Presidente da Câmara esquece Ulysses Guimarães e Eunice Paiva
10 de fevereiro de 2025FAP,Notícias,Ulysses Guimarães,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,Presidenteposição_1,Mais Notícias,Eunice Paiva
No seu discurso de candidato a presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) citou Ulysses Guimarães e concluiu seu discurso com uma referência ao filme brasileiro Ainda estou aqui, baseado na história de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado federal Rubens Paiva (PTB-SP), durante a ditadura militar. "Temos que estar sempre do lado do Brasil, em harmonia com os demais poderes", disse. "Encerro com uma mensagem de otimismo: ainda estamos aqui". Ovacionado pelo plenário ao concluir, foi eleito com 444 votos dos 513 deputados. Motta recebeu apoio do PT ao PL, apenas o PSol e o Novo ficaram de fora do seu arco de alianças.
Era sábado retrasado, 1º de fevereiro. Elaborado a seis mãos, com a assessoria de dois jornalistas, o discurso fora feito sob medida para sinalizar uma posição política ancorada ao centro e contrária à radicalização política. Entretanto, em uma semana de entrevistas e declarações à imprensa, Motta esqueceu Ulysses e Eunice, deu uma guinada à direita, com críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acenos de anistia aos mais radicais aliados e ao próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
De todas as entrevistas, a que gerou mais mal-estar no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF), sem falar na opinião pública, foi concedida na sexta-feira, numa rádio da Paraíba, sua base eleitoral. Motta negou que a invasão dos palácios da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, foi uma tentativa de golpe de Estado para destituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia tomado posse uma semana antes. "O que aconteceu não pode ser admitido novamente, foi uma agressão às instituições. Agora, querer dizer que foi um golpe. Golpe tem que ter um líder, uma pessoa estimulando, tem que ter apoio de outras instituições interessadas, e não teve isso", disse.
Naquela ocasião, centenas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro quebraram as sedes dos Três Poderes pedindo um golpe e a destituição de Luiz Inácio Lula da Silva. Motta ignora deliberadamente tudo o que já se sabe sobre o 8 de janeiro, a partir de investigações da Polícia Federal (PF), no inquérito a cargo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A conspiração urdida na alta cúpula do governo Bolsonaro para impedir a posse da gestão Lula está muito bem documentada, a ponto de o vice de Bolsonaro, general Braga Neto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Braga Netto, general de quatro estrelas, estar preso. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fez delação premiada, revelou toda a trama golpista.
Não se sabe os acordos de bastidores feitos por Hugo Motta para se eleger presidente da Câmara, mas o parlamentar tem fama de cumpri-los. Suas declarações e os elogios que recebeu de Jair Bolsonaro sinalizam que a anistia aos envolvidos nos episódios de 8 de janeiro e ao ex-presidente da República (que está inelegível por crime eleitoral) está no pacote do PL.
Biografia
Aos 35 anos, Motta é o mais jovem presidente da Câmara dos Deputados. Lidera uma nova geração de políticos representantes de velhas oligarquias. Seu pai é prefeito de Patos pela quarta vez, cidade que já foi comandada pelo avô e pela matriarca da família, sua avó Francisca Motta, de 84 anos, que sucedeu o marido na prefeitura após sua morte e exerceu seis mandatos de deputada estadual.
Médico, Motta nasceu em 11 de setembro de 1989, ano da primeira eleição direta para presidente da República. Não entendeu (ou não assistiu) Ainda estou aqui, o premiadíssimo filme de Walter Salles Filho, que concorre ao Oscar em três categorias e venceu o prêmio Goya de melhor filme ibero-americano, a principal premiação do cinema espanhol, no último sábado.
Com Fernanda Torres no papel da viúva Eunice, a obra conta o que se passou com a família do ex-deputado Rubens Paiva (PTB-SP), que foi assassinado num quartel do Exército no Rio de Janeiro, durante o regime militar. Motta citou o filme no discurso como uma frase de efeito, numa jogada de marketing. Sua declaração sobre o 8 de janeiro só torna mais atual o longa brasileiro ser mais atual, cuja importância política nos mostra o historiador Alberto Aggio, no artigo Tempos e silêncios em Ainda estou aqui
Alberto Aggio: Tempos e silêncios em Ainda estou aqui
10 de fevereiro de 2025Notícias,Alberto Aggio,TD-destaque,posição_1Mais Notícias,Ainda estou aqui
Pelos olhos e pelas mãos de Salles, os tempos do Brasil se sucedem e, recortados, ganham sentido na trajetória da família Paiva
Alberto Aggio, historiador e professor universitário, em artigo publicado originalmente no Correio Braziliense
Ainda estou aqui é um grande filme. Muito já se escreveu e se falou sobre ele por diversos ângulos e razões. E se vai continuar falando e escrevendo sobre ele por algum tempo. Seu lugar na cultura brasileira vai além da filmografia, da arte. Trata-se de um filme político, de ensinamentos e aberto à reflexão política. Pela amplitude de espectadores, ele é também um fenômeno político. Cativa por expressar o desejo de compreender o que se passou no Brasil nas últimas décadas do século 20 e o que esse período nos legou.
