Day: dezembro 16, 2019
Ricardo Noblat: Em votação, o primeiro Orçamento da União 100% impositivo
Congresso ocupa espaço deixado pelo governo Bolsonaro
É no que dá um governo que não liga para articulação política, não liga para a falta que lhe faz uma base de apoio no Congresso, não liga para a sorte dos projetos que despacha para lá, e tampouco para o fato inédito na história do país de o presidente da República ter abandonado em tempo recorde o partido pelo qual se elegeu.
Embora se apresente como o presidente que mais reverencia e respeita o Congresso, Jair Bolsonaro, de fato, demonstra um enorme desprezo por seus antigos colegas. Faz questão de manter distância deles, só aparecendo por lá para fazer pirotecnia e tirar selfies. Prefere a companhia dos seus ex-colegas de farda.
Não existe espaço vazio na política. E se o presidente da República não ocupa o que por tradição seria seu, o Congresso o faz. Esta semana, segundo o TAG REPORTER, relatório semanal das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros, o Congresso votará o primeiro Orçamento da União 100% impositivo, o de 2020.
Foi no governo da presidente Dilma Rousseff que as emendas individuais de deputados federais e de senadores se tornaram impositivas. No vazio político do governo Bolsonaro, o processo ganhou velocidade e irá se completar. Ele será obrigado doravante a cumprir todas as prioridades estabelecidas pelo Congresso.
Mesmo o poder do governo de contingenciar recursos será limitado. Na semana passada, por exemplo, o Congresso aprovou projeto de lei que resgatou trechos da Lei de Diretrizes Orçamentárias vetados por Bolsonaro. E incluiu outros dispositivos que tinham ficado de fora. Tais como:
+ Emendas de comissão e do relator-geral do Orçamento também passam a ser impositivas;
+ As emendas do relator-geral do Orçamento (no valor de R$ 7 bilhões em contrapartida ao valor de R$ 15 milhões de cada emenda de parlamentar) terão de ser empenhadas num prazo de 90 dias;
+ O contingenciamento de emendas parlamentares (individuais, de bancada, de comissão e do relator) será obrigatoriamente linear.
Bolsonaro, claro, tem poder de veto sobre as mudanças que o Congresso fizer. Como o Congresso tem o poder final para derrubar os vetos que ele faça. É o que no Congresso se promete fazer. A briga dos dois poderes poderá acabar no Supremo Tribunal Federal.
Bruno Carazza: Happy New Years and Years
A onda é de direita, mas a maré pode virar
A vitória acachapante de Boris Johnson nas eleições britânicas reforçou as referências a “Years and Years”, a distópica coprodução da BBC com a HBO que retrata uma família britânica, os Lyons, em meio às reviravoltas políticas, econômicas e tecnológicas do mundo num futuro próximo - a primeira temporada se passa entre 2024 e 2029.
A conexão com nossa realidade atual se deve principalmente a Vivienne Rook (Emma Thompson), uma mulher de negócios sem papas na língua que, com um discurso radical nacionalista e contrário à política tradicional ascende de forma meteórica de deputada a primeira-ministra. Impossível não associar a carreira meteórica de Rook à onda que levou ao poder de Trump a Bolsonaro, passando pela vitória conservadora no Reino Unido na semana passada. Mas a força de “Years and Years” não está em captar essa mudança política e especular sobre seus efeitos futuros. O que mais me impressionou na série foi a mudança ocorrida nas pessoas.
Os Lyons podem ser vistos como a idealização da família inglesa contemporânea: bem-sucedidos profissionalmente, progressistas nos costumes (com seus relacionamentos homoafetivos e interraciais) e engajados politicamente com causas como a preservação ambiental, a inclusão de deficientes físicos e o acolhimento de refugiados políticos. Não por acaso, os Lyons eram eleitores tradicionais do partido trabalhista inglês. Mas à medida em que as circunstâncias políticas e econômicas vão mudando suas condições financeiras e as crises delas decorrentes vão chegando cada vez mais perto, suas convicções vão sendo revistas, uma a uma.
Entre 10 e 14 de junho, o podcast “The Daily”, do jornal New York Times, apresentou uma série de cinco episódios (“The Battle for Europe”) sobre a onda de nacionalismo que varre a Europa nos últimos anos, culminando com uma votação massiva nos partidos de direita nas últimas eleições para o Parlamento Europeu. Para entender as raízes dessa crise do liberalismo europeu, a chefe do escritório do jornal em Berlim, Katrin Bennhold, realizou uma viagem de dez dias pela França, Itália, Polônia e Alemanha, entrevistando pessoas comuns que decidiram se envolver com a política de diferentes formas.
