esse é o problema, ele não pode fazer campanha."

A declaração do aliado de Jair Bolsonaro (PL) indica uma linha de campanha do presidente. O próprio mandatário já tinha usado tática semelhante para atacar Lula, ao dizer que tanto Dilma como o deputado cassado José Dirceu seriam ministros de um eventual novo governo do petista no Planalto.

Para Ciro Nogueira, Bolsonaro não tem chance de ganhar a eleição no Nordeste.

"O presidente Bolsonaro vai ganhar no Nordeste? Não. Mas vai ter uma votação muito maior do que a que teve na eleição passada", disse, ao ser questionado sobre como os partidos de direita e centro farão para atacar Lula (PT) nos estados nordestinos.

Para Nogueira, o presidente perde no Nordeste, mas ganha nas outras regiões do país, onde ele aposta que haverá uma derrota significativa de Lula.

O ministro acredita que Bolsonaro pode ser reeleito no primeiro turno. "Nas convenções, já vai estar na frente. Mais perto da eleição, vamos fazer as contas para ver se ganha no primeiro turno. Minha previsão é essa, pelas pesquisas que temos em mãos", disse, sem dar detalhes dessas pesquisas.

Nogueira lembrou que nunca um presidente deixou de ser reeleito no Brasil. Para ele, a população sente que o governante merece um segundo mandato.

O ministro afirmou que o segundo turno já começou e ninguém foi capaz de viabilizar uma candidatura na chamada terceira via.

"As pessoas que se apresentaram, como o [Sergio] Moro, não passaram confiança. As pessoas sentiram [que é] um aproveitador de momento", disse.

Em relação a Bolsonaro, que já chamou de fascista, o ministro vê um amadurecimento político nos anos como presidente da República. "Tivemos que nos unir para transformar esse país", afirmou o ministro, que já foi aliado de Lula.

Os dois momentos, com críticas a Bolsonaro e elogios a Lula, foram mostrados em vídeo durante a entrevista.

Nogueira elogiou a espontaneidade do presidente. Na opinião dele, Bolsonaro fala o que pensa e tem uma forma diferente de se comunicar. "Se ele mudar essa espontaneidade, será um grande erro."

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/03/ciro-nogueira-usa-dilma-e-gleisi-para-atacar-lula-e-indica-tatica-de-bolsonaro.shtml


Lei Paulo Gustavo provoca racha na família Bolsonaro

Redação / O Estado de S.Paulo

Senado Federal aprovou nesta semana um projeto de lei que libera R$ 3,86 bilhões do Fundo Nacional de Cultura (FNC) para fomentar projetos culturais, com o objetivo de recuperar o setor após perdas ao longo da pandemia da covid-19. Com 74 votos favoráveis e somente uma abstenção, a chamada “Lei Paulo Gustavo” dividiu governistas e a família do presidente Jair Bolsonaro (PL) após correligionários votarem contra o interesse do secretário especial da cultura Mário Frias

O texto que segue para sanção homenageia o humorista Paulo Gustavo, morto por covid-19 em 2021 e defensor da vacinação como forma de combater o avanço da pandemia. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi um dos que aprovou a lei em plenário, e disse que o voto homenageia o que o governo federal fez ao longo da pandemia. Também justificou a posição ao apontar que a cultura teria sido uma das vítimas do “fique em casa” e que, por isso, precisa do aporte financeiro. 

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Nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (União-SP) divergiu do irmão e criticou a aprovação, além de reclamar da homenagem ao humorista. “Não queremos mais uma CPI da Rouanet, mas agora com o nome do artista. Trabalhemos pelo veto na Câmara e sua manutenção”, escreveu. Ele também recusou o avanço do apoio ao setor cultural em votação na Câmara dos Deputados, junta a parlamentares governistas como Carla Zambelli (União-SP) e Daniel Silveira (União-RJ).

Outros senadores com histórico de apoio a Bolsonaro, como Fernando Bezerra (MDB-PE), Luiz Carlos Heinze (PP-RS), Marcos Rogério (PL-RO) e o relator Alexandre Silveira (PSD-MG), que já foi convidado para ser líder do governo na Casa, também votaram a favor da medida. 