O filme, dirigido por Walter Salles, diz muito sobre o Brasil desse período, mas também sobre o Brasil dos dias que correm, por meio dos acontecimentos que marcaram a vida da família do ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado e assassinado pela ditadura no início da década de 1970, especialmente pela resistência da mulher, Eunice Paiva, a principal protagonista do filme, representada de maneira extraordinária por Fernanda Torres.
O início e o final do filme mostram reuniões familiares que evidenciam as marcas do tempo em que se sustenta a narrativa do filme. No início, a reunião familiar é repleta de alegrias de uma típica família de classe média alta do Rio de Janeiro no início da década de 1970. O ambiente é vivo e cheio de cores, num magnífico sobrado em frente à praia. No final do filme, a reunião familiar é de uma alegria contida, densa e preocupada com a saúde da matriarca da família.
No início, os personagens vivem as interações de um Brasil culturalmente aberto ao mundo, uma continuidade, sem interrupções, dos "gloriosos anos" cinquenta e início dos sessenta. Para além da tranquila vida familiar, os sinais de que havia ocorrido uma dura interrupção aparecem de maneira esparsa e sutil, embora carregada de tensões, evidenciando o temor a cada cena. A reunião familiar do final do filme também mostra um Brasil aberto ao mundo, sinalizada previamente por passagens relativas aos anos 1990, quando Eunice Paiva passa a viver em São Paulo, 25 anos depois da tragédia familiar provocada pelo sequestro e assassinato do marido. O Brasil da globalização e da democratização convive, ao final, com aquela herança maldita, ao lado do peso dos anos que se passaram na vida de todos os protagonistas ali reunidos, as filhas e o filho, todos adultos, e a matriarca já padecendo da doença de Alzheimer.
Entre um tempo e outro, os 25 anos, que expressam a transição e a democratização, estão silenciados, o que é também uma forma de dizer e dar sentido. O filme é a expressão das pesadas consequências da repressão da ditadura e a resistência - penosa, mas vitoriosa - da chefe de uma família, que não permitiu que ela fosse destruída. No final, os anos da ditadura são imagens do passado, em preto e branco, que ainda tocam — mesmo que abatida pela doença — a velha senhora que protagoniza dramaticamente a narrativa. No final do filme, as cenas sobre a ditadura que aparecem num documentário na TV chamam a atenção mais de Dona Eunice do que dos familiares que espreitam de soslaio seu comportamento.
Pelos olhos e pelas mãos de Salles, os tempos do Brasil se sucedem e, recortados, ganham sentido na trajetória da família Paiva. Ali estão a esperança de um país melhor interrompida pela ditadura e, ao final, independentemente dos protagonistas, o cenário de inserção do país no mundo globalizado, anteriormente antevisto. No Brasil do ex-deputado assassinado, a opção de um caminho de tipo cubano ainda era acalentada como alternativa por muitos setores da esquerda. Mas isso não prosperou. A resistência democrática encontrou sua via de passagem pela política, derrotando a ditadura.
Pode-se dizer que esse é um dos silêncios do filme. Ele não pretendeu incluir na narrativa as complexas dimensões da superação da ditadura por meio de um processo de transição e construção democrática que seguiu seu curso ascendente, mas carregou consigo muitos deficits políticos, institucionais, sociais e culturais. O filme também nos sugere que pensemos sobre as razões que levaram com que a conquista da democracia não tenha se configurado como uma ruptura, que delimita um antes e um depois, e, mesmo assim, podemos nos postar sorrindo — como fez Eunice Paiva, de forma admirável — para uma foto que possa retratar o país como, de fato, ele é.
Biblioteca Salomão Malina realiza encontro virtual de roda de poesias
7 de fevereiro de 2025Notícias,fap,evento,BIBLIOTECA SALOMÃO MALINA,SM-destaque,biblioteca salomão malinaBiblioteca_destaques,posição_1,Mais Notícias,Roda de Poesias,Sarau
Sessão é aberta ao público em geral, que precisa solicitar acesso à sala online
Comunicação FAP
O grupo de roda de poesias da Biblioteca Salomão Malina realizará, nesta segunda-feira (10/2), a partir das 19h30, o seu sexto Sarau Virtual. Segundo a coordenação da biblioteca, o objetivo é incentivar os participantes a divulgarem seu trabalho autoral ao declamar seus poemas no evento online.
O encontro é aberto ao público em geral. Não é necessária inscrição prévia. Para participar, as pessoas interessadas podem solicitar acesso à sala online do Zoom, por meio do WhatsApp institucional: 61984015561
O evento terá transmissão ao vivo pelo canal da FAP no Youtube e pela página da biblioteca no Facebook.
Mulheres que Transformam: Liderança e Impacto no Cidadania
7 de fevereiro de 2025Notícias,EVENTOS FAP,mulheres,fapcidadania,posição_1,Mais Notícias
No dia 18 de fevereiro de 2025, em Brasília e online, das 13h às 18h, será realizado o evento Mulheres que Transformam: Liderança e Impacto no Cidadania. O evento visa fortalecer a liderança feminina e a participação no partido.