Manifestantes de coletes amarelos no norte da França, uma jovem da Toscana que se tornou a primeira prefeita do movimento A Liga na Itália, além do caso da mulher de um político que foi assassinado depois de participar de uma parada LGBT e decidiu enfrentar os partidos de direita na Polônia - por meio de um mosaico de visões sobre as crises na Europa, o programa discute as causas da falência do modelo político europeu.
Com a mesma temática, um dos livros mais importantes do ano foi “O Povo contra a Democracia: por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la”, do professor Yascha Mounk, professor da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. Impressionado com o crescimento do radicalismo de direita na Alemanha, sua terra natal, Mounk apresenta, numa linguagem muito clara, como a perda de ilusões quanto ao futuro e o sentimento de desamparo diante do sistema político têm colocado a democracia liberal em risco no mundo todo.
O esfacelamento da estabilidade financeira e até mesmo emocional dos Lyons na distopia de “Years and Years” casa-se perfeitamente com os relatos reais dos entrevistados do podcast do New York Times sobre sua descrença na política, seus medos quanto à invasão de imigrantes e a queda do seu padrão de vida em relação a seus pais e avós. Na visão de Yascha Mounk, esse caldo que mistura estagnação econômica, crise de identidade nacional e manipulação da opinião pública por tecnologias cada vez mais intrusivas contribuem para a ascensão de políticos e movimentos populistas que pregam uma democracia sem direitos, ou uma nova era de direitos sem democracia.
Sem dar spoilers sobre os desfechos da série, do podcast e do livro, fica claro que o sistema político atual, com seus partidos e políticos preocupados apenas com o jogo do poder, não estão sabendo ouvir a mensagem dada pelos eleitores nas urnas. Vale para a Europa, para os EUA, e também para o Brasil. E não se trata aqui de uma mera questão entre direita e esquerda.
Nenhum político brasileiro foi tão eficaz em captar a mensagem das ruas desde junho de 2013 do que Bolsonaro. A população questionava os partidos e os políticos num grito de “não me representa”, então o deputado de baixo clero com quase 30 anos de mandato se travestiu de outsider “não político”. Enquanto as relações pessoais passaram a ser mediadas pelas redes sociais, foi lá que o ex-capitão concentrou seus esforços de comunicação direta para conquistar eleitores. Havia uma crise de confiança nas instituições, com as entranhas do funcionamento do sistema político sendo expostas pela Lava Jato? Bolsonaro soube como ninguém se apropriar do discurso anticorrupção, e ainda construiu uma campanha barata.
Mas há uma dimensão dos protestos de 2013 que não foi incorporada na estratégia eleitoral de Bolsonaro e que tampouco tem recebido ênfase no seu governo: a dimensão social, da redução das desigualdades e do oferecimento de melhores serviços públicos, principalmente em saúde e educação (“Queremos escolas e hospitais padrão Fifa”, diziam os cartazes). As poucas medidas concretas apresentadas nesses dois ministérios, a ideologização das políticas públicas (principalmente na gestão Weintraub) e a proposta de canibalização de recursos orçamentários entre essas áreas elaborada por Paulo Guedes já colocaram no radar do governo a possibilidade de que a onda de protestos que chacoalha diversos países, inclusive em nossos vizinhos da América Latina, acabe desaguando por aqui em 2020.
Numa sociedade cada vez mais conectada e dispensando intermediários, engana-se quem acredita que basta o discurso populista de direita. No Reino Unido, nos EUA ou no Brasil, o eleitor mudou de lado porque o Estado deixou de lhe oferecer estabilidade e boas perspectivas quanto ao futuro. Se essas demandas não forem atendidas no curto prazo, a maré vai virar novamente. E assim continuará, por anos e anos.
*Bruno Carazza é mestre em economia, doutor em direito e autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”.
Leandro Colon: Weintraub não deixará saudades se deixar o MEC
Apenas 32% dos brasileiros sabem quem é o chefe da pasta da Educação do governo Bolsonaro
Tudo indica que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é peça a ser em breve descartada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Weintraub foi chamado para estancar uma crise interna com o primeiro escolhido para a pasta, o até então desconhecido Ricardo Vélez.
O que era para ser uma solução virou um problema. Weintraub revelou-se um caos administrativo, com um comportamento fora dos padrões adequados para um ministro de Estado e da liturgia que o cargo exige. É constrangedora sua presença no primeiro escalão da Esplanada.
Ele acredita que a postura agressiva e errática na bolha das redes sociais é uma fórmula de sucesso com a população. A mais recente pesquisa do Datafolha mostra que o ministro precisa repensar seus conceitos.
Oito meses depois de assumir o comando do MEC, Weintraub é ignorado por dois terços das pessoas.