Já Mário Frias afirmou que a decisão do Senado é um “absurdo” e “inconstitucional”. “A Câmara dos Deputados tinha conseguido apresentar uma proposta razoável, mas foi completamente descartada”, publicou.

O Senado reverteu duas mudanças na lei feitas pela Câmara dos Deputados, recuperando dispositivo que estimulava a participação de pessoas LGBTQIA e a que dava maior poder à Secretaria Especial de Cultura sobre a distribuição dos recursos. 

Se a lei for sancionada, a União terá de enviar o dinheiro diretamente aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios para ser executado até 31 de dezembro de 2022. A maior parte dos recursos será destinada ao setor de audiovisual.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
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Por que o desempenho de Bolsonaro melhora nas pesquisas? Entenda

Daniel Bramatti / O Estado de S.Paulo

Em 18 pesquisas eleitorais divulgadas desde o início do ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece crescendo levemente ou oscilando para cima, dentro da margem de erro. Isso pode indicar que o pagamento do Auxílio Brasil, iniciado em janeiro, está influenciando a seu favor. Mas esse efeito, até o momento, é pouco expressivo – no máximo, o candidato à reeleição subiu três pontos porcentuais.

O movimento coincide com o recuo do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), que apresenta baixa nos mesmos levantamentos. É como se parte de seus simpatizantes estivesse migrando ou voltando para o bolsonarismo. Líder na corrida eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou praticamente estável na maioria das pesquisas em 2022.

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A mais recente foi publicada nesta quarta-feira, 16. Segundo o instituto Quaest, Lula figura com 46% das intenções de voto. Bolsonaro tem 26% e é seguido por Ciro Gomes (PDT), com 7%, e Moro, com 6%. Esses valores se referem às médias de cada candidato nos três cenários testados. Na série de três pesquisas que o Quaest fez desde janeiro, o presidente subiu três pontos, enquanto Lula oscilou um ponto para cima. 

Ao acabar com uma das principais marcas dos governos petistas, o Bolsa Família, e criar o Auxílio Brasil, programa mais abrangente e com pagamentos mais elevados – embora sem garantia de continuidade –, Bolsonaro tinha a expectativa de capturar o eleitorado mais fiel a Lula, o de menor renda. Até o momento, não houve mudanças expressivas nesse segmento.

Na pesquisa Quaest, o petista tem 35 pontos porcentuais de vantagem sobre o presidente (54% a 19%) entre os eleitores com renda de até dois salários mínimos. No mês passado, o placar era de 55% a 16%. O instituto não divulgou o detalhamento por renda em janeiro.

O Auxílio Brasil não foi o único fator a influenciar o eleitorado desde o início do ano, período marcado pelo aumento da inflação e por um novo agravamento da pandemia de covid-19. Em março, segundo a Quaest, quase metade dos eleitores (47%) apontaram a economia como o principal problema do País. O termo agrega temas como desemprego, inflação e crescimento. Em janeiro, a economia causava menos preocupações – era citada por 37% como o pior problema.

Para o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, Bolsonaro não está roubando, mas recuperando votos perdidos. “O que a gente está observando é a volta dos que não foram. Aquele eleitor que foi do Bolsonaro, que tentou sair dele à procura de um candidato mas não conseguiu decidir-se em nenhum nome e agora está voltando para o lugar de onde nunca saiu”, disse. 

Marco Antonio Carvalho Teixeira, pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas, concorda. “Bolsonaro volta a índices próximos de avaliação do governo”, disse. 

O Quaest, contratado pela corretora de investimentos Genial, fez 2.000 entrevistas presenciais em 120 municípios. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o protocolo BR-06693/2022.

O PoderData também divulgou na quarta-feira, 16, pesquisa, que mostrou Lula com 40% e Bolsonaro com 30%. Diferentemente do Quaest, o PoderData faz pesquisas por telefone. Estas, na comparação com as presenciais, tradicionalmente atribuem resultados piores para Lula e melhores para os adversários. /COLABOROU GUSTAVO QUEIROZ

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,por-que-o-desempenho-de-bolsonaro-melhora-nas-pesquisas-entenda,70004010914