Confira a programação, a seguir:
Boas-vindas
Painel 1: A força do associativismo feminino: como o engajamento coletivo transforma a política
Painel 2: Marketing político e redes sociais: potencializando a mensagem do núcleo feminino
Painel 3: Sustentabilidade e impacto: “estrategizando” ações para o fortalecimento do núcleo
E tem mais!
- Dinâmica de quebra-gelo: Para compartilharmos nossas trajetórias no Cidadania.
- Espaço para perguntas e troca de experiências no final de cada painel.
Clique no link e faça sua inscrição agora mesmo: https://forms.gle/vtySG29bQ73dWNRA8
Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios
31 de janeiro de 2025Notícias,EVENTOS FAP,fap,evento,democracia,políticaFundação Astrojildo Pereira,EF-destaque,José Sarney,posição_1,Manchete-Home,Mais Notícias,cidadania 23
Comemoração histórica terá como homenageado José Sarney, o principal condutor da transição pacífica
Comunicação FAP
A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e o Cidadania celebram os 40 anos da redemocratização brasileira, no dia 15 de março, na mesma data em que o então vice-presidente José Sarney tomou posse em 1985, encerrando, assim, 20 anos de ditadura no Brasil. O evento será, das 9h às 17h, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Essa comemoração histórica terá como homenageado o principal condutor dessa transição pacífica, do autoritarismo imposto pelo Golpe Militar de 1964 para a nova era da democracia brasileira: José Sarney, que acabou efetivado presidente do Brasil, após a morte de Tancredo Neves.
A reconciliação nacional garantida a partir do governo Sarney, com a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à Carta Magna de 1988, que ficou conhecida como a “Constituição Cidadã”, assegurou a retomada das eleições diretas para todos os cargos eletivos no país e pavimentou o caminho para novas conquistas, como a estabilidade econômica. Não foi possível, no entanto, saldar todas as dívidas com a população brasileira, que precisa ainda se preparar para os desafios que despontam no horizonte da Nação.
Daí terem sido organizadas três mesas de debates com convidados especiais, para não só ressaltar as conquistas consolidadas, mas também identificar dúvidas e dívidas que ainda turvam o horizonte da sociedade brasileira.
9h - ABERTURA
- Com as boas-vindas do Diretor-Geral da Fundação Astrojildo Pereira, Marcelo Aguiar, do Presidente Nacional do Cidadania, Comte Bittencourt, e da deputada federal Anny Ortiz (Cidadania-RS)
- Exibição do Filme – ‘Os 40 anos da redemocratização brasileira pelas lentes do mestre Orlando Brito’
- Homenagem ao presidente José Sarney, sob cuja orientação o país encerrou o regime autoritário e abraçou a democracia, a a constituintes que ajudaram a escrever essa página gloriosa da história brasileira: Miro Teixeira, Moema Santiago, Nelson Jobim e Roberto Freire.
9h30 - MESA I – Democracia 40 anos: As conquistas consolidadas
Mediador:
- Milton Seligman
Convidados:
- José Sarney: O condutor da reconciliação do Brasil com a democracia
- Nelson Jobim: A nova Constituição e os avanços da democracia
- Rubens Ricupero: A derrota da hiperinflação
- Julio María Sanguinetti: As vicissitudes da democracia na América do Sul
- Vídeo/ Michelle Bachelet
11h - MESA II – Democracia 40 anos: Dúvidas e dívidas do presente
Mediador: a confirmar
Convidados:
- Cristovam Buarque: Os deserdados da democracia
- Carmem Lúcia: O lugar da mulher na democracia brasileira
- Mark Lilla: Os dilemas da democracia contemporânea
- Maria Corina Machado (Vídeo): A ditadura venezuelana e suas consequências na América do Sul
14:30 - MESA III – Democracia 40 anos: Os desafios do futuro
Mediador: (a confirmar)
Convidados:
- Raul Jungman: O papel das Forças Armadas na manutenção da democracia
- Marco Marrafon: Novos totalitarismos na era digital e os desafios na defesa das liberdades e da democracia
- Dora Lúcia Bertúlio: Os caminhos da igualdade de gênero e racial
- Joênia Wapichana: A conta da crise climática
- Alberto Aggio: 40 anos do regime democrático
16h30 - ENCERRAMENTO
Diretor-Geral da Fundação Astrojildo Pereira, Marcelo Aguiar, e o presidente nacional do Cidadania, Comte Bittencourt, encerram o evento.
Benito Salomão: Taxa de câmbio, uma breve interpretação
30 de janeiro de 2025Notícias,fap,TEMAS & DEBATES,TD-destaque,câmbio,Benito Salomãoposição_1,Manchete-Home,Mais Notícias,cidadania 23
“O Câmbio é uma ferramenta criada por Deus para humilhar os economistas”
Benito Salomão, professor de macroeconomia do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia e conselheiro da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23
A citação acima, muito repetida entre os economistas, é atribuída a Allan Greenspan, importante economista estadunidense do Século XX e um dos mais longevos presidentes do Federal Reserve (FED). Ela se encaixa perfeitamente no contexto atual da economia brasileira de intensa volatilidade na taxa de câmbio. No dia 28 de novembro de 2024, a cotação da moeda americana passou, pela primeira vez desde a adoção do Regime de Câmbio Flutuante (RCF), em janeiro de 1999, a casa dos R$ 6. As semanas que se seguiram àquela marca histórica foram bastante turbulentas, com o preço do dólar escalando tanto nos mercados à vista, quanto nos futuros, exigindo duras intervenções do Banco Central para estabilizar a volatilidade da moeda.