Apenas 32% dos entrevistados afirmaram saber quem é o chefe da pasta da Educação do governo Bolsonaro. O patamar cai para 23% entre aqueles que ganham até dois salários mínimos. Ou seja, os mais pobres, que necessitam, entre tantas coisas, de uma educação pública e de qualidade, desconhecem o responsável por isso na esfera federal.
Apenas 25% dos jovens entre 16 e 25 anos responderam conhecer o ministro. É justamente a faixa etária dos que têm entre suas prioridades o ingresso no ensino superior.
E somente 17% dessa parcela da população, ciente da existência de Weintraub, avalia como ótima ou boa a performance no MEC. Para 38%, a gestão dele é ruim ou péssima.
O ministro falastrão de Bolsonaro é mais conhecido entre os brasileiros com ensino superior. Segundo a pesquisa, 56% sabem quem é ele, mas 42% desses consideram o desempenho dele ruim ou péssimo, percentual acima dos que que só fizeram ensino médio ou fundamental.
A provável saída de Weintraub do ministério pode ser um sinal positivo para que a área enfim decole no governo Bolsonaro. A população certamente não sentirá saudades dele.
Celso Rocha de Barros: A queda de Corbyn
Brexit pode ser terrível para o Reino Unido, mas é espetacular como forma de vencer os trabalhistas
O Partido Trabalhista britânico teve na semana passada sua maior derrota eleitoral desde 1935. O conservador Boris Johnson passou a ter maioria na Câmara dos Comuns para tocar o brexit como achar melhor, dentro dos termos impostos pela Europa.
Os tories venceram em distritos que eram trabalhistas desde a Segunda Guerra Mundial, como as áreas industriais do norte da Inglaterra. Poucas décadas atrás, essas regiões estavam conflagradas contra Margaret Thatcher.
Nos meios de esquerda, a discussão passou a ser quanto do desastre pode ser atribuído à virada à esquerda liderada pelo líder trabalhista Jeremy Corbyn nos últimos anos.
Essa seria uma hora para o centro-esquerdista aqui marcar pontos, mas sugiro cautela.
Corbyn tinha propostas radicais de nacionalização e elevação do gasto público; várias dessas propostas, inclusive algumas com as quais não concordo, são populares. Mas o líder trabalhista também tem uma bagagem pessoal pesada, que inclui gestos a favor de membros do IRA e de um clérigo muçulmano acusado de antissemitismo (Raed Salah). Em uma eleição sobre identidade britânica, nada disso ajudou.
Corbyn tornou-se muito menos popular do que os líderes de oposição britânicos recentes.
Corbyn era fraco, radical demais e tem que deixar a liderança. Mas o problema principal não foi esse. As cartas que Corbyn tinha na mão eram muito ruins. O brexit pode ser terrível para o Reino Unido, mas é espetacular como forma de vencer os trabalhistas.
Na última convenção trabalhista, grande parte da militância queria adotar uma posição fortemente antibrexit. Mas os sindicatos, que fundaram e mantiveram o Labour por mais de cem anos, forçaram a adoção de uma posição complexa, que o eleitorado considerou vacilante.
A oscilação se explica facilmente. Os trabalhadores das antigas cidades industriais apoiaram o brexit. O motivo desse apoio é controverso: talvez identifiquem a União Europeia com a globalização que lhes tirou os empregos, talvez considerem importante reafirmar a solidariedade nacional em uma época de crise.
Qualquer que seja o motivo, a divergência com os jovens trabalhistas das grandes cidades é real. Nenhum líder, por melhor que fosse, teria uma solução fácil para essa divisão em sua base.
Alguns analistas acreditam que os tories podem manter seu novo eleitorado, com alterações na identidade do partido. Junto com Corbyn, o brexit também enterraria Thatcher e criaria um partido conservador nos costumes e mais intervencionista na economia.
Permaneço cético. Acho que Boris Johnson herdou o cobertor curto que era de Corbyn. Os tories agora vão ter que conciliar quem defende o brexit para tornar o Reino Unido mais “americano” com quem sonha com uma versão dos “good old days” que é, basicamente, a Europa dos anos 1950: industrial, social-democrata e com sindicatos fortes.
Se for possível, será uma tremenda obra de engenharia política. Mas pode ter sido só um estelionato. E, se fracassar, a esquerda britânica não estará mais limitada pelo Tratado de Maastricht, que impôs a moderação macroeconômica a governos de esquerda europeus por quase 30 anos.
De qualquer forma, como notou Laura Carvalho, o Brasil vai se isolando como único caso de populismo de direita economicamente liberal. Vejamos por quanto tempo.