Naquele momento, inúmeras opiniões projetavam um cenário apocalíptico em que a cotação do dólar chegaria à casa dos R$ 7, e a inflação sairia do controle da política monetária. Existe uma ampla literatura que demonstra empiricamente que depreciações da taxa de câmbio tendem a ser repassadas para a inflação doméstica, um fenômeno conhecido como efeito pass-through. O canal de transmissão pelo qual a taxa de câmbio afeta os preços doméstico são as importações que se tornam mais caras em moeda local. De forma que a deterioração das previsões inflacionárias diante do quadro cambial observado em dezembro não era de toda irrealista.
Porém, como o câmbio é uma variável difícil de prever na prática, não foi isso o que se viu. Nas semanas que sucederam a virada do ano, a moeda americana depreciou rapidamente e retornou ao patamar dos R$ 5,90. As expectativas de dólar a R$ 7, pelo menos a curto prazo, foram frustradas. Com isso, uma questão que se coloca é: Qual o impacto daquele movimento do dólar observado em dezembro sobre a inflação doméstica?
As expectativas de inflação para 2025 continuam se deteriorando. O Boletim Focus, que organiza as previsões do mercado financeiro em medianas, prevê IPCA em dezembro rodando em torno de 5,5%. Isso significa estourar, em muito, o teto da meta que a política monetária deve perseguir. Muito possivelmente, nessas previsões de inflação, há uma forte influência da depreciação cambial vista em dezembro, cuja trajetória já se encontra em fase de reversão.
A taxa de câmbio é uma variável macroeconômica muito difícil de prever, principalmente no curto prazo, devido ao fato de sua cotação absorver novas informações e mudanças nas expectativas dos agentes econômicos dentro e fora do país. De forma que é muito difícil saber a priori se o dólar seguirá o movimento iniciado em janeiro, ou retornará para o contexto vivido em dezembro. No longo prazo, a dinâmica do câmbio deve refletir os fundamentos macroeconômicos do país. Olhando para essas questões fundamentais, não há nada que explique uma taxa de câmbio superior a R$ 6.
Portanto, há espaço para o real se apreciar um pouco mais frente ao dólar. É improvável dizer que o choque cambial de dezembro terá grandes repercussões na inflação, isso porque o choque foi revertido nas semanas seguintes e boa parte dos seus impactos podem se dissipar rapidamente. Ainda assim, as expectativas de inflação continuam se deteriorando. Uma outra questão que se coloca é o quão confiável são essas previsões, que têm falhado sistematicamente em antecipar o comportamento de agregados macroeconômicos.
Há um pessimismo demasiado sobre a economia brasileira que não encontra, até o presente momento, respaldo nos dados. É preciso filtrar esses ruídos de curto prazo do que são mudanças de fundamentos na economia. Se o câmbio realmente retornar à casa dos R$5,50 observado em boa parte do ano passado, há um amplo espaço para derrubar a inflação a médio prazo no país.
Conjuntura é desfavorável para o governo Lula
28 de janeiro de 2025Notícias,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,posição_1,Manchete-Home,Mais Notícias
O novo ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, não dará conta do recado sem uma reversão da inflação, que está sendo prevista para 5,5% neste ano
Luiz Carlos Azedo, publicado originalmente no Correio Braziliense
A avaliação negativa do governo, que saltou de 31% para 37%, enquanto a positiva recuou de 33% para 31%, também de dezembro a janeiro, puxam a popularidade de Lula para baixo. O quadro é mais grave porque o presidente perdeu força junto aos seus eleitores mais fiéis, os nordestinos, as mulheres e os brasileiros de baixa renda. No Nordeste, a avaliação positiva despencou de 67% para 49%: a negativa subiu de 32% para 37%.
Estava escrita nas estrelas a queda de popularidade do governo, o que torna a conjuntura política desfavorável à reforma ministerial, cujo foco seria a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora terá de se restringir à preservação de sua governabilidade. A aprovação do trabalho do chefe do Executivo, na Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira, mostra que sua popularidade recuou de 52% para 47% em relação a dezembro. A desaprovação de Lula foi superior: subiu de 47% para 49%.
Em relação às mulheres, a aprovação de Lula caiu de 54% para 44%, e a desaprovação subiu de 44% para 47%. Entre os eleitores de baixa renda, a aprovação de Lula caiu 7 pontos (de 63% para 56%) e a aprovação subiu de 34% para 39%. São dados preocupantes, que deixam o governo na defensiva. Para 50% dos entrevistados, o Brasil está indo na direção errada, 4 pontos acima dos 46% na pesquisa anterior. Para 39% dos eleitores, o país está na direção certa, porém abaixo dos 43% de dezembro.
A pesquisa mostra que Lula não consegue cumprir suas promessas, patamar que chegou a 65%. A comunicação tem culpa no cartório, porque as notícias negativas (43%) suplantam em muito as positivas (28%). Mas de nada adianta matar o mensageiro, o fato que mais impactou a popularidade do governo foi a polêmica sobre o Pix, uma grande trapalhada da Receita Federal e, depois, do Palácio do Planalto. Essa avaliação é corroborada por 66% dos brasileiros, para os quais o governo errou mais do que acertou.
A economia é o calcanhar de Aquiles de Lula: apenas 25% avaliam que a situação melhorou. Essa percepção, para 83% dos brasileiros, é atribuída ao preço dos alimentos. A manobra do governo aventada para mitigar a inflação de alimentos, alterar a validade dos produtos (o que poria em risco a saúde da população), foi rejeitada por 63%. Seria mais uma medida populista com efeito bumerangue. A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre 23 e 26 de janeiro, com 4.500 entrevistas presenciais e margem de erro de 1,00 ponto percentual, para mais ou para menos.
2026 à vista
Parece que o presidente Lula ainda não se convenceu de que é preciso atacar a causa estrutural da inflação e não apenas os seus efeitos, esse é o fator eleitoral decisivo, muito mais importante do que os demais. Voltando no tempo, a subestimação do impacto do ajuste fiscal na queda da inflação nas eleições de 1994, quando era franco favorito à Presidência, fez Lula perder aquelas eleições para Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. Apesar do duro corte de gastos, o Plano Real mudou da água para o vinho a vida dos brasileiros pobres, que perdiam poder aquisitivo diariamente. O frango a R$ 1 simbolizava aquele momento em que alimentação estava muito barata. Influenciado por economistas do PT, Lula não apoiou o Plano Real.
A comunicação do governo, a cargo do novo ministro Sidônio Palmeira, não vai dar conta do recado sem uma reversão da inflação, que está sendo prevista para 5,5% neste ano, mais que o dobro da taxa projetada de crescimento e três vezes o aumento previsto do salário mínimo. A resistência de Lula a reduzir os gastos do governo é o principal fator de desconfiança no mercado, com o agravante de que chegou à base da população, por sinais efetivos ou imaginários de que o governo pretende aumentar a arrecadação à custa dos assalariados e empreendedores, em vez de cortar despesas desnecessárias e/ou supérfluas para equilibrar as contas públicas.
Isso significa que o governo Lula entrará em colapso? Não, continua sendo a forma mais concentrada de poder e tem meios efetivos para manipular a economia no curto prazo, com medidas populistas. Mas a conta sempre chega salgada, não existe almoço grátis, como dizem os economistas liberais. Por isso, a conjuntura é complicada para Lula. A oposição está com sangue nos olhos e o momento não é dos melhores para negociar com aliados uma reforma ministerial.
Na última reunião com seus ministros, Lula avaliou que as eleições de 2026 já começaram e que precisará saber com quem poderá contar. Foi um erro pôr as coisas nesses termos agora, porque ninguém sabe o que pode acontecer até o próximo ano, sobretudo depois de Donald Trump assumir a Presidência dos Estados Unidos. No plano das incertezas também estão as relações de Lula com os novos presidentes da Câmara, provavelmente Hugo Motta (PR-PB), o candidato de Arthur Lira (PP-AL); e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que também presidirá o Congresso.
A propósito, Lira e Pacheco são players de uma eventual reforma ministerial, mas as bancadas do Centrão estão com o cacife mais alto do que Lula esperava antes da divulgação da pesquisa. Especula-se que o projeto de reforma ministerial de Lula seria trazer os caciques das legendas dos partidos para dentro do governo, entre os quais o presidente do PSD, Gilberto Kassab, o mais camaleônico articulador do cenário eleitoral de 2026. No momento, Lula não tem força para isso.
Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo
Dia 2 de março tem final de Copa do Mundo no domingo de Carnaval
23 de janeiro de 2025Fernanda Torres,TEMAS & DEBATES,TD-destaque,Lilia LustosaManchete-Home,Mais Notícias,Ainda estou aqui,Oscar 2025
Lilia Lustosa, crítica de cinema
É real! Brasil está nomeado ao Oscar 2025 em 3 categorias: Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz e Melhor Filme. Isso mesmo: Melhor Filme e ponto, concorrendo contra candidatos originários dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Canadá. Feito histórico para o nosso país, que, pela primeira vez, tem um longa-metragem no topo da premiação de maior prestígio nos Estados Unidos, quiçá no mundo.
E, por mais se diga que isso não importa, que prêmios não são o mais importante, que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana – The Academy – está há muito vendida e tantas outras falas que repetimos anualmente por estarmos sempre fora do palco, no fundo, no fundo, o que (quase) todo brasileiro sonha é em ver um filme nosso oscarizado. Sonha em escutar um discurso de agradecimento feito em nosso tão belo idioma ou, no mínimo, em um inglês com aquele charmoso sotaque brasileiro.
A festa verde e amarela tem então dia e hora marcados: 2 de março, às 20h (hora Brasília), em pleno domingo de Carnaval. Carnaval que terá jeitão de final de Copa do Mundo, com o país inteiro torcendo por Walter Salles, por Fernanda Torres, por Selton Mello, pelo cinema brasileiro e, mais que tudo, pelo Brasil.
Mas quais são nossas verdadeiras chances?