*Celso Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
José Goldemberg: Meritocracia e desigualdades sociais
Origem dos problemas que enfrentamos está nas características do capitalismo do século 21
As causas das grandes manifestações populares, recentemente, no Equador, no Chile, no Líbano, no Iraque, na Checoslováquia e em Hong Kong, que abalaram governos e instituições, são complexas, mas não há dúvida de que boa parte dos protestos se origina no aumento da desigualdade de renda que está ocorrendo no mundo todo.
Esse é também um dos temas centrais das eleições presidenciais dos Estados Unidos no próximo ano. Apenas 0,1% dos americanos – cerca de 300 mil pessoas, numa população de mais de 300 milhões – controlam 20% da riqueza nacional. A renda dessas pessoas nos últimos 40 anos cresceu muito mais rapidamente que a renda do restante da população.
O fosso entre ricos e pobres está aumentando não apenas nos Estados Unidos, como também no Chile, na Argentina, entre outros países, como o Brasil, conforme mostram dados recentes do IBGE. A desigualdade econômica, porém, é apenas parte do problema: desde os primórdios da civilização, 10 mil anos atrás, existem aristocracias que governam e se beneficiam do trabalho da população: as famílias imperiais da Antiguidade, os senhores feudais da Idade Média e o sistema colonial vigente até o século 20. Em todos esses sistemas, o mérito foi uma consideração secundária diante das relações de sangue, favoritismo e corrupção.
A Revolução Francesa, de 1789, extinguiu a monarquia e implantou o regime republicano, que abriu caminho para a emergência dos mais capazes, escolhidos pelo mérito. As vantagens da meritocracia foram compreendidas pelo rei Luís XV, da França, antes da revolução. Ele criou, em 1760, uma escola militar para treinar oficiais oriundos de famílias que não pertenciam à nobreza. Foi nela que Napoleão Bonaparte, vindo de uma província secundária como a Córsega, se distinguiu e iniciou sua meteórica carreira militar, o que então era raro.
A meritocracia para o serviço público foi introduzida na Inglaterra em 1830 e um dos sucessos indiscutíveis da colonização da Índia pelos ingleses foi a organização de um excelente serviço público, que dura até hoje.
Surgiram, contudo, recentemente nos Estados Unidos teorias de que a causa dos problemas da desigualdade de renda é a nova aristocracia de superdotados e supercapacitados, que substituiu a velha aristocracia do “sangue”, isto é das grandes famílias do passado, como Vanderbilt, Carnegie e Rockefeller. Os novos bilionários, como Bill Gates (Apple), Mark Zuckerberg (Facebook), Jeff Bezos (Amazon) e outros, passaram a ser membros da aristocracia do país. As universidades de elite como Stanford, Harvard, MIT, nas quais estudaram, estariam, portanto, alimentando a concentração de fortunas.
Mais ainda, os filhos desta nova aristocracia, que são excepcionalmente bem preparados para a corrida da meritocracia, reproduzem o que se chama de “casta hereditária”. Nessas universidades, a maioria dos estudantes vem efetivamente de famílias ricas.
Essas ideias se originaram na noção de que na Inglaterra o sistema educacional perpetuava o domínio da aristocracia nas posições do governo por meio dos egressos das grandes universidades, como Oxford e Cambridge, às quais as classes menos favorecidas não tinham acesso.
Um educador inglês de tendência socialista, Michael Young, escreveu em 1958 uma sátira sobre os efeitos que o sistema educacional vigente poderia ter no futuro. Na época os jovens de 11 anos eram submetidos a exames que mediam o seu QI (quociente de inteligência) e de acordo com seu desempenho eram encaminhados para os diferentes tipos de escolas: os melhores para as universidades, os piores para escolas profissionais para a indústria, o comércio e a agricultura.
A tese fundamental de Young é que faz sentido escolher pelo mérito as pessoas mais adequadas a uma atividade específica (como pilotar aviões ou dirigir uma empresa de energia), mas permitir que elas constituam uma nova classe social que não deixa espaço para outros é um absurdo.
A sátira de Young faz uma caricatura do que poderia acontecer no futuro: uma revolução populista que destrói o governo aristocrata criado pela meritocracia. Seu livro é da categoria das “distopias”, como o filme Metrópolis, de Fritz Lang, os livros Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, que imaginaram um futuro em que elites privilegiadas controlavam completamente a sociedade e exploravam o resto da população.
É evidente, hoje, que as previsões da distopia de Young não se concretizaram. O controverso QI como único critério para alocação de crianças em escolas foi abandonado, já que é obvio que ele poderia variar ao longo do tempo, bem como as qualificações e predicações das pessoas. Competição e esforço individual têm papel importantíssimo no sucesso das pessoas, e não apenas o seu QI.