Muito honestamente, a chance de ganhar Melhor Filme é diminuta, já que estamos aqui em uma categoria com candidatos de peso, bancados pelas maiores empresas da indústria cinematográfica atual, como a A24, a Netflix, Amazon, Mubi, Universal e outras. Muita "gente grande” que investe milhões nessa disputa e que não quer ir para casa de mãos vazias. Porém, o fato de Ainda Estou Aqui ter sido indicado nessa categoria, pode nos ajudar a levar a estatueta de Melhor Filme Internacional, desbancando o Emilia Pérez, de Jacques Audiard, que também concorre na categoria principal. O longa do conceituado diretor francês é, aliás, o campeão de indicações, com treze no total, apesar da polêmica que vem causando na América Latina. Uma obra que tem seus senões, mas que tem também o seu valor, e muito valor. Mas isso é assunto para outro artigo.
Com relação à qualidade do nosso filme comparado aos demais internacionais, ou seja, analisando os quesitos “arte e ciência”, é difícil traçar aqui uma análise honesta sem ter assistido a todos os candidatos. Deles, só vi até agora Emilia Perez e A Semente do Figo Sagrado. Gostei muito de ambos, mas ainda acho que o prêmio pode vir para o Brasil, já que Walter Salles conseguiu em seu filme contar uma história que se conecta com pessoas de todo o mundo, fruto da sábia decisão de deixar o contexto da ditadura como o pano de fundo para exaltar a mulher Eunice Paiva. O foco são as dores e as transformações vividas por essa mãe de cinco filhos que, de uma hora para outra, se vê obrigada e arregaçar as mangas e tomar as rédeas da casa, da vida, da vida dos filhos, acumulando as funções de pai e mãe, em um período sombrio vivido por nosso país. Um filme que é, antes de tudo, uma história de uma guerreira que lutou no anonimato e que só agora surge em cena (para nós, claro) dando uma verdadeira lição de força, coragem, determinação e resiliência para o mundo.
Na categoria Melhor Atriz, são boas também as chances de Fernanda Torres. E olha que nessa, vi quase tudo, só me falta Wicked… A razão para esta afirmação é, em primeiro lugar, sua atuação espetacular, feita na medida do necessário, com tanto sendo dito com apenas um olhar, um gesto, uma fala em voz baixa… Em segundo lugar, pela campanha maravilhosa que vem sendo feita pela equipe do filme mundo afora, incluindo a Globoplay e a Sony. Lembrando aqui que cinema, sobretudo em Hollywood, é também – e mais do que tudo – business. O que exige uma bela estratégia de promoção se se quiser ter uma mínima chance de competir.
As maiores oponentes de Fernanda serão Demi Moore que, assim como a brasileira também levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz, só que na categoria Musical/Comédia, por Substância, um filme que, aliás, de comédia e de musical não tem nada. E Karla Sofia Gascón, primeira atriz trans a ser indicada ao prêmio, e que, aparecia quase sempre como a favorita em muitas enquetes, mas cuja campanha vem sofrendo um bocado desde que vazou para a imprensa que sua voz teria sido ajustada por Inteligência Artificial. Outro tema que vale um artigo!
Diante do exposto, e deixando ufanismos de lado, repito que Fernanda Torres tem muita chance de levar esse prêmio e, mais que tudo, ela MERECE o prêmio de Melhor Atriz de 2025, uma vez que sua atuação foi a mais brilhante da temporada, tendo sido capaz de expressar sentimentos diversos de uma pessoa “comum”, sem jamais recorrer ao exagero, ao piegas, ao melodrama. Uma atuação pontente, forte, justa e elegante, como a personagem que ela retrata tanto merece.
Em tempos escassos de ídolos e de celebrações em nosso país, Fernanda - Eunice virou a Pelé - Senna do Brasil e, certamente, vai alegrar o nosso domingo 2 de março.
Ainda estou aqui: Cineclube debate filme com três nomeações ao Oscar 2025
21 de janeiro de 2025Notícias,fap,BIBLIOTECA SALOMÃO MALINA,SM-destaque,cineclube,Biblioteca_destaques,posição_1Manchete-Home,Mais Notícias,cidadania 23,Ainda estou aqui
Comunicação FAP
Nomeado ao Oscar 2025 em três categorias, Ainda Estou Aqui será discutido na sessão online do cineclube Vladimir Carvalho, realizado pela Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), no Conic, região central de Brasília. A entidade é vinculada ao Cidadania 23.
O filme voltou a liderar a bilheteria nacional após ser indicado ao Oscar 2025. Na última semana, a produção de Walter Salles recebeu três indicações na premiação: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz (Fernanda Torres). A atriz venceu o Globo de Ouro e outros prêmios internacionais pela sua atuação.
Após o anúncio, o filme voltou para o topo do ranking dos filmes mais vistos no país. Em sua 12ª semana de exibição, "Ainda estou aqui" levou 216 mil pessoas ao cinema, somando uma bilheteria de R$ 5,3 milhões. O filme já arrecadou R$ 84,3 milhões desde sua estreia.
História do filme
No início da década de 1970, o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva - Rubens, Eunice e seus cinco filhos - vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. O filme foca na luta de Eunice após o desaparecimento do marido.