Outras experiências de “engenharia social” foram tentadas, também sem sucesso: os comunistas, após a revolução russa de 1917, aboliram os exames de seleção (vestibulares) nas universidades, abrindo suas portas aos “filhos dos trabalhadores”. Passados alguns anos o próprio Lenin se deu conta de que a construção do socialismo precisava de técnicos competentes e reintroduziu a meritocracia.
Meritocracia não é a causa das desigualdades econômicas que existem atualmente em muitos países, o que pode e deve ser resolvido pelo sistema de taxação das grandes fortunas. Os problemas que enfrentamos hoje se originam das características do capitalismo do século 21: a tecnologia moderna, largamente baseada na informática, depende muito mais de pessoal superqualificado do que o sistema industrial do passado – mineração, siderurgia, transporte e produção de bens de consumo –, que exigia grande quantidade de mão de obra e de materiais, ao passo que a informática depende fundamentalmente da inteligência que se cultiva e desenvolve nas universidades.
* Professor emérito e ex-Reitor da Universidade de São Paulo (USP)
Fernando Gabeira: Uma guerra particular
Simpatizantes de Bolsonaro frequentaram boas escolas e não fecharam suas cabeças para sempre. Podem mudar no futuro
Me segura que vou ter um troço. Esta é uma frase cômica, talvez muito vulgar para um tema clássico como a política externa de um país. No entanto, ela me parece adequada para definir os passos de Bolsonaro neste primeiro ano de governo.
Ele começou questionando a relação com a China, o nosso maior parceiro comercial. Os chineses não podem comprar o Brasil, dizia. Com o tempo, a turma do deixa-disso o convenceu de que as relações com a China são necessárias. Os próprios chineses, do alto de muitos séculos de experiência, estavam tranquilos. Hoje, Bolsonaro já fala de um futuro comum com a China.
Bolsonaro resolveu transferir a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. De novo, a turma do deixa-disso o convenceu de que não era oportuno. O filho Eduardo insiste na tese. Isto indica, pelo menos, que na próxima geração de Bolsonaros no poder a transferência pode ocorrer. Isso leva tempo e depende das urnas.
Bolsonaro disse a Trump que o ama. Sua ideia era se alinhar totalmente com os Estados Unidos. De novo, a turma do deixa-disso alertou: calma, é preciso se aproximar sim, mas com cautela.
Ele achou que os Estados Unidos indicariam o Brasil para a OCDE. Pensava que isto viria de uma hora para outra. Os americanos indicaram a Argentina, pois já tinham compromisso anterior com o vizinho. Trump vai cumprir a promessa. Mas no seu tempo. Por enquanto, fala em taxar aço e alumínio do Brasil sem, ao menos, telefonar para Bolsonaro.
Por falar em Argentina, Bolsonaro criticou a escolha popular e disse que aquilo iria se tornar uma nova Venezuela. Resolveu que não iria à posse de Alberto Fernández. Em seguida, designou um ministro. Voltou atrás e disse que não iria mais ninguém. De novo, a turma do deixa-disso entrou em campo. Bolsonaro atenuou seu discurso e resolveu enviar o vice, general Mourão.
Nem sempre foi possível segurar Bolsonaro. Às vezes, ele teve um troço, como no momento em que divulgou o vídeo do golden shower. Sua ideia era mostrar como o mundo estava perdido.
Bolsonaro de novo teve um troço quando foi criticado por Macron e ofendeu Brigitte, a mulher do presidente francês.
No campo da política ambiental, aí sim não foi possível contê-lo. Ele não consegue entender a preocupação mundial com a Amazônia, muito menos com o aquecimento do planeta.
Mesmo contido em vários momentos, continuou tendo um troço, dessa vez acusando Leonardo DiCaprio de financiar as queimadas na Amazônia. Em seguida, investiu contra Greta Thunberg: pirralha, pirralha.
Bolsonaro não entende a influência crescente da juventude. Ainda mais quando é encarnado por meninas. Ele mesmo disse que fraquejou quando fez a filha, depois de tantos varões na família.
Ele no momento ainda tem o apoio de 30% dos brasileiros. Este índice é dinâmico, pode cair.
Mas a verdade é que muita gente como ele duvida do aquecimento global, questiona o papel das ONGs e acha Greta uma pirralha que deveria estar estudando.
Bolsonaro não é um relâmpago em céu azul. Nem simples produto da ignorância, pois seus simpatizantes frequentaram boas escolas. Isto não significa que fecharam suas cabeças para sempre. Podem mudar no futuro.
Por enquanto, não há outro caminho, exceto segurar para que Bolsonaro não tenha um troço. Em termos domésticos, tem sido mais difícil. Foi preciso a intervenção da Justiça para evitar que nomeasse um diretor da Fundação Palmares simpático à escravidão.
Além da Justiça, o próprio Congresso tem de segurar Bolsonaro: supressão de radares nas estradas, mineração em terras indígenas, ataques à ciência, ele vive tendo um troço.
Sexta-feira passada foi o 13 de dezembro. Felizmente, o ano termina sem que consigam ter o grande troço, aquilo que ameaçam constantemente nas entrevistas: um AI-5.
Foi um ano duro para todos os seguradores no Brasil, inclusive a imprensa, que sofreu alguns solavancos para evitar os troços. No entanto, chegamos ao final de 2019 sem grandes sobressaltos. E com muito mais experiência para a nova temporada. Creio que isto é uma forma modesta de dizer Feliz Ano Novo.
Demétrio Magnoli: Morte encefálica?
Há uma nuvem maior no horizonte da Otan, geralmente ausente da tela dos analistas
Hastings Lionel Ismay, principal conselheiro militar de Winston Churchill, assumiu o posto de primeiro secretário-geral da Otan em 1952. É dele a mais concisa definição dos objetivos da Aliança Atlântica: “manter a URSS fora, os EUA dentro e os alemães por baixo”. Missão cumprida, disseram os líderes ocidentais no aniversário de 40 anos da maior aliança militar da história, que coincidiu com o encerramento da Guerra Fria. Hoje, porém, o aniversário de 70 anos ficou marcado pelo diagnóstico do francês Emmanuel Macron, que advertiu para a “morte encefálica” da Otan.
O “encefálica” é a chave. A estrutura militar da Otan segue bem viva — e rejuvenescida. A dissolução da URSS, em 1991, borrou os contornos do inimigo, e a aliança engajou-se em operações inesperadas, na antiga Iugoslávia e no Afeganistão, enquanto seus integrantes europeus reduziam os gastos com a defesa. A intervenção russa na Ucrânia, em 2014, reacendeu a chama extinta, restaurando a missão original de proteção da Europa.
A Otan deslocou brigadas multinacionais para os Estados Bálticos e a Polônia e está erguendo uma força de reação rápida constituída por 30 batalhões mecanizados, 30 esquadrões aéreos e 30 navios de guerra. Ao mesmo tempo, com as notórias exceções da Alemanha, da Itália e da Espanha, os países europeus aproximam-se da meta de 2% do PIB em gastos com a defesa. O mal que aflige a Otan é político.
As análises convencionais apontam as tensões inscritas no triângulo EUA/Turquia/França, que emergiram como estilhaços de bombas de fragmentação nas celebrações dos 70 anos. A festa estranha, no Palácio de Buckingham, foi pontuada por recriminações de Donald Trump contra Macron e do autocrata turco Recep Erdogan contra todos os demais.
A “morte encefálica” é uma referência ao nacionalismo isolacionista de Trump, que chegou a qualificar a Otan como “obsoleta” e faz de tudo para erodir a União Europeia, um pilar geopolítico central da Aliança Atlântica. A frase sinistra do francês foi disparada em reação à decisão de Trump, adotada sem aviso aos aliados europeus, de retirada das forças americanas do norte da Síria.
Erdogan expressa as tendências centrífugas que ameaçam a aliança. A Turquia, pilar da Otan no Mediterrâneo Oriental, sentinela dos estreitos que separam a Rússia do Mediterrâneo, inclina-se na direção de Moscou. Há pouco, numa iniciativa sem precedentes, adquiriu da Rússia um sistema de defesa antimísseis. Abre-se uma fenda no “gigantesco escudo de solidariedade”, como o britânico Boris Johnson qualificou a aliança na cúpula dos 70 anos.
Macron simula falar como inflexível defensor da Aliança Atlântica quando coloca Trump na alça de mira. De fato, atualiza o antigo sonho francês de converter o componente europeu da Otan em uma organização de defesa autônoma, sob a liderança da França. A ideia de um “exército europeu” não encontra eco na Alemanha e, menos ainda, no Reino Unido. Mas, sobretudo, alarma os países da Europa Centro-Oriental que enxergam no guarda-chuva americano seu recurso vital de segurança.
“Obsoleta”, disparou Trump. Há uma nuvem maior no horizonte da Otan, geralmente ausente da tela dos analistas. Richard Nixon promoveu a aproximação sino-americana, em 1972, para isolar a URSS. Desde Barack Obama, os EUA passaram a definir a China como rival estratégico principal no século 21. Trump completou o giro, a seu modo. O presidente americano ensaia inverter a equação de Nixon, aproximando os EUA da Rússia para isolar a grande potência asiática.
A Casa Branca almeja o acordo dos europeus para classificar a China como inimigo estratégico da Otan — e, de imediato, quer alinhá-los à postura americana de cerco à Huawei, na moldura da “guerra do 5G”. Os europeus, porém, não parecem dispostos a seguir essa trilha. Um relatório confidencial adotado pela aliança dedica várias páginas à China, sem produzir nenhuma conclusão operacional.