Assista ao trailer oficial
FAP participa de reunião do Observatório das Fundações Partidárias
20 de janeiro de 2025Notícias,EVENTOS FAP,fap,EF-destaque,posição_1,Manchete-HomeMais Notícias,fundações,cidadania 23,Observatório
Diretor-geral diz que encontro retoma relação das entidades com discussão de temas nacionais
Comunicação FAP
O diretor-geral da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), Marcelo Aguiar, e o diretor financeiro da entidade, Henrique Dau, participaram nesta segunda-feira (20/1) da reunião do Observatório das Fundações Partidárias, em São Paulo. Representantes de seis instituições discutiram o código civil e a relação das Fundações partidárias com o Ministério Público (MP) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as emendas parlamentares e suas consequências para as políticas públicas e a retomada da atuação do observatório.
“A reunião retomou a relação e a articulação das fundações e do observatório, além de fazer a discussão dos temas da pauta. A participação da FAP nos recoloca como membros do observatório e indica novos rumos para a nossa participação política, já sinalizada pela direção do Cidadania, no campo democrático de centro-esquerda”, afirmou Aguiar, logo após sair da reunião, realizada na sede da Fundação Perseu Abramo.
Representantes
Além dos dirigentes da FAP, que é vinculada ao Cidadania, estiveram presentes na reunião:
- Paulo Okamoto, presidente da Fundação Perseu Abramo (PT), e Alberto Cantalice, diretor da entidade;
- Alexandre Navarro, diretor vice-presidente da Fundação João Mangabeira (PSB);
- Antônio Henrique, presidente da Fundação Alberto Pasqualini (PDT);
- Leo Rosa, diretor administrativo e financeiro da Fundação Maurício Grabois (PcdoB);
- Tacius Fernandes, diretor presidente da Fundação Rede Brasil Sustentável (Rede).
Fotos: Divulgação/Fundação Perseu Abramo

Na questão fiscal, vale o que está escrito
14 de janeiro de 2025Notícias,brasil,lula,Política fiscal,POLÍTICA HOJEPH-destaque,posição_1,Mais Notícias
Lula não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo, porém se comprometeu com limites de gastos, arrecadação e endividamento do arcabouço fiscal
Luiz Carlos Azedo, coluna Nas Entrelinhas/Correio Braziliense
No mundo dos negócios, como nas relações pessoais, credibilidade é fundamental. Esse é o xis da questão quando se compara os indicadores positivos da economia, como o crescimento do PIB, a queda do desemprego, os aumentos da renda média e do salário real, com o ambiente de incerteza que tomou conta do mercado. O governo está diante de uma sinuca de bico: cortar os gastos públicos ou ver a inflação comer a renda de milhões de brasileiros, principalmente dos assalariados que saíram da faixa de pobreza e correm o risco de voltar.
Lula foi eleito com uma narrativa de campanha contra o teto de gastos, que foi substituído por novas regras e diretrizes para as finanças públicas. De comum acordo com o Congresso, deu o pulo do gato e evitou um colapso fiscal no final do mandato de Bolsonaro. Com isso, não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo. Entretanto, se comprometeu com os limites e as prioridades de gastos, arrecadação e endividamento nos anos subsequentes do arcabouço.
O objetivo principal do arcabouço fiscal negociado em 2023 era assegurar a sustentabilidade das contas públicas a longo prazo e, com isso, manter a confiança dos mercados, controlar a inflação e promover o crescimento econômico. Buscava-se equilibrar a necessidade de investimentos públicos com a responsabilidade de evitar deficits excessivos e crescimento descontrolado da dívida pública.
As novas regras estabeleceram que as despesas poderão crescer abaixo do ritmo das receitas, com limites claros, para evitar descontrole orçamentário. O arcabouço limita o crescimento da dívida pública em 70% da receita no limite de 2,5%. Entretanto, como ocorreu com o teto de gastos no governo Bolsonaro, a nova regra está sendo burlada pelo governo, com a anuência do Congresso, que é avesso a cortar gastos e, simultaneamente, a aumentar impostos. Sempre que preciso, retiram-se gastos do arcabouço fiscal, para “cumprir” a lei da responsabilidade fiscal sem cortar outras despesas como deveria. Precatórios, gastos com o combate às queimadas, socorro aos gaúchos durante as enchentes do Rio Grande do Sul, por exemplo.
Resultado: a inflação fechou 2024 em 4,83%, muito acima do centro da meta, 3%, e até do teto, de 4,5%. Em dezembro, ficou dentro do esperado, nos 0,52%, porém, como a meta é de 3% em 12 meses (com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo), os juros crescentes não foram suficientes para segurar os preços. Com a Selic nos 12,25% ao ano, 2025 começa com a inflação em alta.
A alta do dólar tem um papel relevante em tudo isso, com uma desvalorização do real em torno de 27%, o que deve repercutir na inflação dos próximos meses. A perda de confiança na política fiscal do governo impactou o câmbio e os juros futuros. Pode-se responsabilizar a especulação dos agentes financeiros, mas não foi só isso: a demanda de bens e serviços cresceu, a escassez de mão de obra jogou os salários para cima, a Petrobras segurou o preço dos combustíveis, os juros derrubaram o crédito, a inadimplência cresceu, o capital de giro ficou mais caro, a dívida pública cresce. Essa ciranda, segundo o Banco Central, fará com que a Selic chegue aos 14,25% em março, para conter uma explosão inflacionária.
Diante desse quadro, há três cenários. A otimista aposta numa recuperação acelerada, com crescimento de 2,5% a 3,5% do PIB, inflação controlada, investimentos estrangeiros, mais empregos na construção civil, serviços e tecnologia, ampliação do comércio exterior. O pessimista prevê crescimento abaixo de 1%, com recessão em setores na indústria e no comércio, inflação acima de 6%, instabilidade política, redução do nível de emprego, agravados por desaceleração da China e protecionismo nos Estados Unidos.
O cenário mais realista, porém, aponta para um crescimento entre 1,5% e 2,5%, impulsionado pelo agronegócio e pelas commodities; inflação entre 4% e 5%; ajustes fiscais e tributários parciais; manutenção dos atuais níveis de desigualdade; e novas oportunidades comerciais em razão da regionalização das cadeias globais de valor. O que poderia erradicar o pessimismo e transformar a avaliação mais realista no cenário positivo? Lula aceitar que as despesas do governo respeitem o arcabouço fiscal para recuperar a confiança no ambiente econômico.
Victor Missiato: Narrativas em movimento
13 de janeiro de 2025Notícias,fap,história,lula,Bolsonaroartigo,TEMAS & DEBATES,TD-destaque,Manchete-Home,Mais Notícias
Fenômeno favorece polarizações que ganham destaques em processos eleitorais, mas não se traduz em disputas por projetos políticos na esfera do poder
Victor Missiato, doutor em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professor do Instituto Presbiteriano Mackenzie e autor do livro Caminhos Invertidos: O Comunismo no Brasil e no Chile*
Junho de 2013 pode ser considerado um “acontecimento-monstro”, tomando como partida a proposta do historiador francês Pierre Nora, que visualizou, nos acontecimentos de maio de 1968, um retorno de uma determinada narrativa política. Ainda nessa perspectiva, outro historiador francês, François Dosse, revela que, como uma “Esfinge, o acontecimento é igualmente Fênix que, na realidade, nunca desaparece. Deixando múltiplos vestígios, volta constantemente com sua presença espectral, para brincar com acontecimentos subsequentes, provocando configurações sempre inéditas”.
As ressonâncias do que ocorreu há 12 anos no Brasil reverbera em seus espectros políticos, criando narrativas e disputas políticas que insistem em inviabilizar um projeto consensual de desenvolvimento nacional. As duas lideranças que compõem a representatividade dessas narrativas, Lula e Bolsonaro, quase nunca se utilizaram dos movimentos de junho de 2013 para legitimarem suas decisões. No entanto, face a face com esse acontecimento, a sociedade brasileira foi se polarizando cada vez mais, criando uma espécie de labirinto sem fim.
Em dois anos, STF responsabilizou 898 pessoas por atos antidemocráticos
Do estelionato eleitoral do governo Dilma, em 2015, ao impeachment chamado de golpe, em 2016, do discurso da vitória de Bolsonaro, que afirmava lutar contra o comunismo, até a vitória de Lula a fim de salvar a democracia, tudo isso foi abastecido por uma série de inverdades, as chamadas fakes news, que, de todas as partes e todos os lados, causaram e causam grandes confusões e brigas sem fundamento analítico, pois, no intuito de valorizar determinada posição, acaba-se por destruir qualquer tipo de argumento contrário.
O que vimos no último dia 8 de janeiro foi mais uma disputa de narrativas que enfraquece a capacidade de criar novos consensos mínimos em torno de um consenso sobreposto, que, segundo o filósofo John Rawls, torna-se possível “quando as doutrinas que constituem o consenso são aceitas pelos cidadãos politicamente ativos da sociedade e quando as exigências da justiça não conflitam por demais com os interesses essenciais dos cidadãos”. Desse modo, o uso de conceitos como terrorismo pouco explica para a sociedade o ato criminoso de vandalismo que cidadãos cometeram há dois anos.
Ao invés de serem julgadas por atos que outros movimentos sociais e políticos também causaram ao patrimônio público nacional, essas pessoas passaram a compor uma trama narrativa golpista que pouco possui verossimilidade para o imaginário social brasileiro. Portanto, se a justiça tem como um dos pilares a penalização como forma de coação, coerção e consciência social, a nova narrativa de que os ataques, repito, vândalos e criminosos, fazem parte de uma trama golpista não possui capilaridade capaz de estabelecer uma narrativa oficial ou socialmente legítima para a população brasileira.
Tais narrativas em movimento favorecem polarizações que ganham destaques em processos eleitorais, mas não se traduzem em disputas por projetos políticos na esfera do poder. O resultado dessas construções discursivas pouco eficazes se vê na crescente fragilidade do Poder Executivo em assumir seu papel em um regime presidencialista. Nesse jogo de soma zero, quem perde é o Brasil.
*Artigo produzido, exclusivamente, para publicação no site da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23.
** As opiniões e análises expressas em artigos publicados no site da FAP são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores. Portanto, não expressam, necessariamente, a opinião da instituição sobre o assunto.