A China foi mencionada, mas apenas em termos ambíguos, na cúpula dos 70 anos. Apaga-se no passado o bloqueio soviético de Berlim, em 1948, marco dramático que originou o “escudo de solidariedade”.
Luiz Carlos Mendonça de Barros: Uma marcha insensata chega ao fim
O Brasil, diante de uma situação grave como a que passamos, se une e apoia os governantes que lutam para superá-la
Foi uma longa, difícil, injusta para com os mais pobres, e, até agora, pouco compreendida marcha para escapar do buraco negro na economia, criado pela incompetência do PT e seus governantes. Os números deste período infame estão hoje à vista de todos e tornam uma missão difícil para o analista escolher o mais dramático deles para a sociedade.
Depois de uma difícil reflexão, fico com a explosão da dívida interna do governo entre 2015 e 2016 por ser ela a mais representativa da marcha da insensatez que tomou conta do governo Dilma desde o primeiro dia de seu mandato. E é também o indicador mais deletério para as expectativas de consumidores, empresários e investidores em relação ao futuro. Medida como percentagem do PIB, a dívida bruta do governo federal entre 2013 e 2019 pulou de pouco mais de 50% para 81% neste final de ano. Este aumento de mais de 30% representou a soma dos efeitos do aumento do volume de gastos do Tesouro Nacional e a queda de quase 7% do PIB entre 2015 e 2016.
Situações como esta, quando ocorreram na história recente das economias de mercado, antecederam colapsos econômicos de grandes proporções. Mas a sociedade brasileira - hoje podemos afirmar - não vai pagar este preço e pode, finalmente, olhar de forma construtiva para o futuro. E antes que receba críticas de estar sendo otimista demais - ou ingênuo como já fui chamado no passado -, pois precisamos ainda de um longo período de reformas para perenizar o crescimento econômico, afirmo que concordo com esta observação.
Apenas acho importante refletir isoladamente sobre a superação - como sociedade - da ameaça de insolvência por que passamos antes de tratar de uma agenda para consolidar o futuro. O Brasil mostrou uma grande maturidade ao longo destes anos terríveis por que passamos, com a crise política do governo Temer seguida de uma eleição presidencial tensa e incerta como foi a do ano passado.
Inicialmente gostaria de trazer ao leitor um sentimento pessoal que construí em mais de 50 anos de observação da nossa sociedade. O Brasil, quando diante de uma situação grave como a que passamos agora, se une e apoia os governantes que estão administrando a crise e lutando para superá-la. Vivi este sentimento de solidariedade e apoio quando a hiperinflação dos anos 80 e 90 do século passado testou os limites de nossa economia de mercado e mesmo de nosso regime democrático. A união de todos - menos a esquerda, petista ou não - em apoio à proposta da nova moeda (URV), apresentada pelo governo Fernando Henrique em 1994, nos salvou da hiperinflação aberta e permitiu que hoje estejamos novamente no grupo de economias de mercado com inflação sob controle.
Os mais jovens precisam ser lembrados deste momento importante de nossa história para entender o que está ocorrendo agora.
Mais uma vez, sentindo-se ameaçada - desta vez pelo colapso das finanças públicas - a sociedade apoiou de forma vigorosa a reforma da Previdência pública quando sentiu que ela representava a única saída para a volta da estabilidade financeira. Sinal disto é que, embora diagnosticada pelos técnicos, há mais de 30 anos, como um dos pilares de sustentação do equilíbrio fiscal, somente agora - com a crise terminal que chegamos a viver - a opinião pública deu o apoio necessário para forçar o Congresso a aprová-la.
Com a reforma da Previdência a força de uma recuperação cíclica tradicional, que já existia desde o governo Temer, começou a ganhar tração ao longo dos últimos meses. Mas a lentidão desta recuperação, principalmente na questão do desemprego, criou um ambiente de ceticismo entre os analistas e mesmo junto à sociedade. Meu otimismo sempre derivou do fato de que, em recuperações semelhantes em outras economias, o prazo entre a ruptura da bolha de consumo criada e a volta de uma normalidade econômica, sempre foi de vários anos. O exemplo mais recente deste fenômeno ocorreu nos Estados Unidos entre 2008 e 2018 quando este mesmo sentimento de desesperança dominou boa parte da sociedade. Mas quando a recuperação ganhou força nos últimos três anos uma quase euforia voltou à população americana e aos mercados.
O mesmo vem acontecendo agora no Brasil. O dia de ontem foi decisivo para que uma mudança no ânimo de todos os mercados mais sensíveis às expectativas dos agentes econômicos ocorresse, corrigindo de forma significativa seus preços. Chamou a atenção o comportamento do mercado dos CDS que precificam o chamado risco de default (calote) do país por ser ele negociado no exterior principalmente. Também a valorização do real em relação ao dólar na B3 mostra a força da mudança de humores em relação ao Brasil, depois de vários meses de pressão vendedora de nossa moeda. Interessante que a força do real ontem ocorreu no dia em que o Banco Central definiu uma nova e expressiva redução dos juros Selic.
Consolidou-se entre os analistas que o crescimento do PIB em 2020 deve chegar a 2,5% o que implica em afirmar que na virada de 2021 a economia deve estar crescendo 3% ao ano. Merecemos esta comemoração, mas agora sim temos que tratar de uma nova agenda.
*Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
El País: Eduardo Bolsonaro inaugura escritório comercial em Jerusalém e reafirma que Brasil transferirá embaixada
Em visita a Israel, filho de presidente diz perante Netanyahu que o Brasil cumprirá o compromisso
A ponto de completar seu primeiro ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro continua sem cumprir sua promessa eleitoral de transferir para Jerusalém a embaixada do Brasil em Israel, uma decisão polêmica que contraria o consenso internacional e que até agora só foi adotada pelos Estados Unidos e a Guatemala. Bolsonaro já evitou se pronunciar sobre a transferência da legação diplomática em abril, durante sua visita oficial ao Estado judeu, mas anunciou, como primeiro passo, a abertura de um escritório comercial. Seu filho e herdeiro político, Eduardo Bolsonaro, afirmou que o mandatário cumprirá seu compromisso, ao inaugurar neste domingo na Cidade Sagrada uma missão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), entidade vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, mas sem status diplomático.
“[Meu pai] me disse que existe um compromisso firme, que a transferência da embaixada a Jerusalém será realizada”, disse o deputado federal, de 35 anos, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Em um ato na nova agência do Brasil em Jerusalém, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recebeu o anúncio com satisfação, num momento em que se prepara para enfrentar a terceira campanha eleitoral deste ano a fim de tentar se manter no poder. O chefe de Governo de Israel foi além, ante seu visitante, ao declarar que via a inauguração do escritório comercial “como uma parte do compromisso do presidente Bolsonaro de abrir no próximo ano uma embaixada em Jerusalém.”
Apenas a Guatemala —país com uma importante presença de evangélicos defensores do Estado hebreu em seu Governo— seguiu os passos do presidente Donald Trump, ao transferir a embaixada dos EUA de Tel Aviv, onde ficam as representações diplomáticas das demais nações que mantêm relações com Israel. O consenso geral da comunidade internacional deixa o status final de Jerusalém —que os israelenses consideram sua capital “eterna e indivisível” e onde os palestinos aspiram a estabelecer a capital do seu futuro estado na parte oriental— para um acordo de paz duradouro entre ambas as partes.
Em um primeiro momento, o Paraguai também seguiu os passos dos EUA. Após uma mudança na presidência do país, no entanto, ordenou reabrir a embaixada em Tel Aviv. Netanyahu não conseguiu inaugurar mais legações diplomáticas na Cidade Sagrada. Países da União Europeia com Governos favoráveis a Israel estabeleceram recentemente em Jerusalém um escritório comercial (no caso da Hungria) e um centro cultural (República Checa).
Bolsonaro precisa estabelecer um difícil equilíbrio entre o apoio eleitoral que recebeu da comunidade evangélica no Brasil —incondicional defensora do Estado judeu— e os interesses dos poderosos grupos de pecuaristas locais, que exportam todos os anos cinco bilhões de dólares (cerca de 21 bilhões de reais) em carne halal (com aprovação religiosa muçulmana) ao mundo islâmico. A balança comercial se inclina decididamente para os países árabes, que concentram cerca de 5% das exportações brasileiras, contra uma fatia de apenas 0,2% de Israel.
Netanyahu, que mantém estreitos laços com líderes ultraconservadores como o norte-americano Trump e o húngaro Viktor Orbán, agradeceu Bolsonaro pelo apoio do Brasil nos fóruns internacionais, onde o novo presidente se distanciou da tradição de condenação à ocupação dos territórios palestinos mantida pelos anteriores Governos do PT.
Eduardo Bolsonaro, a quem o pai tentou sem sucesso designar como embaixador em Washington, também anunciou ante o premiê israelense que seu país tomará a decisão “mais cedo ou mais tarde” de considerar o partido-milícia libanês Hezbollah como grupo terrorista. “Organizaremos a transferência [diplomática] a Jerusalém”, concluiu o deputado, “não apenas em nome do Brasil, mas como um exemplo para o restante da América Latina.”